Os Mortos de Gonçalo Robalo (Portugal) é um documentário em formato de curta-metragem presente na Competição Nacional da décima-quinta edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema que decorreu no passado mês de Maio, em diversas salas da capital.
O realizador no centro de uma história de vida - a sua - rodeada de momentos em que a morte esteve sempre presente. De forma bastante simples, é este o breve resumo de um dos filmes maiores que o IndieLisboa apresentou este ano e, arrisco dizer, a forma mais lúcida, íntegra, próxima, sentimental e mesmo emotiva que uma obra cinematográfica conseguiu atingir para falar da inevitabilidade de todas as vidas... a morte.
Desde um Prólogo onde o espectador conhece, pelas palavras do próprio realizador Gonçalo Robalo, a capacidade da sua avó em contar histórias sobre aqueles com quem se cruzara e principalmente sobre aqueles que já partiram e que sempre o aproximaram de uma talvez estranha mas obsessiva curiosidade sobre aqueles com quem o próprio convivera e que, ao longo dos anos, viu partir.
De 1985 a 2017, várias são as histórias que Gonçalo Robalo partilha, tal como a sua avó com ínfimo detalhe, sobre aqueles que lhe sendo próximos vira partir. Sempre acompanhado por fotos daqueles que (nos) apresenta, do cão da mãe aos avós, dos tios passando pelos pais da namorada e até ao próprio pai, o realizador entrega(-se) ao seu documentário e ao seu espectador de forma desarmante e lúcida conferindo uma humanidade francamente desconhecida à morte tanto no como fora do ecrã.
Qualquer um de nós opta de forma fácil e despreocupada por ignorar aquela última e final etapa pela qual todos iremos passar. Sabemos que ela é inevitável e, como tal, para quê manifestar uma preocupação com algo que está fora do alcance do nosso controle? No entanto, Os Mortos é um daqueles documentários que consegue conferir uma estranha mas reconfortante dignidade à morte através da empatia com que se fala daqueles que partiram e, obviamente, desse grande fantasma que paira no ar que é a Morte. O espectador, como consequência, aproxima-se também de todas aquelas pessoas que, sem alguma vez ter conhecido, se tornam próximas, reais e receptáculo de uma inesperada empatia que o leva a pensar que "esta pessoa poderia (poderá?) ser eu".
Cada segmento sempre acompanhado da fotografia daquele que é reconhecido enquanto alguém que "partiu", é repleto de pequenos momentos e detalhes sobre o mesmo. Ficamos a conhecer pequenos traços de perfil, breves histórias que eventualmente definem um pouco do carácter destas pessoas, humanizando-as para lá da sua fotografia e do simples registo de ter sido "alguém". Não vou ultrapassar os limites do bom senso caracterizando-os, a partir deste momento, como alguém que conhecemos, mas de certo modo é mesmo isto que acontece fazendo - este relato de Gonçalo Robalo - que o espectador consiga ver nas pessoas da sua vida alguém que o espectador consiga ver naqueles "seus" que também já partiram.
É então esta capacidade humanizadora de Os Mortos que mais seduz em todo este relato conseguindo criar durante os seus mais de vinte minutos toda uma empatia para com os vivos, compreensão para com os mortos e perceber que todos aqueles momentos que com eles partilhámos na (sua) vida deixaram(-nos) todo um conjunto de experiências e conhecimentos que aos poucos nos transformam - de forma quase inconsciente - e dando, ao mesmo tempo, uma certa perspectiva sobre a morte como mais uma etapa (a final) de todo um processo... temido... mas real, consistente e inevitável. Não choramos com este relato e estas histórias que nos são contadas na primeira pessoa mas, ainda assim, é no seu término que sentimos uma estranha impressão de que a veracidade das palavras aqui proferidas existe dentro de cada um de nós e que todos, sem excepção, conseguimos compreender que nos aproximamos dessa inevitabilidade... daquele momento em que equacionamos a vida enquanto tal e a morte como um seu parente (ou familiar) que com todas as suas pequenas grandes características (nos) define reconfortando-nos (ou não) e percebendo que todos aqueles que com quem convivemos nos "prepararam" - à sua maneira - para este final.
Assim, e sem palavras mais ou menos plásticas que caracterizem todos aqueles que conhecemos e nos conheceram, a melhor frase para todo este processo de vida e morte chega com a breve noção que o realizador nos entrega... todos somos bichos... e no final... bichos mortos. Todos tivemos o nosso momento e... um certo dia... ele termina sem qualquer aviso prévio. Tudo é cíclico, evolutivo e, finalmente, terminal deixando-nos apenas breves noções nunca confirmadas sobre como enfrentar esse momento específico. Preparados ou não... Os Mortos é um filme avassalador, intensamente tranquilo e profundamente pessoal. Sem margens para qualquer dúvida... um dos melhores filmes deste festival - desta e de outras edições - e um dos mais intensos sobre a realidade da morte.
