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Crime em Campo de Cebolas de Harold Becker é um filme baseado em factos reais ocorridos no início dos anos 60 sobre um caso de (in)justiça que, à altura da estreia do mesmo, durava há perto de 20 anos.
Tudo começa com Greg Powell (James Woods), um ex-condenado e mentalmente instável que recruta Jimmy Smith (Franklyn Seales) para os seus esquemas e assaltos. Até ao dia em que quando são abordados por dois polícias, Karl Hettinger (John Savage) e Ian Campbell (Ted Danson) que raptam e acabando por matar este último.
Desde o momento em que são capturados e durante os próximos anos, tanto Greg como Jimmy embarcam numa estranha relação de dominador e dominado que acarreta igualmente contornos sexuais, como também num esquema de claro desafio à lei e aos tribunais que os salva da câmara de gás para onde tinham sido inicialmente condenados.
Quanto a Karl, sobrevivente daquele massacre, entra numa espiral de decadência e de flagelo psicológico que o levam bastante perto do suicídio por nunca ter conseguido superar o facto de ter sido um sobrevivente.
Todo o restante filme centra principalmente a sua atenção nos meandros dos tribunais e dos inúmeros recursos, juízes e juris pelos quais este processo passou, ao ponto das penas aplicadas aos dois criminosos, independentemente de quem tenha de facto disparado e morto Ian Campbell, terem sido sucessivamente reduzidos... da pena de morte à perpétua e desta a potenciais liberdades condicionais. É neste mesmo meandro que alguns dos advogados questionam o sistema que defende criminosos e penaliza ou esquece as vítimas dos mesmos.
Curioso é o facto da abordagem dada à relação entre Greg e Jimmy que tanto tem de violenta como de sexual, estabelecendo uma perigosa relação entre ambas que é como quem diz... a homossexualidade provém de indivíduos violentos. Facto este confirmado com uma igualmente pequena mas marcante abordagem no filme ao relatarem o caso de um indivíduo detido depois de ter sido apanhado com um transsexual.
Àparte dos pequenos precalços que esta história tem, alguns previsíveis e óbvios demais, a história acaba por nos deixar a questionar dois aspectos fundamentais. O primeiro, e já referido, que se prende com o facto de a justiça quase defender um criminoso em detrimento das vítimas. Aquelas que sobrevivem e também, aquelas que sucumbiram aos caprichos de criminosos que tiveram como único intuito eliminar vidas humanas.
O segundo e igualmente importante aspecto prende-se com a atenção extra-judicial dada à vítima. O apoio, ou neste caso a inexistência dele, para resolução dos traumas com que ficaram. O sentimento de culpa pela sobrevivência e os traumas de cariz psicológico que levam muitas a quererem pôr um termo à sua própria vida. A velha questão de "porque terá morrido o outro e não eu?".
É um filme interessante e que deverá ser analisado à luz da época mas que apesar dessa condicionante não deixa de apresentar aspectos, por mais pequenos que sejam, os quais acabam por ser mesmo nos dias de hoje realidades bem presentes como é, muito concretamente, a questão das falhas na justiça.
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"Dist. Atty. Phil Halpin: (...) If only I could send some lawyers and judges to the gas chamber."
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7 / 10
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