segunda-feira, 18 de julho de 2011

Strange Days (1995)

.
Estranhos Prazeres de Kathryn Bigelow reune um muito interessante elenco onde se destacam os nomes de Ralph Fiennes, Angela Bassett, Juliette Lewis, Tom Sizemore, Vincent D'Onofrio e Michael Wincott.
Toda a história gira em torno de Lenny Nero (Fiennes) um ex-polícia que agora ganha a vida a vender memórias e emoções gravadas àqueles que querem vivenciar experiências "fora do normal".
O que aconteceria então se no meio dessas memórias gravadas se encontrasse um crime que poderia abalar as fundações de uma Los Angeles dominada por vários gangs rivais num final de século e de milénio onde todas as emoções e loucuras estão à flor da pele?
Resultado... no meio desta premissa temos várias histórias paralelas que decorrem a um ritmo alucinante tendo todas elas como elemento unificador a Nenny Nero. A primeira delas prende-se inevitavelmente com o facto de decorrer no dia anterior à mudança de ano, século e milénio e os medos e anseios que esta mudança gerava até à sua real concretização. Iria o mundo de facto acabar? Iria existir uma nova ordem mundial? O que esperar na realidade? Tudo era basicamente uma incerteza.
A segunda história prende-se com o homicídio cometido por dois polícias corruptos que irá incendiar grande parte dos ânimos e das tensões raciais existentes na mais conturbada das cidades norte-americanas e que servirá também de elemento catalizador de todos os medos de uma revolta entre os elementos fragilizados das cidade e a alta classe corrupta e insensível aos problemas alheios.
Finalmente temos a terceira e última história que se prende com o amor. O amor de Mace (Bassett) por Lenny e o deste por Faith (Lewis). Nenhum deles correspondido mas apenas um sentido e genuíno que irá, por sua vez, ser abafado pelas circunstâncias e por uma obsessão sem limites que parece não ter fim.
Este filme que, há altura, foi o principal motivo por não ter visto o Casino no cinema tornou-se numa interessante e muito agradável surpresa que guardo ainda hoje. Não só pelo facto de ter um conjunto notável de actores que na sua generalidade aprecio como por no seu campo futurista acaba por constituir hoje uma realidade bastante presente. Muito do "ambiente" recriado nesse ido ano de 1995 está hoje presente e até a caminho de ser ultrapassado pelo menos no que a tecnologias diz respeito.
As interpretações destes actores estão igualmente a um nível que me agrada bastante. Tanto Ralph Fiennes como Angela Bassett descolam-se do seu habitual. Fiennes ao fugir ao seu clássico desempenho em filme de época passando aqui a ser um inconformado com o abandono que se desleixa em tudo na vida, torna-se num anti-herói de acção pouco habitual. Bassett, por sua vez, despe-se do corpo de Tina para passar a ser uma mulher dura e amargurada que vive um amor não confessado.
Esta dupla funciona de tal forma bem que desde cedo percebemos que a química existente entre ambos só pode, a seu tempo, resultar no desfecho que todos nós pretendemos. Só não imaginamos é que vai custar e bem até lá chegar.
Os demais actores cumprem igualmente e bem o seu propósito. Juliette Lewis como a chunga habitual e um Tom Sizemore e um Michael Wincott que dão novamente vida aos vilões de serviço de tal forma bem executados que nos dá realmente asco de os ver quando aparecem em cena. O mesmo se aplica a Vincent D'Onofrio que quase se especializou no género e que aqui não só é vilão como o interpreta de uma forma perfeitamente alucinante e paranóica que nos faz realmente pensar o perigo que seria encontrar alguém assim.
De destaque está ainda a banda-sonora da autoria de Graeme Revell funcional em todas as frentes em que ora temos sonoridades melodiosas e saudosistas de um passado sentido e vivido como temos nos instantes seguintes ritmos perfeitamente alucinantes muito característicos de um final de ano numa cidade à beira de tumultos e da decadência.
De referir que os segmentos finais são filmados muito ao estilo de Bigelow e que se analisarmos a filmografia da realizadora facilmente percebemos as semelhanças entre os seus filmes. Aqui não só temos a loucura de um final de ano como os elementos perfeitos para dar alma a uma revolução prestes a eclodir. Ninguém melhor que esta realizadora para dar vida à sensação pretendida e fazê-lo como um profissionalismo grande ao ponto de não se tornar um simples e banal momento de acção. Até porque o final pretendido não o quer assim...
Acção sim... drama algum... mas sobretudo uma visão futurista dos anos que estariam para vir que reflete sobre a questão da privacidade, ou da ausência dela, e do quão banais e frívolas podem ser recordações do passado que na mente de muitos acabam, de certa forma, por desaparecer.
.
.
"Lenny Nero: Look... everyone needs to take a walk to the dark end of the street sometimes, it's what we are."
.
10 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário