Os Quatro do Apocalipse de Lucio Fulci é um western spaghetti italiano que junta quatro criminosos em fuga no perigoso "oeste selvagem" norte-americano. O jogador Stubby Preston (Fabio Testi), a prostituta grávida Bunny O'Neill (Lynne Frederick), o alcoólico Clem (Michael J. Pollard) e o louco Bud (Harry Baird) são enviados para o interior desprotegido no oeste americano para não enfrentarem a morte na cidade em que estão detidos. Juntos embarcam nesta odisseia enfrentando os perigos que lhe estão inerentes e ainda a companhia de Chaco (Tomas Milian) que poderá não ser tão amistosa quanto parece.
Ennio De Concini e Lucio Fulci adaptam ao cinema as histórias de Bret Harte naquele que é uma das muitas obras do género western spaghetti - westerns filmados em Itália, muitos dos quais nos célebres estúdios da Cinecittà em Romma - onde o espectador encontra os eternos marginais de uma sociedade fora-da-lei que os transformará em potenciais redentoras de uma justiça por encontrar. Em I Quattro dell'Apocalisse a história confirma-se. Quando o espectador vê "Stubby Preston" chegar à cidade pressupõe que vamos encontrar mais um dos muitos que ali rumam para vigarizar o mais "inocente" dos fora-da-lei e ganhar uns quantos milagrosos dólares à conta. No entanto, aquilo que rapidamente percebe é que a cidade não está assim tão desprotegida quanto se poderia pensar, e existem aqueles que são mais espertos - não necessariamente inteligentes - do que aqueles que esperar lucrar com a ignorância dos "locais". Assim, chegamos a uma cidade onde o crime é, não recompensado, mas sim suplantado por um crime... ainda mais organizado.
Numa viagem pelas desérticas planícies dos Estados Unidos - que afinal mais não são do que em Itália -, acompanhamos assim os nossos quatro improváveis heróis numa tentativa de sobrevivência às agruras climatéricas e até à vontade de manter uma sanidade mental que parece desvanecer com o avançar do espaço, e ainda a uma sobrevivência a um perigo que se aproxima enquanto amigo mas que tem os seus próprios planos para os condicionar a um momento de desespero. A interpretação de Tomas Milian como o temido "Chaco" é provavelmente o imediato oposto ao "Stubby" de Fabio Testi. Se um surge como um ligeiro vigarista que acaba por encontrar a redenção não só com a sua viagem mas também com a convivência com os seus três novos e inesperados amigos, o vilão de Milian faz o percurso exactamente inverso na medida em que se apresenta como uma vantagem para a quadra perdida na planície mas que rapidamente se revela coma a sua maior e mais complicada provação que exalta os perigos e o verdadeiro crime para lá do crime recorrente nestas histórias.
A redenção dos quatro amigos, também uma característica neste sub-género, chega com o anunciado fim da sua viagem. Ou pelo menos um fim para alguns deles que ou não resistem à dita viagem ou nela encontram o repouso para uma nova vida (pelo menos assim o esperam) e com ela... uma nova oportunidade. Redenção essa que, no entanto, não chega sem a própria vingança que lhe é prometida e, no fundo, este não seria um western spaghetti - ou qualquer tipo de western na realidade - se a vingança não fizesse parte desta história. Ela é, afinal, o clímax de todos estes contos que revelam um pouco da (i)moralidade da época e da consciencialização que algumas das suas mais improváveis personagens acabam por reflectir. Essa mesma consciencialização que chega sob duas formas... A primeira com um nascimento (que surge da morte) que acaba por denotar toda uma nova vida física e geográfica (dado o local em que acontece) e, a segunda, por marcar também um ponto de viragem num sobrevivente através da vingança que vê confirmada para com o seu grupo de amigos nem todos resistentes da mesma viagem que era, digamos, improvável. No fundo, quem conseguiria resistir a tanto?!
Fiel ao espírito, com interpretações coerentes e marcantes dentro do estilo de onde exaltam o anti-herói - Testi - e o vilão - Milian - I Quattro dell'Apocalisse revela o seu drama (social), algum humor incutido pelas personagens interpretadas por Pollard e Baird, a história de sobrevivência pelo "velho Oeste" que é, ao mesmo tempo, ainda conquistado pelas inúmeras vagas de emigrantes mais ou menos fundamentalistas que "inundavam" o país e isto sem esquecer, pelo meio, o romance e alguma feminilidade que surgem através de Frederick mantendo todo um espírito de western norte-americano... falado em italiano naquilo que podemos confirmar ser bom entretenimento durante pouco mais de hora e meia. E, para os mais atentos, é ainda conferida a possibilidade de ver alguns dos pequenos erros cinematográficos que passam e imortalizam todo um género pela sua simplicidade e ingenuidade que conferem a estas obras um estatuto de culto que lhes é incontornável.
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