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Expiação de Joe Wright reune um elenco britânico de luxo onde se destacam os nomes de James McAvoy, Keira Knightley, Brenda Blethyn, Vanessa Redgrave, Romola Garai e Saoirse Ronan que foi nomeada para vários prémios nomeadamente o Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA de Actriz Secundária, num filme que foi igualmente multiplo nomeado e vencedor do Oscar de Banda-Sonora.
Tudo começa com Briony Tallis (Ronan) uma jovem aspirante a grande escritora que "na sombra" presencia a sua irmã Cecilia (Knightley) e Robbie (McAvoy) numa situação que ela interpreta como sendo comprometedora e que devido aos acontecimentos que se irão passar naquela casa durante o restante dia, irão desencadear uma série de mal entendidos provenientes da imaginação de Briony modificando assim, para sempre, as vidas de todos.
Depois de uma jovem visita da família ser molestada, Briony acusa Robbie de tal acto sem, no entanto, ter certeza daquilo que realmente vira.
Algum tempo após ser preso Robbie tem a oportunidade de sair da prisão não como homem livre mas sim como combatente durante a guerra contra a Alemanha. Aquilo que assistimos a partir daqui é a toda a destruição não só de uma família como principalmente à destruição do Homem, do bom nome e como estes podem abalar inequivocamente a moral e até por vezes a integridade.
O brilhante argumento de Christopher Hampton baseado no romance de Ian McEwan transporta-nos para vários universos durante a duração de todo este filme. Temos o ambiente perfeito recheado de paixões juvenis enquanto nos encontramos dentro daquela propriedade a assistir a uma extensa mas reveladora apresentação das várias personagens.
Coonseguimos realmente perceber as suas diversas vontades e principalmente o seu carácter através de, por vezes, escassos relatos ou participações que os colocam em cena. Mas por muito breves que sejam os seus momentos, a sua essência encontra-se lá.
A partir do momento em que Robbie é detido seguimos as vidas separadas que cada uma destas personagens teve até ao momento do seu reencontro. Ele enquanto militar e Cecilia enquanto enfermeira que auxiliava os feridos em Londres e a seu tempo, ao seu reencontro com uma Briony (Romola Garai) também ela enfermeira.
Mas é sobretudo o percurso que Robbie toma que é o mais doloroso. A sua passagem por vários cenários que, não sendo de guerra são o seu perfeito reflexo enquando destruidor de inúmeras vidas humanas.
Li em tempos numa qualquer revista da especialidade que o momento junto ao mar onde todos os militares aguardam por transporte, desesperados e em fome com inúmeros feridos e mortos por perto era "a mais perfeita descrição da descida aos infernos"... Não poderia estar mais de acordo. Enquanto que em muitos filmes assistimos a relatos sobre o mal enquanto uma qualquer força estranha, aqui temo-lo na sua forma mais assustadora que é a própria capacidade destrutiva do Homem. E que cenário mais perfeito para lhe dar "vida" do que aquele que outrora haveria servido como estância de férias e de recreio de tantas e tantas famílias que poderemos apenas imaginar como estando, também elas, destruidas. É aqui que temos de tudo... a fome, os feridos, a destruição, o desespero, a loucura, a ruína, a morte num daqueles que é dos mais "ricos" momentos de um filme que consegue ser cativante em todos os seus minutos.
É também este romance e argumento que têm das mais surpreendentes e emocionantes reviravoltas. Quando pensamos que afinal tudo aconteceu com uma finalidade de terminar "menos mal", que somos literalmente "esmurrados" para presenciar aquilo que não queriamos ver. Não vou revelar, pois considero que é forte demais para que quem vá assistir a este filme saiba já aqui o seu desfecho, mas assumo que a mim nao só me surpreendeu como de certa forma me "deprimiu" o perceber que afinal nada se havia passado como aparentava... e mais não digo além do facto de que, tal como uma das taglines do filme afirma "you can only imagine the truth". Apenas podemos imaginar a verdade... Qual verdade? A que realmente existiu ou aquela que para nós nos interessa que tenha existido? É provável que a maior pergunta que se poderá fazer após visionar este filme seja "Qual o seu verdadeiro poder?". O da imaginação, note-se.
Briony, aqui brilhantemente interpretada por Saiorse Ronan, Romola Garai e Vanessa Redgrave em três distintas idades é, em qualquer uma delas, a personagem secundária que acaba por servir de elo de ligação entre as demais e nós espectadores. É através dos seus vários momentos que tomamos total conhecimento de toda a história, independentemente de por momentos não nos apercebermos disso.
Qualquer uma das três actrizes tem um desempenho notável. Ronan que fora nomeada para tantos prémios por este seu desempenho afirmou-se como aquela jovem actriz do momento que se deve ter em conta e isso confirmou-se logo no ano seguinte aquando da sua prestação em The Lovely Bones.
E claro, seria impossível não falar do par protagonista que tem aqui, uma vez mais, interpretações dignas do melhor que se poderá ver em cinema. Knightley afirma-se, e confirma, que apesar da sua ainda jovem idade é já uma digna sucessora de nomes como Julie Andrews ou Julie Christie, e que os filmes de época terão sempre um lugar reservado para si. São já vários e não só os faz bem como os faz com mestria. A sua elegância e vulnerabilidade iniciais que se transformam numa força e dureza fruto dos acontecimentos conquistam-nos facilmente. Knightley, se é que ainda existiam dúvidas, confirma o seu intenso potencial.
James McAvoy que já o disse e repito, deveria ele sim ter sido nomeado e recebido o Oscar por The Last King of Scotland, confirma aqui também ser um actor intenso e para mim aquele que tem a interpretação mais forte e emocionante de todos, mais que não fosse por ser ele o observador, e que faz de nós também observadores, de toda a insanidade e decadência que a guerra consegue causar no mais pacífico e tranquilo lugar.
Joe Wright consegue também ele com mestris e genialidade retirar de todos estes actores, interpretações dignas de constarem na galeria das melhores dos últimos anos e é de minha opinião terem sido injustamente esquecidas na cerimónia dos Oscars de 2008 que apenas premiaram, justissimamente, a estrondosa e emocionante banda-sonora de Dario Marianelli.
Briony (Redgrave) autora deste Atonement, consegue recriar as condições perfeitas para no final pensarmos e refletirmos sobre se deverá ela ter ou não a absolvição pelos seus actos enquando criança de treze anos que acusa injustamente uma pessoa tendo por base apenas os seus ciúmes e desconfianças juvenis. E é exactamente essa a questão que nos é deixada enquanto assistimos a todos os acontecimentos... não como eles foram contados mas sim como eles realmente aconteceram.
Este filme é obrigatório e simplesmente fantástico e imperdível pela sua riqueza de argumento, de interpretações, de cenários, de banda-sonora e claro do mais importante... a sua mensagem.
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."Cecilia Tallis: I love you. I'll wait for you. Come back. Come back to me."
.10 / 10
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