Jacinta de Jorge Paixão da Costa é uma longa-metragem portuguesa já estreada em televisão enquanto mini-série de dois episódios que relata os acontecimentos que envolveram os três pastorinhos Jacinta (Matilde Serrão), Lúcia (Renata Belo) e Francisco (Henrique Mello) aquando das aparições de Fátima em 1917.
No Portugal rural da segunda década do século XX, três crianças afirmam ter visto a Nossa Senhora no campo vendo-se automaticamente envolvidas em suspeitas não só pela população local como também por parte das autoridades receosas de uma sublevação num país afectado pela miséria e pela Primeira Guerra Mundial.
Manuel Arouca e Raquel Palermo pegam nas origens do fenómeno do culto à Nossa Senhora, em Fátima, para escreverem o argumento deste Jacinta - longa-metragem e mini-série - baseado na vida de uma dos três pastorinhos. "Jacinta" - aqui interpretada pela jovem Matilde Serrão -, que não sobreviveria muito anos à primeira aparição era, tal como toda a população da qual vivia perto, uma criança de campo, afectada pela miséria extrema que o interior do país sentia durante toda a Primeira República, com as perdas humanas da Primeira Guerra Mundial mas, sobretudo, por uma invulgar rebeldia face aos costumes a que todos eram condenados nesta sociedade onde a Igreja persistia a manter uma quase persecutória ordem.
No entanto, e ainda que os destinos das três crianças sejam aqui os mais explorados - em especial os de "Jacinta" uma vez que foi uma das duas crianças que faleceu quase de imediato, aquilo que esta longa-metragem mais insiste em fazer notar é a instabilidade social e política dos tempos pré-ditadura de Salazar. Portugal vivia para lá de uma crise de confiança explorada por uma Igreja Católica - a única organização que se mantinha de pedra e cal ao longo dos tempos - que se mantinha fiel aos seus princípios de outros tempos, por uma total e completa crise social não só alastrada pela presença do país numa guerra internacional em que se tinha envolvido não só pela segurança das suas colónias ultramarinas como também pela vontade de um reconhecimento internacional que tardava em chegar desde a queda da Monarquia, como também pela instabilidade política interna que se fazia sentir pelos sucessivos governos nacionais que não resistiam a um país ainda social e economicamente pauperizado pelas mesmas. Tendo estes factores em mente, pergunta-se o espectador como poderiam três crianças desafiar um regime que certamente ou quereria aproveitar-se das suas histórias ou afastá-los dos olhares da população desacreditando as mesmas... Num momento histórico em que qualquer rumor soa a desafio de autoridade, os três jovens que mantinham a sua história sobre um fenómenos religioso numa sociedade que insistia em distanciar-se da Igreja, foram imediatamente vistos como potenciais inimigos de um Estado que se tentava afirmar.
No final de Jacinta é esta contextualização histórica que domina os momentos mas interessantes e potencialmente carismáticos de uma longa-metragem que se perde pela falta de credibilidade da sucessão de imagens mantendo-se quase sempre como um ensaio já conhecido de uma história que não foi - até à data - explorada com rigor e empenho mantendo-se sempre pela vertente mais religiosa do conto e pouco pela condição social em que o país se encontrava. No fundo, esta história acaba por se tornar como numa inesperada viagem à Lua... contam-nos que já lá estiveram uma vez... mas desde então nunca ninguém ousou lá regressar como qualidade. Se a dinamização artística de Jacinta até consegue convencer o espectador pela sua notória qualidade, é também real que para lá do guarda-roupa, direcção artística e mesmo caracterização, Jacinta torna-se num daqueles registos cinematográficos - que de cinema pouco tem - que todos acabamos por adorar odiar... Não permitindo uma devida exploração das suas personagens - pouco conhecemos dos referidos três pastorinhos ou mesmo das suas famílias para lá de que todos eram "gente do campo" -, Jacinta perde-se numa tentativa de viagem espiritual que, também ela, desmotiva pela pouca complexidade que lhe é atribuída... Se por um lado o espectador até demonstra curiosidade e uma certa expectativa nas revelações que uma jovem criança pode contar sobre o seu "encontro" com uma entidade divina, não deixa também de ser verdade que o mesmo se questiona sobre a compreensão que uma tão jovem criança poderia atribuir ao referido encontro e até que ponto o saberia traduzir face ao momento social e político que o país sentia.
Ainda que Jacinta tenha no seu elenco um conjunto de notáveis actores entre os quais se destacam Dalila Carmo, Rita Salema, Pedro Lamares, Paula Lobo Antunes, Graciano Dias, Almeno Gonçalves ou FIlipe Vargas, os mesmo mantêm-se aqui como meros "acessórios" numa história em que uma simpática mas pouco preparada Matilde Serrão tenta dominar e criar empatia com um público que cedo se cansa de tentar interpretar os misteriosos desígnios desta história ou, pelo menos, aqueles que o realizador lhe tenta incutir. Se as aparições existem... porque motivo nunca são melhores exploradas - acredite-se nelas ou não! - ou, se a tentativa é explorar a situação social do país, porque não se lhe conferir mais ímpeto dramático... ou ainda, se a vontade é explorar a vida e a acção dos três jovens, porque motivo não se centra a história mais no seu contributo (não voluntário) e, de entre eles, porque motivo se concentra toda uma longa-metragem no comportamento apenas de uma (ainda que a única que supostamente escutou a mensagem de Nossa Senhora!)?
