Perdido em Marte de Ridley Scott é a sua mais recente incursão no espaço depois de Alien (1979) e Prometheus (2012) desta vez não para uma missão anti-alienígenas mas sim numa acção humanitária em Marte.
Durante uma missão ao Planeta Vermelho, o astronauta Mark Watney (Matt Damon) é dado como morto depois da equipa com quem se encontrava ser atingida por uma violenta tempestade que o faz perder-se da mesma.
Algum tempo depois da sua equipa abandonar Marte, Mark recupera os sentidos e percebe que se encontra sózinho no planeta vermelho e que tem de lutar pela sua sobrevivência enquanto espera por uma eventual equipa de salvamento... que pode demorar meses a chegar.
Numa incursão a um espaço mais ou menos conhecido - afinal sempre falamos de um planeta real e não imaginado nos meandros da ficção científica - o argumento de The Martian por Drew Goddard aproxima o espectador não necessariamente de uma história irreal que tem apenas e só por base a tal ficção científica mas sim de uma história cujo seu principal fundamento reside na vontade e necessidade humana de e em sobreviver. Para lá de uma potencial ameaça alienígena ou de um território inóspito no qual será impossível perpetuar a existência, aqui aquilo com que o espectador se depara é, pelo contrário, a vontade humana e a sua resiliência face à adversidade. A sobrevivência como última vontade que permite a todo e qualquer um de nós encontrar forma de resistir e passar ao dia seguinte onde, uma vez mais, se tentarão encontrar formas de chegar ao seguinte e assim sucessivamente.
Mas o que aconteceria se este espaço no qual se tenta sobreviver não fosse no nosso ambiente terrestre mas sim no espaço? O que aconteceria se toda e qualquer equipa de salvamento demorassem não horas mas sim anos a chegar? O que aconteceria se tudo aquilo que vemos à nossa volta pode apenas com um breve e esporádico acontecimento deitar tudo a perder inclusive a própria resistência psicológica? A sobrevivência em The Martian não é apenas física mas sim um verdadeiro teste à própria vontade de sobreviver na medida em que o salvamento per si é, a determinada altura, encarado tal como as suas verdadeiras possibilidades o permitem, ou seja, tão real como o impossível é. Sem água ou alimento, com recursos de oxigénio limitados a um determinado espaço temporal, sem forma de reciclar o ar ou produzir água e alimento e onde apenas os conhecimentos científicos podem permitir esta sobrevivência se - e apenas se... - tudo funcionar em conformidade e sem imprevistos, o tempo e o espaço estão, a todo o momento, a jogar como elementos contra a mesma.
Ainda que The Martian atinja aquele ponto em que roça de muito perto certas concepções políticas tal como as conhecemos onde os Estados Unidos recorrem - mais ou menos oficialmente - à ajuda de uma outra, e agora reconhecida, super-potência como o é a China para finalmente conseguir recuperar aquele que é o "filho preferido da América", não é menos verdade que consegue também tecer algumas interessantes concepções filosóficas sobre o "eu" que será o primeiro colonizador de um outro planeta - muito à semelhança do que acontecera séculos antes com a colonização de outros territórios na própria América - e a sua responsabilidade enquanto tal ou até mesmo sobre a solidão num planeta totalmente novo ou o facto de ser o primeiro a cruzar uma planície, a subir a uma montanha... O primeiro a efectuar todo um conjunto de situações que para toda a História como a irão recordar no futuro e que terá o seu nome marcado em todas elas. Reflexões ainda sobre o quão efémera é a vida ou as oportunidades que se têm e desperdiçam ao ponto de se colocar o eterno dilema Homem vs. Espírito - sendo este aquele conjunto de noções mais transcendentes que definem toda a nossa consciência.
