Untitled Film #1 de Araque Blanco (Espanha/República Checa) é uma curta-metragem que revela a história de duas amigas - Lucy (Lucy Hadfield e María (María Giaever) - que se cruzam na cidade de Praga, na República Checa formando uma imediata amizade e um laço de cumplicidade que dará forma a toda a sua criatividade.
O realizador e Elpídio del Campo escrevem este argumento criando um universo de cumplicidade entre duas personagens estrangeiras numa terra que se quer de criatividade, criação e uma extrema expressão de sentimentos e emoções em relação àquilo que criam. Das conversas banais que revelam uma certa formação de carácter às pequenas cumplicidades e momentos em que a amizade ganha corpo, estas duas (recentes) amigas perdem-se pelas banalidades da vivência numa cidade diferente e onde ambas são o elemento "extra" influenciando - e deixando-se influenciar - pelos locais, pelas pessoas com quem se cruzam e pela forma como ambas experimentam toda esta nova realidade na definição e formação do seu próprio comportamento.
Como duas inesperadas exploradoras modernas, "Lucy" e "María" encontram neste lugar desconhecido a fonte de uma esperada criatividade buscando inspiração naqueles pequenos elementos - da cidade e das pessoas - excêntricos que as motivem para a criação. Num percurso de descoberta do espaço, das pessoas, da relação que mutuamente criam e principalmente delas próprias, poderá este ser o início de uma amizade duradoura ou apenas o motivo ou meio que encontram para unir esforços num espaço, não adverso, mas desconhecido para ambas?
Untitled Film #1 centra-se essencialmente na dinâmica da descoberta. Quer seja do espaço, das pessoas, das relações ou até mesmo dessa já referida e ausente inspiração como mote para a criatividade, as duas jovens são aqui um veículo para a alcançar. Uma descoberta que passa também, senão principalmente, pela forma como cada um se relaciona numa sociedade diferente e pela ideia que cada um modela (lentamente) através desta descoberta que influencia sobretudo a sua própria individualidade e independência. Quem somos nós no mundo a uma dada altura e como todos esses elementos externos influenciam o "eu" que se perfila no futuro?!
Numa esperança de conferir a esta curta-metragem uma modernidade realista, o realizador brinca o espectador com uma constante sensação de "câmara na mão", onde tudo é filmado na primeira pessoa como que este último seja um observador participante e relativamente activo na consciencialização das experiências que as duas protagonistas vivem. No entanto, se esta difícil experiência poderá retirar positivos contributos ao imiscuir o espectador na obra, não deixa de ser uma realidade que, ao mesmo tempo, pode também ser uma experiência cansativa para o espectador mais impaciente que vê nesta constante movimentação um atributo menos positivo e mais concentrador de uma dispersão - quase uma contradição - intelectual da obra.
Potencialmente interessante na sua forma e na sua origem pelo contributo e pela abordagem à ideia de "estranhos em terra estranha" e do inegável elo que se cria naqueles que partilham a mesma condição assim como pela forma como é nesta união que se pode criar não só uma amizade como principalmente uma forma detentora de uma potencial criatividade - diz-se que todos os artistas criam mais (ou talvez melhor (?!)) quando sob pressão ou em ambiente adversos -, Untitled Film #1 não consegue, apesar da sua premissa, criar uma imediata empatia com o espectador mais sedento de respostas que cheguem de forma mais directa e menos lírica. Enquanto um potencial filme curto artístico, a obra de Araque Blanco poderá figurar entre as mais dinâmicas e interessantes mas, no entanto, enquanto obra capaz de dinamizar a atenção do público... transforma-se num imediato filme mais fragilizado e menos capaz de o prender desde o primeiro instante.
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6 / 10
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