Grace de Dean Anderson é uma curta-metragem britânica de ficção na qual uma jovem (Natasha Kendall) de dezassete anos de idade seduz e se deixa apaixonar por Darren (Robert Reina), um homem casado e mais velho do que ela.
Quando depois de um encontro ocasional ela se desloca a casa dele para (in)conscientemente o pressionar para uma relação que vá para lá do momento, Grace respeitar - mas não compreender - o que o levou àquele momento.
Grace é uma curta-metragem que aborda temática relativamente controversas. A primeira prende-se de imediato com a diferença de idades das duas personagens protagonistas sendo, uma delas, ainda de idade menor. Sendo uma relação tida com desejo pelas duas partes, Grace é para a protagonista o espelho de um amor sentido pela primeira vez. Um conforto tido junto de um homem mais velho que, para ela, poderá ser a confirmação de uma vida apaixonada, livre e desejada. No entanto, do lado oposto, é para ele como o espelho de um desafio. A excitação provocada pelo momento proibido capaz de nele despertar uma viagem pelo prazer já não sentido no seio da relação - ele é casado - que mantém. Para ele é também o experimentar de um momento exibicionista/voyeurista pelo local em que ambos se encontram e que lhe confere - no seu imaginário - uma certa validação enquanto homem másculo e capaz de provocar desejo e sensações noutra pessoa com menos de metade da sua idade.
A mesma relação é por "Grace" sentida como um sonho. O primeiro amor, os primeiros sentimentos, os primeiros desejos, o primeiro homem a quem se entregou e, em suma, a primeira vez que se sentiu como a mulher adulta em quem lentamente se transforma.
De um lado anónimo da barricada está "Erika" (Lucy Allenby), a mulher de "Darren" que, desconhecendo o que se passa, continua a viver uma existência pacata junto dos seus afazeres sentindo-se perfeita mas desconhecendo que o marido já não a encara com o mesmo desejo carnal e sexual que em tempos sentira. Para ele "Grace" mais não é do que um leve despertar para a juventude que já não tem.
O encontro entre "Erika" e "Grace" é para o espectador - e para a protagonista - um momento tenso. Desconhecemos se algo se irá passar entre as "duas mulheres" de "Darren", e se o desfecho desta história se prenda ora com a tragédia ou, por sua vez, com a confirmação de que algo ficou confirmado para a mulher "ignorante". A tensão agudiza-se com um anel de noivado, com a certeza de uma aparente vida perfeita que afinal... não o é. Confirma-se com a ideia de "Grace" de que existe uma vida que poderá ficar desfeita com factos (des)conhecidos e principalmente com os instantes finais em que uma recompensa pode ganhar contornos de um pagamento por um "serviço" prestado.
Dramaticamente intenso sem nunca esquecer um contorno de uma tranquilidade enervante, Grace é um filme sobre vidas vividas em segredo. Sobre segredos inconfessáveis que ocorrem a todo o instante e que confirmam que nem todas as aparentes alegrias afinal o são. Grace é ainda a certeza de que os contos de fadas já não existem e que por detrás de um sonho de perfeição existe uma vida de tragédia prestes a implodir.
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7 / 10
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