Porque toda a vida se define pela capacidade de criar vida... de poder protegê-la... fazê-la propagar como uma comunidade, The Martian - ou a sua mensagem (in)consciente - posiciona-se como a capacidade de todos nós protegermos o nosso semelhante, de lutar por ele independentemente de todo o percurso que se tem de percorrer... mesmo até outro planeta. Mas é exactamente aqui que reside toda a questão que me faz olhar para esta história com um certo descrédito, talvez por algum negativismo pessoal quanto a esta premissa de que a Humanidade é capaz de se unir para salvar alguém perdido não num outro país mas sim num outro planeta quando, na verdade, a mesma não é capaz de se unir - e com muito menos gastos - para salvar alguém no continente ao lado. Ainda que bem intencionado e algo lírico no qual todos nós gostaríamos de acreditar... na prática, e neste aspecto, The Martian parece um bom e velho filho cujo propósito máximo é ressalvar o "old American hero"...
Ainda que uma simpática peça cinematográfica de entretenimento, The Martian fica aquém das expectativas quanto a ser o último grande filme de ficção científica... Mantém-se ainda longe de um qualquer drama existencial com o qual o espectador possa sentir aquela imediata empatia apesar de momentos pontuais onde se consegue compreender o "fardo" de ser o primeiro a tudo fazer num novo planeta e a pressão de saber que o seu nome ficará na História - de dois mundos - mas ainda assim não chega para ser aquele "filme do ano".
Com um conjunto de elementos técnicos interessantes e que poderão ser alvo de algumas nomeações e prémios nesta temporada que se avizinha, nomeadamente a direcção de fotografia de Dariusz Wolski que capta aquele imaginário do "planeta vermelho", e os óbvios efeitos sonoros e visuais, é Matt Damon, coerente na sua interpretação e na prática todo o suporte deste filme que tendo outros actores faz dele a peça central do início ao fim; positivo ou não, dá que pensar sobre este aspecto quando consideramos que no elenco temos nomes como Chiwetel Ejiofor ou Jessica Chastain, Sean Bean ou Kristen Wiig e que aqui para lá de apontamentos secundários ocasionais nunca conseguem consolidar a sua interpretação como "indispensável" para o funcionamento desta história... ou talvez o sejam na medida em que sem eles... "Mark Watney" nunca regressaria a casa...
Algum tempo depois da sua equipa abandonar Marte, Mark recupera os sentidos e percebe que se encontra sózinho no planeta vermelho e que tem de lutar pela sua sobrevivência enquanto espera por uma eventual equipa de salvamento... que pode demorar meses a chegar.
Numa incursão a um espaço mais ou menos conhecido - afinal sempre falamos de um planeta real e não imaginado nos meandros da ficção científica - o argumento de The Martian por Drew Goddard aproxima o espectador não necessariamente de uma história irreal que tem apenas e só por base a tal ficção científica mas sim de uma história cujo seu principal fundamento reside na vontade e necessidade humana de e em sobreviver. Para lá de uma potencial ameaça alienígena ou de um território inóspito no qual será impossível perpetuar a existência, aqui aquilo com que o espectador se depara é, pelo contrário, a vontade humana e a sua resiliência face à adversidade. A sobrevivência como última vontade que permite a todo e qualquer um de nós encontrar forma de resistir e passar ao dia seguinte onde, uma vez mais, se tentarão encontrar formas de chegar ao seguinte e assim sucessivamente.
Mas o que aconteceria se este espaço no qual se tenta sobreviver não fosse no nosso ambiente terrestre mas sim no espaço? O que aconteceria se toda e qualquer equipa de salvamento demorassem não horas mas sim anos a chegar? O que aconteceria se tudo aquilo que vemos à nossa volta pode apenas com um breve e esporádico acontecimento deitar tudo a perder inclusive a própria resistência psicológica? A sobrevivência em The Martian não é apenas física mas sim um verdadeiro teste à própria vontade de sobreviver na medida em que o salvamento per si é, a determinada altura, encarado tal como as suas verdadeiras possibilidades o permitem, ou seja, tão real como o impossível é. Sem água ou alimento, com recursos de oxigénio limitados a um determinado espaço temporal, sem forma de reciclar o ar ou produzir água e alimento e onde apenas os conhecimentos científicos podem permitir esta sobrevivência se - e apenas se... - tudo funcionar em conformidade e sem imprevistos, o tempo e o espaço estão, a todo o momento, a jogar como elementos contra a mesma.
