Intromissão de Francisco Morais e Miguel Pinto (Portugal) é uma curta-metragem que revela um dia de trabalho aparentemente normal na vida de Simão (Ricardo Pinto de Magalhães) mas que um dia recebe uma misteriosa chamada exigindo-lhe que confesse os seus mais escondidos segredos ou irá pagar as consequências.
Esta história assinada pela dupla de realizadores em colaboração com Mariana Morais é um ensaio sobre as consequências da revelação dos segredos inconfessáveis... Uma história que se prende com a chantagem, com a ameaça e com o desabar de toda uma vida de enganos quando presa nas mãos de um predador anónimo e implacável levando, no entanto, o espectador a ficar dividido entre uma qualquer empatia entre o protagonista e este carrasco. Se o primeiro é um indivíduo com uma vida dupla que oculta tudo àqueles com quem decidiu formar uma família e, como tal, condiciona o seu natural desenvolvimento e confiança que é, ao momento, cega, e um segundo que se assume como um justiceiro mas, ao mesmo tempo, não por um bom sentido na medida em que para obter a responsabilização dos actos de "Simão", exige que este termine com a sua vida familiar ou profissional como uma sentença anunciada sem julgamento prévio.
Assim, e divididos entre um protagonista presente e uma voz que de forma anónima controla os seus destinos, o espectador centra-se nas regras de jogo ditadas por este último e na decisão do primeiro que vê a sua vida a ruir a cada instante que passa. No entanto, se esta dicotomia entre personagens nos leva a criar os referidos polos opostos, é a interpretação de Ricardo Pinto de Magalhães que, no entanto, não deixa o espectador criar grande empatia com a sua personagem. Longe de qualquer sensibilização para com a sua história fruto eventual de uma qualquer pressão social que o levou a "mostrar ao mundo" aquilo que o mundo queria ver, Pinto de Magalhães concentra-se em pequenos exageros e tiques representativos para demonstrar a sua aflição mas pouca expressividade num rosto que parece descontrolado mas pouco emotivo, enervado e pouco sentido e sobretudo quase tão vilão como o próprio que o ameaça. Ao telefone, do outro lado, temos sim alguma expressão... um intenso e constante desdém, uma ameaça velada, sentida e marcada à qual o espectador não fica indiferente... e se esta compõe muito para a tensão dramática que aqui se espera, é Pinto de Magalhães que rapidamente a faz perder necessitando de mais concentração para espelhar esse medo, desespero e sobretudo noção de perda que a sua personagem faz adivinhar.
Com alguma intensidade pela sua mensagem e pela forma como é filmada que lança no pânico um homem que vê toda a sua vida a fugir-lhe das mãos, Intromissão vale pela sua narrativa mas fragiliza por uma interpretação pouco sentida e assumidamente exagerada desde os primeiros instantes em que se impõe como figura... mas pouco pela expressão dos seus sentimentos.
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5 / 10
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