El Mercadillo de Pedro Herrero García é uma curta-metragem de ficção espanhola presente na secção Social da oitava edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que amanhã termina na Cantábria, em Espanha.
Esta curta-metragem apresenta-nos duas mulheres já de idade avançada que em amena conversa se dirigem ao mercado. Mas este não é um dia qualquer e, para lhes fazer companhia, levam uma outra mulher bem mais jovem que, no entanto, não parece muito motivada para esta viagem.
Naquela que já poderá ser uma corrente cinematográfica do cinema espanhol dedicada quase exclusivamente à temática da crise - nunca em tão pouco tempo havia visionado uma quantidade tão grande de filmes curtos que se dedicassem com veemência a esta temática - El Mercadillo poderia ser facilmente considerado como "mais um" do género. No entanto, aquilo que aqui observamos não é uma obra qualquer. Herrero García não se centra nas pequenas grandes histórias motivacionais sobre a crise e o drama dos despejados ou tão pouco sobre alguém que perdeu o emprego e tem, agora, de encarar a sua vida sobre toda uma nova perspectiva. Não... Aqui o espectador observa outra realidade.
Longe dos despejos... longe da perda de trabalho e até mesmo longe dos dramas familiares que rodeiam todas estas temáticas, o realizador aqui leva o espectador àquilo que vulgarmente qualquer um de nós poderia apelidar como os efeitos ou as consequências de uma vida que se desmoronou lentamente e que agora se vê obrigada - a mulher mais jovem - a recorrer àquilo que nunca imaginou.
El Mercadillo não é sobre a dificuldade em efectuar as compras mensais... ou tão pouco sobre a falta de dinheiro. Aqui aquilo que observamos é quando esse já não existe e a fome aperta... Quando tudo o que resta é tentar as sobras indesejadas por aqueles que ainda conseguem (sobre)viver sem recorrer ao que é deitado fora como indesejado. Uma história sobre a situação limite de tantas e tantas pessoas que têm de se contentar com uma repetida refeição diária feita com tudo aquilo que, nos mercados, foi considerado lixo estando, no entanto, ainda em perfeitas condições de consumo.
No fundo, aquilo que El Mercadillo questiona - ou leva o espectador a questionar - é sobre o que sobre de "nós" quando recorremos a essas "sobras". Como nos definimos quando tudo o demais foi tentado e, sem sucesso, nos levou àquela condição limite de recorrer ao desperdício... ou "lixo"... que, uma vez esquecido e deitado fora, servirá agora de alimento àqueles que nada mais têm... Que sociedade é esta onde em vez de partilhar prefere desperdiçar e, apenas então, considerar "bom" para aqueles que nada têm...
Simples (ou talvez não), El Mercadillo cedo se apresenta como uma história sobre duas (ou três) amigas que falam de banalidades, da telenovela do dia anterior ou até mesmo sobre as dificuldades da vida sem que, no entanto, se assumam como "membros" desse clube não tão exclusivo que aumenta todos os dias. Mas, no final, aquilo que o espectador retém é uma história sobre a sobrevivência... sobre o ultrapassar vergonhas e embaraços últimos que têm de ser esquecidos em nome de uma possibilidade de observar um dia... um dia mais... o dia seguinte... Aquele em que - talvez - se possa voltar a uma condição não necessariamente mais nobre mas, pelo menos, uma em que o seu sustento não seja fundamentado com aquilo que os outros consideram como o "lixo" que fica para aqueles que pouco ou nada têm.
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8 / 10
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