Ainda que The Martian atinja aquele ponto em que roça de muito perto certas concepções políticas tal como as conhecemos onde os Estados Unidos recorrem - mais ou menos oficialmente - à ajuda de uma outra, e agora reconhecida, super-potência como o é a China para finalmente conseguir recuperar aquele que é o "filho preferido da América", não é menos verdade que consegue também tecer algumas interessantes concepções filosóficas sobre o "eu" que será o primeiro colonizador de um outro planeta - muito à semelhança do que acontecera séculos antes com a colonização de outros territórios na própria América - e a sua responsabilidade enquanto tal ou até mesmo sobre a solidão num planeta totalmente novo ou o facto de ser o primeiro a cruzar uma planície, a subir a uma montanha... O primeiro a efectuar todo um conjunto de situações que para toda a História como a irão recordar no futuro e que terá o seu nome marcado em todas elas. Reflexões ainda sobre o quão efémera é a vida ou as oportunidades que se têm e desperdiçam ao ponto de se colocar o eterno dilema Homem vs. Espírito - sendo este aquele conjunto de noções mais transcendentes que definem toda a nossa consciência.
Porque toda a vida se define pela capacidade de criar vida... de poder protegê-la... fazê-la propagar como uma comunidade, The Martian - ou a sua mensagem (in)consciente - posiciona-se como a capacidade de todos nós protegermos o nosso semelhante, de lutar por ele independentemente de todo o percurso que se tem de percorrer... mesmo até outro planeta. Mas é exactamente aqui que reside toda a questão que me faz olhar para esta história com um certo descrédito, talvez por algum negativismo pessoal quanto a esta premissa de que a Humanidade é capaz de se unir para salvar alguém perdido não num outro país mas sim num outro planeta quando, na verdade, a mesma não é capaz de se unir - e com muito menos gastos - para salvar alguém no continente ao lado. Ainda que bem intencionado e algo lírico no qual todos nós gostaríamos de acreditar... na prática, e neste aspecto, The Martian parece um bom e velho filho cujo propósito máximo é ressalvar o "old American hero"...
Ainda que uma simpática peça cinematográfica de entretenimento, The Martian fica aquém das expectativas quanto a ser o último grande filme de ficção científica... Mantém-se ainda longe de um qualquer drama existencial com o qual o espectador possa sentir aquela imediata empatia apesar de momentos pontuais onde se consegue compreender o "fardo" de ser o primeiro a tudo fazer num novo planeta e a pressão de saber que o seu nome ficará na História - de dois mundos - mas ainda assim não chega para ser aquele "filme do ano".
Com um conjunto de elementos técnicos interessantes e que poderão ser alvo de algumas nomeações e prémios nesta temporada que se avizinha, nomeadamente a direcção de fotografia de Dariusz Wolski que capta aquele imaginário do "planeta vermelho", e os óbvios efeitos sonoros e visuais, é Matt Damon, coerente na sua interpretação e na prática todo o suporte deste filme que tendo outros actores faz dele a peça central do início ao fim; positivo ou não, dá que pensar sobre este aspecto quando consideramos que no elenco temos nomes como Chiwetel Ejiofor ou Jessica Chastain, Sean Bean ou Kristen Wiig e que aqui para lá de apontamentos secundários ocasionais nunca conseguem consolidar a sua interpretação como "indispensável" para o funcionamento desta história... ou talvez o sejam na medida em que sem eles... "Mark Watney" nunca regressaria a casa...
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"Mark Watney: I'm the first person to be alone on an entire planet."
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"Mark Watney: I'm the first person to be alone on an entire planet."
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