Assim, se Jacinta se torna exemplar na concepção artística do espaço e do tempo - quão atrasado era de facto Portugal fora da grande cidade de Lisboa - mantendo uma qualidade técnica evidente, é também certo que esta longa-metragem (ou mini-série) se mantém francamente distante daquilo que se poderia considerar uma marcante longa-metragem e ainda mais do esperado filme de época que se propõe ser.
Manuel Arouca e Raquel Palermo pegam nas origens do fenómeno do culto à Nossa Senhora, em Fátima, para escreverem o argumento deste Jacinta - longa-metragem e mini-série - baseado na vida de uma dos três pastorinhos. "Jacinta" - aqui interpretada pela jovem Matilde Serrão -, que não sobreviveria muito anos à primeira aparição era, tal como toda a população da qual vivia perto, uma criança de campo, afectada pela miséria extrema que o interior do país sentia durante toda a Primeira República, com as perdas humanas da Primeira Guerra Mundial mas, sobretudo, por uma invulgar rebeldia face aos costumes a que todos eram condenados nesta sociedade onde a Igreja persistia a manter uma quase persecutória ordem.
No entanto, e ainda que os destinos das três crianças sejam aqui os mais explorados - em especial os de "Jacinta" uma vez que foi uma das duas crianças que faleceu quase de imediato, aquilo que esta longa-metragem mais insiste em fazer notar é a instabilidade social e política dos tempos pré-ditadura de Salazar. Portugal vivia para lá de uma crise de confiança explorada por uma Igreja Católica - a única organização que se mantinha de pedra e cal ao longo dos tempos - que se mantinha fiel aos seus princípios de outros tempos, por uma total e completa crise social não só alastrada pela presença do país numa guerra internacional em que se tinha envolvido não só pela segurança das suas colónias ultramarinas como também pela vontade de um reconhecimento internacional que tardava em chegar desde a queda da Monarquia, como também pela instabilidade política interna que se fazia sentir pelos sucessivos governos nacionais que não resistiam a um país ainda social e economicamente pauperizado pelas mesmas. Tendo estes factores em mente, pergunta-se o espectador como poderiam três crianças desafiar um regime que certamente ou quereria aproveitar-se das suas histórias ou afastá-los dos olhares da população desacreditando as mesmas... Num momento histórico em que qualquer rumor soa a desafio de autoridade, os três jovens que mantinham a sua história sobre um fenómenos religioso numa sociedade que insistia em distanciar-se da Igreja, foram imediatamente vistos como potenciais inimigos de um Estado que se tentava afirmar.
No final de Jacinta é esta contextualização histórica que domina os momentos mas interessantes e potencialmente carismáticos de uma longa-metragem que se perde pela falta de credibilidade da sucessão de imagens mantendo-se quase sempre como um ensaio já conhecido de uma história que não foi - até à data - explorada com rigor e empenho mantendo-se sempre pela vertente mais religiosa do conto e pouco pela condição social em que o país se encontrava. No fundo, esta história acaba por se tornar como numa inesperada viagem à Lua... contam-nos que já lá estiveram uma vez... mas desde então nunca ninguém ousou lá regressar como qualidade. Se a dinamização artística de Jacinta até consegue convencer o espectador pela sua notória qualidade, é também real que para lá do guarda-roupa, direcção artística e mesmo caracterização, Jacinta torna-se num daqueles registos cinematográficos - que de cinema pouco tem - que todos acabamos por adorar odiar... Não permitindo uma devida exploração das suas personagens - pouco conhecemos dos referidos três pastorinhos ou mesmo das suas famílias para lá de que todos eram "gente do campo" -, Jacinta perde-se numa tentativa de viagem espiritual que, também ela, desmotiva pela pouca complexidade que lhe é atribuída... Se por um lado o espectador até demonstra curiosidade e uma certa expectativa nas revelações que uma jovem criança pode contar sobre o seu "encontro" com uma entidade divina, não deixa também de ser verdade que o mesmo se questiona sobre a compreensão que uma tão jovem criança poderia atribuir ao referido encontro e até que ponto o saberia traduzir face ao momento social e político que o país sentia.
Ainda que Jacinta tenha no seu elenco um conjunto de notáveis actores entre os quais se destacam Dalila Carmo, Rita Salema, Pedro Lamares, Paula Lobo Antunes, Graciano Dias, Almeno Gonçalves ou FIlipe Vargas, os mesmo mantêm-se aqui como meros "acessórios" numa história em que uma simpática mas pouco preparada Matilde Serrão tenta dominar e criar empatia com um público que cedo se cansa de tentar interpretar os misteriosos desígnios desta história ou, pelo menos, aqueles que o realizador lhe tenta incutir. Se as aparições existem... porque motivo nunca são melhores exploradas - acredite-se nelas ou não! - ou, se a tentativa é explorar a situação social do país, porque não se lhe conferir mais ímpeto dramático... ou ainda, se a vontade é explorar a vida e a acção dos três jovens, porque motivo não se centra a história mais no seu contributo (não voluntário) e, de entre eles, porque motivo se concentra toda uma longa-metragem no comportamento apenas de uma (ainda que a única que supostamente escutou a mensagem de Nossa Senhora!)?
Assim, se Jacinta se torna exemplar na concepção artística do espaço e do tempo - quão atrasado era de facto Portugal fora da grande cidade de Lisboa - mantendo uma qualidade técnica evidente, é também certo que esta longa-metragem (ou mini-série) se mantém francamente distante daquilo que se poderia considerar uma marcante longa-metragem e ainda mais do esperado filme de época que se propõe ser.
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