Camino de Javier Fesser foi o grande vencedor dos Goya em 2009 tendo vencido as categorias principais nomeadamente Filme, Realizador, Argumento, Actriz (Carme Elias), Actriz Revelação (Nerea Camacho) e Actor Secundário (Jordi Dauder).
Neste brilhante filme baseado em factos reais conhecemos Camino (Camacho) uma jovem pré-adolescente que vive no seio de uma família onde Gloria (Elias) a sua austera mãe apenas vê o bem-estar da sua família no seio da religião num profundo fanatismo, ao contrário de José (Mariano Venancio) que apenas deseja que a sua jovem filha viva uma vida normal típica de criança ao contrário da irmã mais velha que dedicou toda a sua existência à religião, a Deus e a uma vida de clausura.
Um dia Camino adoece subitamente. Descobre-se que tem um tumor que começa rapidamente a degenerar todos os seus sentidos. É aqui que começa a grande dualidade entre vida e morte. Paixão e religião. Família e Deus.
Este excelente e multi-premiado filme espanhol aborda, juntamente com as diversas dinâmicas agora apresentadas, comporta também um profundamente drama que se centra em absoluto nos últimos dias da vida desta criança que tinha tantos sonhos e desejos. Se deles alguma vez tivemos dúvidas bastaria recordar o momento em que José percebe qual o verdadeiro significado daquilo que a sua filha balbuciava e que todos pensavam ter outro significado.
Camino que tardiamente estreou em Portugal (basta considerarmos ser um filme de 2008 premiado nos Goya em 2009), algo incompreensível considerando que é um filme espanhol, é dotado de uma grande ambiguidade. Por um lado temos a frieza com que nos é apresentada a relação entre mãe e filha onde a estima que uma tem pela outra prende-se apenas com o facto desta última poder seguir o caminho religoso para a sua vida tal como a irmã.
Por sua vez temos ao mesmo tempo um profundo drama e sensibilidade quando analisamos a relação que pai tem para com a sua filha. Independentemente de respeitar o lado religioso que a filha possa um dia vir a optar como aquele que quer dar à sua vida ele é, acima de tudo, o pai dela. Como pai apenas pretende que a filha seja uma criança feliz com sonhos e que tenho amigos. Nada mais deseja do que um crescimento e vida normal.
Uma grande mensagem que este filme nos entrega é mesmo a de fazer um retrato bastante fiel de como uma família pode ser destruída em nome de fanatismos (independentemente deles quais forem). Os fanatismos que destroem sonhos, vontades e liberdades.
Neste caso concreto temos uma família que só o é em nome. Na prática cada um vive vidas independentes e distantes que em nada se assemelham a uma família real. Temos um extraordinário Mariano Venancio a interpretar um pai crente e respeitador que vive uma relação desinteressada com a sua mulher. Um pai que vive afastado da vida da sua filha mais velha que optou (ou terá sido a isso obrigada) por uma vida religiosa fruto de uma desilusão de amor provocada em tudo pela sua mãe. Pai esse que pretende a todo o custo preservar a relação próxima que tem com a sua filha mais nova e dar-lhe a oportunidade de escolher aquilo que ela realmente quer para a sua vida.
Por outro lado temos a mãe, um brilhante desempenho vencedor de um Goya de Carme Elias, austera e por vezes insensível que comanda as vidas dos que a rodeiam concretamente as suas filhas visto que o seu marido por não seguir o mesmo rumo que ela, lhe é totalmente indiferente. Conseguiu fazer com que a filha mais velha seguisse o caminho religioso e quer forçosamente que a mais nova faça o mesmo. Até depois da doença nada trava esta mãe que quer apenas que a filha seja temente e respeitadora a Deus. A doença é quase relegada para um plano inexistente ou pior para um plano em que pode ser "útil" para a obra de Deus.
Este não só dramático mas também profundamente reflexivo filme tem interpretações igualmente brilhantes. De Carme Elias e de Mariano Venancio já não há mais a dizer. Agora há que referir o desempenho de Nerea Camacho que não só emocionou como a jovem Camino como também ao receber o Goya de Actriz Revelação. É simplesmente emocionante vê-la a interpretar aquela jovem que tão cheia de sonhos típicos de uma menina da sua idade, os vê de repente serem cortados por uma enfermidade tão grande e avassaladora. Que me desculpe Carme Elias mas o Goya de Melhor Actriz deveria ter sido entregue a Nerea Camacho por toda a sua emotividade e brilhante empenho a encarnar esta personagem real.
