domingo, 6 de dezembro de 2015

Mother and Brother (2015)

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Mother & Brother de Dustin Cook é uma curta-metragem norte-americana que relata a história de dois irmãos vítimas de uma relação abusiva por parte da sua mãe (Lisa Goodman), agora em estado terminal de uma doença.
Quando o irmão mais novo (Clint Napier) chega à casa em que vive a mãe e o irmão mais velho (Laurence Fuller), as notícias do seu futuro casamento no México não deixam grande furor dentro daquela casa. Ali, os dois irmãos e a mãe vivem um misto de desdém e ressentimento que os aprisionou àquele espaço e condicionou a uma vida de mágoa e solidão.
Dustin Cook, que também escreve o argumento de Mother & Brother, cria uma história que poderia ser a imagem de uma família dedicada e cúmplice mas que, por sua vez, se centra no outro lado da relação familiar... Um lado de dependência, obrigação, sofrimento, solidão e mágoa que lentamente foi colhendo a esperança dos dois jovens irmãos vítimas de uma mãe abusiva e que nunca desejou o sucesso dos seus filhos.
Mother & Brother é uma história que prende o espectador aos escuros e sombrios meandros de uma família através do olhar - apenas perceptível mais tarde na sua narrativa - de um irmão que conseguiu libertar-se de uma amarra doméstica que apenas o condicionaria a médio e longo prazo. Esta curta-metragem é assim a história desta família pelo olhar do irmão mais novo (Napier) que sente na transmissão da notícia do seu casamento, o momento ideal para a libertação psicológica do irmão mais velho (Fuller) que de tudo abdicou em nome da sua prosperidade social e intelectual, ficando para trás e cuidando de uma mãe frívola, mesquinha e repleta de um ressentimento para com os dois filhos que viu nascer.
Se a relação entre os dois irmãos parece tensa num primeiro instante, o espectador cedo percebe que aquilo que os separa é, no entanto, uma dedicação extrema por parte do mais velho e um agradecimento silencioso por parte do mais jovem que partiu sem olhar para aquilo que deixou nas suas costas. O ressentimento é inexistente na interacção entre os dois irmãos mas, ao mesmo tempo, olham-se como o passado e o futuro de uma mesma (fictícia) pessoa, encarando-se como aquilo que poderiam ser se os seus papéis tivessem sido invertidos algures no tempo. Por sua vez a mãe, ainda que doente e perto do seu próprio fim, personifica todo o ressentimento para com dois filhos que, segundo ela, nunca gostaram dela - revertendo portanto o sentimento que sente para com eles - e desdenhando tudo aquilo que o mais velho poderia ter sido... não o sendo. No fundo, esta mãe ridiculariza as aspirações de um filho que poderia ter visto e conquistado o mundo - à sua maneira - deixando-o perdido em sonhos que esqueceu - se é que alguma vez os teve - e com a percepção (para ela) de que o único lugar onde poderia ou merece estar é naquela casa... naquele quarto... a tratar dele... por nada mais merecer ou poder desejar.
No entanto, a maior transformação - ou revelação - de Mother & Brother chega sim mas pelas mãos - literalmente - do irmão mais novo. Aquele que sente que a sua vida e liberdade chegaram pelo sacrifício máximo do mais velho que, sem cuidar dele, lhe conferiu a possibilidade de se transformar no homem que é com sonhos, esperanças, a possibilidade de uma família e de simplesmente viver. É através da personagem interpretada por Clint Napier que o espectador fica a saber que ele está disposto a sacrificar-se - parcialmente e pelo menos no que a valores diz respeito - para dar agora uma oportunidade ao seu irmão que foi (na sombra) a figura parental/maternal que nunca teve. Aquele que lhe permitiu seguir o seu próprio caminho e pelo qual agora tem de cometer um acto supremo conferindo-lhe pelo menos uma parcela de todas as oportunidades que tivera no seu passado. É então este novo fardo - desconhecido até então - que este jovem aceita suportar e libertar a vida do seu irmão para um eventual e mais promissor futuro.
Num jogo que oscila entre a dependência, a culpa e um estranho sentimento de obrigação moral, onde esta não existe, Mother & Brother confirma-se como uma história onde existe mágoa mas não quaisquer finais felizes... apenas finais onde reina uma sórdida dependência firmada com o sangue, sendo este, uma inconsciente auto-mentalização de que os laços maternais foram firmados e, como tal, têm de ser respeitados e cumpridos... até à morte.
Com três intensas interpretações estando cada uma delas num espaço temporal distinto... Lisa Goodman como a encarnação de um(a obrigação) passado, Laurence Fuller como um presente não vivido e Clint Napier como um futuro com esperança, Mother & Brother transpira desde o primeiro instante momentos de dura abnegação, de uma culpa sem limites mas que, ao mesmo tempo, esperam por uma esperança sem redenção.
Destaque ainda para a direcção de fotografia de Todd Bell que transporta todo uma imaginário pesado e carregado de culpa para o interior daquelas divisões onde parece não ter chegado o sol (esperança), deixando - no entanto - navegar por todos aqueles compartimentos as sombras de uma culpa, de uma doença e de uma morte que tanto restringem como libertam... não anunciando quando cada um se manifesta.
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8 / 10
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