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O realizador no centro de uma história de vida - a sua - rodeada de momentos em que a morte esteve sempre presente. De forma bastante simples, é este o breve resumo de um dos filmes maiores que o IndieLisboa apresentou este ano e, arrisco dizer, a forma mais lúcida, íntegra, próxima, sentimental e mesmo emotiva que uma obra cinematográfica conseguiu atingir para falar da inevitabilidade de todas as vidas... a morte.
Desde um Prólogo onde o espectador conhece, pelas palavras do próprio realizador Gonçalo Robalo, a capacidade da sua avó em contar histórias sobre aqueles com quem se cruzara e principalmente sobre aqueles que já partiram e que sempre o aproximaram de uma talvez estranha mas obsessiva curiosidade sobre aqueles com quem o próprio convivera e que, ao longo dos anos, viu partir.
De 1985 a 2017, várias são as histórias que Gonçalo Robalo partilha, tal como a sua avó com ínfimo detalhe, sobre aqueles que lhe sendo próximos vira partir. Sempre acompanhado por fotos daqueles que (nos) apresenta, do cão da mãe aos avós, dos tios passando pelos pais da namorada e até ao próprio pai, o realizador entrega(-se) ao seu documentário e ao seu espectador de forma desarmante e lúcida conferindo uma humanidade francamente desconhecida à morte tanto no como fora do ecrã.
Qualquer um de nós opta de forma fácil e despreocupada por ignorar aquela última e final etapa pela qual todos iremos passar. Sabemos que ela é inevitável e, como tal, para quê manifestar uma preocupação com algo que está fora do alcance do nosso controle? No entanto, Os Mortos é um daqueles documentários que consegue conferir uma estranha mas reconfortante dignidade à morte através da empatia com que se fala daqueles que partiram e, obviamente, desse grande fantasma que paira no ar que é a Morte. O espectador, como consequência, aproxima-se também de todas aquelas pessoas que, sem alguma vez ter conhecido, se tornam próximas, reais e receptáculo de uma inesperada empatia que o leva a pensar que "esta pessoa poderia (poderá?) ser eu".
Cada segmento sempre acompanhado da fotografia daquele que é reconhecido enquanto alguém que "partiu", é repleto de pequenos momentos e detalhes sobre o mesmo. Ficamos a conhecer pequenos traços de perfil, breves histórias que eventualmente definem um pouco do carácter destas pessoas, humanizando-as para lá da sua fotografia e do simples registo de ter sido "alguém". Não vou ultrapassar os limites do bom senso caracterizando-os, a partir deste momento, como alguém que conhecemos, mas de certo modo é mesmo isto que acontece fazendo - este relato de Gonçalo Robalo - que o espectador consiga ver nas pessoas da sua vida alguém que o espectador consiga ver naqueles "seus" que também já partiram.
É então esta capacidade humanizadora de Os Mortos que mais seduz em todo este relato conseguindo criar durante os seus mais de vinte minutos toda uma empatia para com os vivos, compreensão para com os mortos e perceber que todos aqueles momentos que com eles partilhámos na (sua) vida deixaram(-nos) todo um conjunto de experiências e conhecimentos que aos poucos nos transformam - de forma quase inconsciente - e dando, ao mesmo tempo, uma certa perspectiva sobre a morte como mais uma etapa (a final) de todo um processo... temido... mas real, consistente e inevitável. Não choramos com este relato e estas histórias que nos são contadas na primeira pessoa mas, ainda assim, é no seu término que sentimos uma estranha impressão de que a veracidade das palavras aqui proferidas existe dentro de cada um de nós e que todos, sem excepção, conseguimos compreender que nos aproximamos dessa inevitabilidade... daquele momento em que equacionamos a vida enquanto tal e a morte como um seu parente (ou familiar) que com todas as suas pequenas grandes características (nos) define reconfortando-nos (ou não) e percebendo que todos aqueles que com quem convivemos nos "prepararam" - à sua maneira - para este final.
Assim, e sem palavras mais ou menos plásticas que caracterizem todos aqueles que conhecemos e nos conheceram, a melhor frase para todo este processo de vida e morte chega com a breve noção que o realizador nos entrega... todos somos bichos... e no final... bichos mortos. Todos tivemos o nosso momento e... um certo dia... ele termina sem qualquer aviso prévio. Tudo é cíclico, evolutivo e, finalmente, terminal deixando-nos apenas breves noções nunca confirmadas sobre como enfrentar esse momento específico. Preparados ou não... Os Mortos é um filme avassalador, intensamente tranquilo e profundamente pessoal. Sem margens para qualquer dúvida... um dos melhores filmes deste festival - desta e de outras edições - e um dos mais intensos sobre a realidade da morte.
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"Narrador: Somos todos bichos e, no final, seremos todos bichos mortos."
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9 / 10
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