O Tesouro de Gonçalo Silva e Marcantónio del Carlo é uma curta-metragem de ficção portuguesa baseada no conto homónimo de Eça de Queirós no qual três irmãos Bal (Nuno Melo), Rui (Nuno Pardal) e Guilhas (Diogo Lopes) - em fuga de uma perseguição - encontram um tesouro perdido que imediatamente reclamam.
Em O Tesouro adaptado aos tempos modernos, os três irmãos refugiam-se numa vinha onde encontram o capataz Óscar (Joaquim Nicolau) que lhes oferece trabalho para Luís (José Martins), pai da excêntrica Dina (Sara Barros Leitão). Mas, quando a sede de riqueza ultrapassa os limites conseguindo a ganância tomar controlo da mente humana... poderão os três irmãos escapar do infortúnio que os espera?
Livremente adaptado de Eça de Queirós, O Tesouro centra a sua atenção no interior norte do país onde no meio da apanha da uva e do bailarico da aldeia se encontra mais básica condição humana que com uma aparente fortuna em mãos esquece toda a solidariedade pela qual tenha eventualmente pregado. Aqui, longe desta pregação, estes três irmãos já de si potenciais degenerados da sociedade entregam-se aos mais vis dos sentimentos querendo sempre um pouco mais para juntar ao muito que já têm.
Mas aquilo que o argumento de Marcantónio del Carlo, Gonçalo Silva e Tito Olías pressupõe é que no seio de um ambiente manifestamente hostil como aquele ao qual vão parar... serão estes três irmãos "amantes" da transgressão à lei os piores imorais? Pelo seio da sua imoralidade e falta de valores, o espectador é ao mesmo tempo confrontado com alguns ditos correntes destes anos que vivemos onde a falta de trabalho é igualada ao desinteresse por trabalhar e onde todos têm de ser sujeitos - ou sujeitarem-se - a tudo para poder sobreviver. Assim, se de um lado sabemos e percebemos que temos três irmãos que vivem de esquema em esquema e que não se trata de mera sobrevivência mas sim de ganância absoluta - e que o comprovem os seus actos após descobrirem o tesouro -, não é menos verdade que aqueles que inicialmente os acolhem também não primam pela excelência e benevolência dos seus actos. É desta forma que no final o espectador fica com a verdadeira questão... quem é - se é que alguém - realmente bom?
Com uma direcção musical interessante que recupera o popular português pelas mãos de André do Áudio e uma direcção de fotografia que recolhe as melhores cores e entardeceres do Douro, O Tesouro é assim a primeira de duas recentes adaptações do conto popular de Eça de Queirós que reflecte sobretudo sobre a essência do Homem... esquecendo ou ultrapassando qualquer tipo de laços, uniões ou empatias...
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