Desaliento de Pinky Alonso (Espanha) é uma das curtas-metragens presentes na secção oficial Cantábria e na paralela OneSequenceShot.
Depois de uma intensa relação sexual um casal discute tornando realidade todos os inconfessáveis segredos que, até então, escondiam e que resultarão num inesperado final.
O argumento de Sara Márquez revela duas intensas personagens numa história com contornos negros e um desespero latente. "Ela" (Itziar Castro) é uma mulher casada e revela que está grávida a um amante que se assume traído. Se "Ela" está disposta a tudo abandonar para começar uma nova vida ao seu lado, já "Ele" (David F. Mayora) revela, com a descoberta desta notícia, ter perdido todo o interesse pela mulher que, até então, amara.
Se esta história parece assumir contornos que cruzam o humor negro com uma história de duas personagens desesperadas com uma aparente vida exterior e que encontram naqueles breves momentos a razão para a sua existência, não é alheio ao olhar do espectador que ambos se encontram num espaço que tem tanto de excelência como de decadente. As paredes exteriores daquela casa expõem - para os demais - a excelência de um espaço abastado e senhorial que, no entanto, apenas escondem a desordem e decadência de uma vida que se encontra nas margens. O desconforto exposto pelos dois protagonistas contrasta igualmente com os diversos manequins que estão aleatoriamente dispostos pela casa. Nada faz adivinhar um ambiente tranquilo ou "legal". O pecado - a existir - está por todos os recantos de uma casa que tem sido o palco para encontros fortuitos e extra-matrimoniais que ambos ali cumprem. No entanto, é nos comportamentos destas duas personagens que encontramos os maiores "podres"...
Se "Ela" é uma mulher preocupada com esta sua relação ilegal que aparenta querer manter como a única possível na sua vida, é a notícias que transmite a "Ele" que tudo poderá colocar em risco revelando que, um deles, estará a viver uma vida dupla - ou tripla - que o outro desconhece. O encontro entre ambos, longe de parecer próximo ou cúmplice, mais revela ser o escape para uma qualquer vida na qual parecem não se sentir inseridos e o plano sequência aqui escolhido para tudo filmar aparenta querer revelar ao espectador que tudo mais não é do que uma relativamente breve passagem para ambos... ou, pelo menos, para um deles.
A iminente separação para a qual nos parece levar o argumento de Sara Márquez, será apenas o abrupto final para um deles e o sentido de humor negro aqui revelado parece fazer adivinhar que estas vidas tão igualmente tristes, mais não são do que o reflexo de toda uma existência desconexa e desligada de um mundo dito "normal" que os obriga a encontros casuais num espaço, também ele, marginal. Da marginalidade do espaço àquela das (suas) vidas, Desaliento é, portanto o retrato de um desânimo... de uma falta de ligação ao outro ou, por outro lado, de um desespero por essa extrema necessidade de pertença que a sempre intensa Itziar Castro revela através dos seus breves olhares dispersos no espaço.
E como todas as tragédias porvir tendem a fazer terminar uma história cujo futuro das suas personagens desconhecemos - ou talvez não! -, eis que este Desaliento termina com contornos tragicómicos e a certeza de que por detrás de toda a potencial ilegalidade sentimental e amorosa está a vontade, a necessidade e o desespero de poder tentar ser amado.
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8 / 10
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