Algo de que gostei também bastante neste filme foi o facto de na sua quase totalidade ter sido filmado com uma "frieza" enorme mas inúmeros foram os momentos finais em que toda ela simplesmente desaparece. A delicadeza de José para com a sua filha e na famosa pastelaria onde descobre o significado das palavras por ela utilizadas assim como os momentos finais da vida de Camino são profundamente tocantes e avassaladores.
Este sensível e tocante filme que demorou mais de dois anos a estrear em Portugal é uma pérola quase esquecida cheio de emoção e uma história profundamente tocante. Apesar de já não estar em cinema já saiu a um preço bastante recomendável em dvd... é de aproveitar.
.Este excelente e multi-premiado filme espanhol aborda, juntamente com as diversas dinâmicas agora apresentadas, comporta também um profundamente drama que se centra em absoluto nos últimos dias da vida desta criança que tinha tantos sonhos e desejos. Se deles alguma vez tivemos dúvidas bastaria recordar o momento em que José percebe qual o verdadeiro significado daquilo que a sua filha balbuciava e que todos pensavam ter outro significado.
Camino que tardiamente estreou em Portugal (basta considerarmos ser um filme de 2008 premiado nos Goya em 2009), algo incompreensível considerando que é um filme espanhol, é dotado de uma grande ambiguidade. Por um lado temos a frieza com que nos é apresentada a relação entre mãe e filha onde a estima que uma tem pela outra prende-se apenas com o facto desta última poder seguir o caminho religoso para a sua vida tal como a irmã.
Por sua vez temos ao mesmo tempo um profundo drama e sensibilidade quando analisamos a relação que pai tem para com a sua filha. Independentemente de respeitar o lado religioso que a filha possa um dia vir a optar como aquele que quer dar à sua vida ele é, acima de tudo, o pai dela. Como pai apenas pretende que a filha seja uma criança feliz com sonhos e que tenho amigos. Nada mais deseja do que um crescimento e vida normal.
Uma grande mensagem que este filme nos entrega é mesmo a de fazer um retrato bastante fiel de como uma família pode ser destruída em nome de fanatismos (independentemente deles quais forem). Os fanatismos que destroem sonhos, vontades e liberdades.
Neste caso concreto temos uma família que só o é em nome. Na prática cada um vive vidas independentes e distantes que em nada se assemelham a uma família real. Temos um extraordinário Mariano Venancio a interpretar um pai crente e respeitador que vive uma relação desinteressada com a sua mulher. Um pai que vive afastado da vida da sua filha mais velha que optou (ou terá sido a isso obrigada) por uma vida religiosa fruto de uma desilusão de amor provocada em tudo pela sua mãe. Pai esse que pretende a todo o custo preservar a relação próxima que tem com a sua filha mais nova e dar-lhe a oportunidade de escolher aquilo que ela realmente quer para a sua vida.
Por outro lado temos a mãe, um brilhante desempenho vencedor de um Goya de Carme Elias, austera e por vezes insensível que comanda as vidas dos que a rodeiam concretamente as suas filhas visto que o seu marido por não seguir o mesmo rumo que ela, lhe é totalmente indiferente. Conseguiu fazer com que a filha mais velha seguisse o caminho religioso e quer forçosamente que a mais nova faça o mesmo. Até depois da doença nada trava esta mãe que quer apenas que a filha seja temente e respeitadora a Deus. A doença é quase relegada para um plano inexistente ou pior para um plano em que pode ser "útil" para a obra de Deus.
Este não só dramático mas também profundamente reflexivo filme tem interpretações igualmente brilhantes. De Carme Elias e de Mariano Venancio já não há mais a dizer. Agora há que referir o desempenho de Nerea Camacho que não só emocionou como a jovem Camino como também ao receber o Goya de Actriz Revelação. É simplesmente emocionante vê-la a interpretar aquela jovem que tão cheia de sonhos típicos de uma menina da sua idade, os vê de repente serem cortados por uma enfermidade tão grande e avassaladora. Que me desculpe Carme Elias mas o Goya de Melhor Actriz deveria ter sido entregue a Nerea Camacho por toda a sua emotividade e brilhante empenho a encarnar esta personagem real.
Algo de que gostei também bastante neste filme foi o facto de na sua quase totalidade ter sido filmado com uma "frieza" enorme mas inúmeros foram os momentos finais em que toda ela simplesmente desaparece. A delicadeza de José para com a sua filha e na famosa pastelaria onde descobre o significado das palavras por ela utilizadas assim como os momentos finais da vida de Camino são profundamente tocantes e avassaladores.
Este sensível e tocante filme que demorou mais de dois anos a estrear em Portugal é uma pérola quase esquecida cheio de emoção e uma história profundamente tocante. Apesar de já não estar em cinema já saiu a um preço bastante recomendável em dvd... é de aproveitar.
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