FTL de Adam Stern (Canadá) é uma curta-metragem de ficção científica sobre a viagem do astronauta Ethan Kane (Ty Olsson) a Marte numa nave mais rápida que a luz (Faster Than Light - FTL). No entanto, esta viagem solitária cedo se revela mais longa do que todos imaginavam quando, ao regressar, Ethan é levado para uma outra dimensão do Universo onde todos os contactos com a Terra são perdidos. Conseguirá ele regressar a casa?
Adam Stern transforma uma viagem imaginada de três minutos numa história com todo um potencial que vai mais além do que as breves visões de um Universo desconhecido. O argumento desta curta-metragem pode até parecer linear e inserir o espectador numa dinâmica de futuro não tão distante onde as viagens espaço-temporais estão ao alcance de breves instantes. No entanto, é a possibilidade aberta com esta viagem que dá cor a uma história aparentemente simples e que se transforma em todo um imaginário que leva tanto astronauta como espectador a equacionar aquilo que um filme deste género tem como missão... o que existirá para lá do óbvio?!
Formatos que todos estamos desde que nascemos que somos habitantes de um dos nove planetas do Sistema Solar, a vontade de conhecer esse desconhecido e compreender o que existe nos demais oito planetas é instantânea. Mas, e se para lá daquilo que pensamos conhecer existir todo um demais Universo com a dita vida inteligente que apenas aqui julgamos existir? E, nessa confirmação, até que ponto é tecnologicamente mais avançada do que nós? Quais os seus propósitos expansionistas (se é que alguns) e, finalmente, até que ponto essa inteligência, supostamente mais avançada, também o é a nível emocional?...
Habituado que está o espectador ao tal imaginário do espaço habitado por seres verdades nem sempre amistosos e equipamentos de transporte não só mais avançados como claramente bélicos contra aqueles que ocupam o Planeta Azul, a surpresa chega quando em FTL encontramos a confirmação dessa inteligência mais disponível para a aceitação do próximo (neste caso um inesperado e involuntário invasor na pessoa de "Ethan") como também se encontra a mesma pouco receptiva à sua extinção quando a nave em que viaja está a ponto de colapsar. Indiferentes à sua viagem? À sua permanência em território que não é seu? Pouco receptivos a que finalmente sejam explorados territórios para os quais ainda não se encontram emocionalmente preparados para visitar? Todas estas questões são levantadas pelo argumento de Stern e possíveis para a tal longa-metragem (esperada) que poderia daqui surgir deixando como ponto de partida o regresso de um astronauta que pensou conquistar, que se deixou levar pelas situações inesperadas de uma viagem improvável e que, finalmente, regressa a casa não pela sua mão mas pela do desconhecido e cujas intenções são - à partida - de inclusão num Universo que é, de facto, grande demais para que toda uma diversa "população" possa co-habitar sem a necessidade de invasão do espaço alheio.
Curiosamente positiva na sua mensagem e com um conjunto de efeitos especiais dignos de um filme de grande produção Hollywoodesca, FTL deixa o espectador impaciente, graças à sua dinâmica final, e receptivo a um fim mais inclusivo na medida em que essa vida pouco terrena seja mais compreensiva e dotada de maior compaixão do que aquela com quem potencialmente nos cruzamos diariamente.
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7 / 10
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Cara, fantástico seu texto. Assisti ao curta em 2023 e pesquisei achando seu texto. O impressionante é o quanto avançamos de lá de 2018 para cá em termos de tecnologia e Inteligência Artificial.
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