terça-feira, 22 de maio de 2018

Inexistencia (2018)

Inexistencia de Juan Miguel Alonso Hoyos (Espanha) é uma curta-metragem feita ao estilo de cinema mudo. A sua história apresenta Laura, uma modelo que fez um pacto com o Diabo por uma oportunidade de fama e sucesso mas que teve de pagar o preço mais alto... o da sua vida.
Com claras inspirações no conto de Dorian Gray de Oscar Wilde, Inexistencia acaba por reflectir sobre aquilo que o seu próprio título indica... até que ponto existimos de facto e de que poderão a suposta fama e estrelato contribuírem para uma maior compreensão do lugar individual no mundo e na sociedade que nos rodeia. No fundo, o que estará cada um de nós disposto a fazer para que, de forma ilusória mas não perceptível, todo o mundo esteja centrado na nossa presença? Sem que cada um compreenda, essa dinamização do "eu" no mundo e dos "outros" como meros espectadores de uma peça de teatro que cada um de "nós" protagoniza, mais não é do que uma ilusão granjeada por uma entidade misteriosa aqui encarnada pela figura de um "Diabo" bíblico. É esse mesmo "Diabo" que manobra e manipula todas as acções que nos envolvem de forma a cairmos no seu jugo pessoal de captura de almas indefesas, conferindo apenas sonhos e ilusões que na realidade nunca se poderiam concretizar.
Tendo esta premissa em mente, é exactamente na imagem desse sonho que reside a salvação da alma... se a vida mais não é do que um sonho, como poderá esse "Diabo" comandar uma vida que, na realidade, não existe? Entregues ao seu próprio destino, as vítimas - aqui a modelo "Laura" - mais não são do que elementos cativos do seu próprio subconsciente e não de uma figura mística que poderá aproveitar-se dessa inocência. Assim, e como relata a própria linha narrativa desta história... se o "Diabo" não existe (ou pelo menos assim estamos convencidos), fácil e alegremente poderemos entrar na sua morada.
Com clara inspiração na já referida obra de Wilde e, como tal, já de certa forma conhecida do espectador mais atento, esta Inexistencia peca pelo recurso excessivo a uma réplica de cinema mudo que se tenta explicar em demasia com as recorrentes legendas cinematográficas como se o espectador não compreende-se a dinâmica da história sem ter um guia que a acompanhe. Inteligente pela forma como capta - para os dias de hoje - um conto eterno sobre a sede de poder, de uma juventude eterna e de uma ilusão do "eu no centro do universo", esta curta-metragem não consegue, no entanto, sobreviver para lá das óbvias comparações que o espectador tece com as inúmeras versões da mesma nem tão pouco como desnecessariamente tudo tenta explicar com uma legenda que enquadre a cena.
Inexistencia é, dessa forma, uma curta-metragem que poderia centrar-se no "menos é mais" dando crédito ao seu próprio título pois nem tudo necessita de uma prévia explicação, e não tanto nos pequenos detalhes como se esse elemento fosse credibilizar de forma mais positiva todo um trabalho previamente construído.
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