sexta-feira, 4 de maio de 2018

Knock (2018)

.

Knock de Marcos Cabrero e Jorge Cimiano (Espanha) é uma das curtas-metragens das secções paralelas da nona edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cine numa história que revela um sofrimento vivido em silêncio quando o espectador conhece uma mulher (Consuelo Carravilla) que repete ciclicamente pequenos rituais domésticos que, à partida, parecem não fazer sentido até se reconhecer algo de profundo que os mesmos escondem.
Aquilo que aparentemente poderia parecer como uma casa igual a tantas outras, uma mulher habita e faz transparecer um dia igual a tantos outros mas que, na sua essência, assume uma marcante diferença pela expressividade e repetição dos seus actos. Mas esta não é uma repetição qualquer. Tudo, nos seus actos, faz evidenciar um latente desespero que transforma não só os mesmos como os comportamentos daí derivados como angustiantes acções que a lançam num espaço perdido independentemente do seu propósito.
O tempo passa. Passa sem um ritmo próprio o que a faz encontrar-se perdida numa azáfama que não tem fim como, ao mesmo tempo, assume a sua distância de um mundo que gira "lá fora". O seu, no entanto, perde-se num labirinto de pensamentos não compreendidos - eventualmente até pela própria - o que faz dela uma prisioneira primeiro da sua mente, depois do seu espaço e finalmente de, e para, o mundo que se encontra para lá dos seus domínios.
Num registo que oscila entre o controlo e o descontrolo, claro exercício de uma bipolaridade ou doença do foro mental possivelmente não diagnosticado, Knock - numa clara alusão às tentativas de "bater às portas" de uma mente presa em si própria -, esta dupla de jovens realizadores concentra a sua atenção neste que é um tema tantas vezes esquecido e que se "esconde" por detrás de uma vergonha não controlada mas assumida sim num silêncio constrangedor (para a vítima). Interessante sob uma perspectiva de alerta social, a curta-metragem da dupla Cabrero/Cimiano merecia mais tempo e mais exploração deste "dia" como tantos outros de uma mulher nas margens do seus próprio pensamento.

.

6 / 10

.

.

Sem comentários:

Enviar um comentário