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Munique de Steven Spielberg realizou este filme que conta a história do que se passou a seguir ao atentado terrorista de 1972 durante os Jogos Olímpicos de Munique onde um grupo denominado Setembro Negro executou vários atletas israelitas.
Avner (Eric Bana) é contratado pela elite política e militar de Israel para encontrar e executar os homens que encabeçaram o ataque terrorista em Munique. Para tal terá de esconder e esquecer o seu lado humano, afastar-se dos seus hábitos e principalmente da sua família.
Sem laços e sem ligações a sua vida agora anónima e que tem como único objectivo caçar e matar perigosos criminosos, Avner passa a ter uma vida que entra em claro confronto com a sua própria consciência. De ambos qual irá então prevalecer?
Este entrondoso filme de Steven Spielberg, mais um deste mestre que alia interessantes histórias e bom entretenimento falhou em apenas uma frente. O facto de ter sido lançado nos Estados Unidos praticamente no final do ano onde muitos êxitos já enchiam as salas de cinema fê-lo passar um tanto ou quanto despercebido e ao lado das atenções de que deveria ter sido alvo apesar das cinco nomeações aos Oscar que teve nas categorias principais.
As interpretações estão como seriam de esperar de um filme de Spielberg que sabe a cada filme que faz ser certeiro em cada actor que escolhe. Eric Bana, que aqui tem a sua primeira grande interpretação e que teria sido digna de uma nomeação ao prémio máximo do cinema mundial, é Avner. O homem que de uma reputada carreira como agente da lei e um percurso militar notável, é recrutado pela elite política e militar israelita para encabeçar a mais arriscada e secreta missão da época. Bana é perfeito ao interpretar este homem que vive uma dualidade que lhe corrói não só o seu físico como principalmente a sua moral. A ideia de "como ser capaz" está todos os dias e a todos os momentos presente na sua mente e é apenas afastada com as imagens que lhe correm sobre como terão sofrido os seus compatriotas nas mãos de terroristas que afectaram de forma inegável os dias do mais pacífico encontro desportivo do mundo.
Momentos estes que, há que referir, são magistralmente recriados ao mesmo tempo que são inseridos no filme pequenos segmentos de imagem real e documentário da época mostrando (mais uma vez) que Spielberg é mestre no cinema que nos dá.
Mas não é só com Eric Bana que este filme se distingue no que a interpretações diz respeito. A acompanhar este actor temos um verdadeiro leque de reputados nomes onde se destacam os seus companheiros de missão Daniel Craig, Ciáran Hinds e Mathieu Kassovitz. Todos eles mostram igualmente através de pequenos diálogos ou recordações, as suas vidas pacíficas antes de embarcarem neste missão e como ela os marca de uma forma irreversível transformando assim para sempre a sua própria forma de encarar o mundo cada vez mais violento em que vivem.
Há ainda que referir o mais vasto leque de secundários onde se destacam Geoffrey Rush como Ephraim, o homem que acompanha todo o percurso de Avner ou Michael Lonsdale e Mathieu Amalric que encontram os homens que este solitário grupo procura. Ou ainda Marie-Josée Croze, Valeria Bruni Tedeschi, Ayelet Zurer ou Moritz Bleibtreu em desempenhos secundários mas não menos importantes que todos os outros para que a trama deste filme ficasse perfeita.
Entre os nomeados a Oscar onde, como é óbvio, Spielberg foi novamente indicado como realizador, temos de destacar alguns dos seus colaboradores habituais nomeadamente John Williams que uma vez mais compõe uma banda-sonora profundamente emocionante e emotiva bem ao seu género e claro o seu técnico de montagem Michael Kahn. E claro o argumento da autoria de Eric Roth e Tony Kushner na categoria dos adaptados.
Acima de qualquer outra intenção há que destacar dois aspectos importantes deste filme. O primeiro é o lado histórico que voltou a marcar a Alemanha com um sério e horrendo atentado que fez inúmeras vítimas. Aqui Spielberg consegue bem ao seu estilo recriar este acontecimento não só através do filme em si e da recriação dos factos como muito engenhosamente articula os momentos de flashback através das memórias da personagem principal e de como ele crê se terem passado.
O segundo, e talvez o mais importante de todos, é o facto deste filme focar em grande parte não só os acontecimentos em si mas sim o facto de como estes afectaram a vida destes homens de uma forma esmagadora. O isolamento de uns, a morte de outros e principalmente o quanto os afectava o facto de como de vidas ditas normais passarem eles próprios a ser "caçadores" de homens com o único intuito de os assassinar. Poderiam, ou conseguiriam, eles voltar a ser as mesmas pessoas depois desta missão estar terminada? Iriam eles conseguir ter as mesmas vidas? O mesmo anonimato que tiveram até então? Em nome desta missão voltariam a ser as mesmas pessoas para as suas famílias? Que iriam eles fazer depois desta missão? Conseguiriam integrar-se novamente?
A estas questões Spielberg dá leves e breves respostas que acabam por estar essencialmente também na nossa própria consciência cabendo assim a nós pensar e perceber o que poderá suceder depois desta tão árdua missão terminar.
Tenho alguma pena deste filme de Spielberg não ter conseguido atingir um lugar tão cimeiro como outras obras históricas e emblemáticas mas asseguro vivamente que é um filme a considerar e ver para poder digerir toda a sua mensagem. Pode não ter alcançado o mesmo mediatismo que A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan, Parque Jurássico ou Salteadores da Arca Perdida mas, no entanto, não estará certamente num nível abaixo destas outras obras.
De longe uma das grandes obras deste realizador que todos, apreciadores ou não de Spielberg irão gostar quer pela sua vertente dramática quer pelos seus momentos de pura acção e adrenalina. Imperdível.
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"Golda Meir: Every civilization finds it necessary to negotiate compromises with its own values."
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10 / 10
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