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Sob o Sol da Toscana de Audrey Wells é uma extraordinária comédia romântica e dramática com Diane Lane como protagonista num papel que lhe valeu a nomeação ao Globo de Ouro de Melhor Actriz Comédia.
Tudo começa quando Frances (Lane) descobre que o seu marido a estava a enganar com outra mulher. Toda a sua perfeita existência até então é abalada especialmente quando esta traição resulta num penoso processo de divórcio onde Frances perde praticamente todos os seus bens em particular a sua casa.
Patti (Sandra Oh) sua eterna amiga oferece-lhe uma viagem a Itália, mais concretamente pela Toscana, onde espera que Frances recupere sentimentalmente, que volte a escrever e, quem sabe, volte a encontrar a pessoa que a irá fazer feliz.
Mal se sabia que esta viagem iria não só transformar a sua vida sentimental como, mais importante que isso, a iria recuperar enquanto ser humano e indivíduo que perdeu toda a sua vida.
Esta pequena e muito breve descrição que faço é muito pouco para tudo aquilo que, bem visto, este filme consegue ser e representar. Assumo desde já que normalmente as comédias românticas ou aquele tipo de filmes onde a sua personagem principal parte rumo ao desconhecido numa qualquer vã tentativa de encontrar o seu lugar e o seu "eu", não são de todo o tipo de filme que me consegue motivar sequer a ter por eles qualquer tipo de simpatia.
Aqui, no entanto, o que conseguiu jogar a favor deste filme foi, sem qualquer tipo de reservas, a simpatia que tenho pela Diane Lane desde os dois primeiros filmes que vi dela: Estrada de Fogo e Os Marginais. Aquele ar simpático e quase ingénuo que Lane mostrava no início dos seus vinte anos de idade conseguia derreter o coração de qualquer um. Depois de um longe e quase tenebroso período na sua carreira é uma lufada de ar fresco ver vários filmes onde dá de novo com toda a sua graça, o melhor que tem de si.
Se há filmes que têm uma alma, e muitos têm-na com toda a certeza, neste Lane é seguramente o espírito condutor. É através dela, e apenas dela, que sentimos toda a energia (ou falta dela) que uma alma magoada e ferida sentem.
Como se isto não bastasse, este filme consegue fugir ao tradicional neste género onde a pessoa magoada parte e quando chega encontra logo a sua outra "metade" com quem, apesar das atribulações, acaba por ficar no final. Aqui, bem pelo contrário, por muito que possa parecer estar a dar certo... não dá. Vamos assistindo a todo um percurso por onde Frances (Lane) passa. O primeiro conhecimento da vila, o conhecer algumas pessoas que vão definitivamente marcar a sua própria personalidade e de quem irá receber provas de amizade e conselhos, os amigos que se formam, a família que nasce e finalmente sim, bem lá no final, surge então a sua cara metade. Quando nós próprios enquanto espectadores já não esperávamos que fosse acontecer... acontece. Pelo meio temos tudo aquilo que a sua personagem pediu... alguém para quem cozinhar (os funcionários e amigos que formou), uma família (os novos amigos e Patti com o seu recém nascido bébé) e um casamento (de um dos seus funcionários). A tudo... TUDO... assistiu aquela casa. Casa esta que também ela acaba por celebrar Frances como a sua legítima nova dona quando, também lá no final, a torneira que ficara aberta começa finalmente, depois de anos e anos de seca, a jorrar água como se abençoasse a sua nova moradora.
O mesmo acontece num dos mais memoráveis momentos do filme quando um extraordinário Mario Monicelli, saúda Frances quando esta está à janela já sem esperança que ele lhe dê qualquer tipo de sinal, após inúmeras tentativas de ter uma reacção daquele homem.
Sim, um sinal. Tantos e tantos de que este filme é feito que se não prestarmos bem atenção acabamos por deixar, infelizmente, passar alguns. Sinais que mostram que estamos num bom caminho rumo ao tal lugar onde pretendemos realmente estar e chamá-lo de casa. Melhor... chamá-lo de lar. O tal lugar onde percebemos realmente pertencer. Não é isso que todos nós procuramos? Independentemente de se sentir isso através do rumo que a vida leva, e de o admitirmos ou não, este filme tem essa extraordinária qualidade de nos fazer mostrar o quão facilmente se adapta a uma ou outra (ou várias) situações da vida de cada um. É aí que, mesmo tendo um ou outro cliché (totalmente aceitáveis quando bem feitos), reside a beleza deste, por vezes cómico por vezes comovente, filme.
E sim, sinais... talvez o maior seja o próprio nome da casa... Bramasole... "Bramare" (ansiar por) "Sole" (sol). Ansiar pelo sol sendo este o símbolo da vida. Ansiar por uma vida. É isso que devemos todos reter desta brilhante, comovente e emocionante história.
E mais... não digo. Revelar mais aspectos deste filme seria contá-lo do princípio ao final, e o meu objectivo é que o vejam e o sintam. Que o apreciem. Este é daqueles que ficará por muitos e muitos anos.
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"Frances: What is it about love that makes us so stupid?"
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10 / 10
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