segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mariana (2011)

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Mariana de Maria João Carvalho é uma curta-metragem documentário apresentada no Córtex 2011 na qual a realizadora nos dá a conhecer em pouco mais de uns pequenos sete minutos a vida de uma mulher que já ultrapassa os noventa anos de idade.
Com contornos que tocam tanto na comédia como no drama, este pequeno documentário não deixa ninguém indiferente através das palavras e das histórias que aquela mulher ali nos conta sobre si e sobre a sua vida.
Comovente e muito bem estruturado esta tão pequena e simples obra não deixa de ser um dos melhores filmes que o festival de curtas de Sintra proporcionou àqueles que o acompanharam.
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9 / 10
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Universo de Mya (2010)

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Universo de Mya de Miguel Clara Vasconcelos passou na recente edição do Córtex em Sintra onde tive oportunidade de a ver.
Maria é uma jovem que recusa o mundo físico e assume um avatar de nome Mya. Aqui é interpretada por Catarina Wallenstein, Joana de Verona, André Nunes e Raquel de Oliveira.
Gostei da história e das reflexões que são feitas sobre assuntos tão próximos ou distantes como o corpo, o tempo, o divino, o amor ou a identidade. No entanto, algo me desiludiu. O facto desta história ser quase "contada" como se de um relato se tratasse e não uma "interacção" entre personagens e pensamentos deixou-me uma certa sensação agridoce.
A história tem muito potencial e os pensamentos que delam emanam acabam por a qualquer momento fazer parte das nossas próprias ideias, no entanto esta quase "não-representação" dos actores acaba por dar a sensação de boletim informativo e não de um filme.
Um viva para a captação de imagem e para o argumento... já a execução do mesmo (a nível de actores) acabou por não me agradar muito.
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6 / 10
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British Independent Film Awards: nomeações

BEST BRITISH INDEPENDENT FILM

Senna
Shame
Tinker Tailor Soldier Spy
Tyrannosaur
We Need to Talk About Kevin
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BEST DIRECTOR
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Ben Wheatley – KILL LIST
Steve McQueen – SHAME
Tomas Alfredson – TINKER TAILOR SOLDIER SPY
Paddy Considine – TYRANNOSAUR
Lynne Ramsay – WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
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THE DOUGLAS HICKOX AWARD [BEST DEBUT DIRECTOR]
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Joe Cornish – ATTACK THE BLOCK
Ralph Fiennes – CORIOLANUS
John Michael McDonagh – THE GUARD
Richard Ayoade – SUBMARINE
Paddy Considine – TYRANNOSAUR
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BEST SCREENPLAY
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John Michael McDonagh – THE GUARD
Ben Wheatley, Amy Jump – KILL LIST
Abi Morgan, Steve McQueen – SHAME
Richard Ayoade – SUBMARINE
Lynne Ramsay, Rory Kinnear – WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
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BEST ACTRESS
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Rebecca Hall – THE AWAKENING
Mia Wasikowska – JANE EYRE
MyAnna Buring – KILL LIST
Olivia Colman – TYRANNOSAUR
Tilda Swinton – WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
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BEST ACTOR
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Brendan Gleeson – THE GUARD
Neil Maskell – KILL LIST
Michael Fassbender – SHAME
Gary Oldman – TINKER TAILOR SOLDIER SPY
Peter Mullan – TYRANNOSAUR
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BEST SUPPORTING ACTRESS
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Felicity Jones – ALBATROSS
Vanessa Redgrave – CORIOLANUS
Carey Mulligan – SHAME
Sally Hawkins – SUBMARINE
Kathy Burke – TINKER TAILOR SOLDIER SPY
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BEST SUPPORTING ACTOR
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Michael Smiley – KILL LIST
Tom Hardy – TINKER TAILOR SOLDIER SPY
Benedict Cumberbatch – TINKER TAILOR SOLDIER SPY
Eddie Marsan – TYRANNOSAUR
Ezra Miller – WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
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MOST PROMISING NEWCOMER
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Jessica Brown Findlay – ALBATROSS
John Boyega – ATTACK THE BLOCK
Craig Roberts – SUBMARINE
Yasmin Paige – SUBMARINE
Tom Cullen – WEEKEND
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BEST ACHIEVEMENT IN PRODUCTION
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KILL LIST
TYRANNOSAUR
WEEKEND
WILD BILL
YOU INSTEAD
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BEST TECHNICAL ACHIEVEMENT
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Chris King, Gregers Sall – EditingSENNA
Sean Bobbitt – CinematographySHAME
Joe Walker – Editing SHAME
Maria Djurkovic – Production DesignTINKER TAILOR SOLDIER SPY
Seamus McGarvey – CinematographyWE NEED TO TALK ABOUT KEVIN
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BEST DOCUMENTARY
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HELL AND BACK AGAIN
LIFE IN A DAY
PROJECT NIM
SENNA
TT3D: CLOSER TO THE EDGE
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BEST BRITISH SHORT
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0507
CHALK
LOVE AT FIRST SIGHT
RITE
ROUGH SKIN
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BEST FOREIGN INDEPENDENT FILM
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ANIMAL KINGDOM, Australia
DRIVE, USA
PINA, Germany
A SEPARATION, Iran
THE SKIN I LIVE IN, Spain
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THE RAINDANCE AWARD
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ACTS OF GODFREY
BLACK POND
HOLLOW
LEAVING BAGHDAD
A THOUSAND KISSES DEEP
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domingo, 30 de outubro de 2011

Córtex 2011: palmarés

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Melhor Curta-Metragem: INFINITO, de André Santos e Marco Leão
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Prémio do Público: VIAGEM A CABO VERDE, de José Miguel Ribeiro
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Verónica (2010)

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Verónica de António Gonçalves e Ricardo Oliveira é mais uma das curtas que passou no Córtex 2011 e que nos transporta para um pequeno hotel de estrada gerido por um pequeno traficante de droga. O ambiente que se sente tenso apenas vai pior quando chegam duas mulheres que vão pernoitar por ali levando a uma desfecho que nenhum deles esperava.
Além das interpretações que a meu ver estão irrepreensíveis e deixam uma alegre sensação de frescura por ver caras novas no cinema nacional, os meus parabéns a João Craveiro, a Patrícia André e a Oceana Basílio, há também que dizer que esta história tinha pernas para andar muito mais além dos seus 18 minutos e que estes deixam uma sensação de amargo por não terem de facto durado mais.
Igualmente irrepreensível é a fotografia de Vasco Viana bem como os planos, para mim extremamente profissionais, deste dois realizadores que, pelo que me parece, têm este trabalho como um projecto de universidade. Se assim é, espero ansiosamente pelos próximos trabalhos ditos profissionais de ambos pois serão com certezas muito boas obras cinematográficas.
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6 / 10
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Lisboa - província (2011)

Lisboa - província de Susana Nobre foi apresentado na edição do Córtex deste ano pela realizadora como tendo sido feito com base num documentário que a mesma havia feito no IPO. Depois de uma investigação no arquivo do mesmo, é feita uma história ficcionada onde uma enfermeira vindo do Alentejo há vários anos atrás encontra o registo de uma sua amiga de infância que falecera de cancro.
Esta curta dá-nos a conhecer a vida clínica daquela doente e mostra-nos de uma forma avassaladora o arquivo onde centenas, se não milhares, de processos lá se encontram, correspondendo cada um deles a uma vítima desta terrível doença.
É interessante do ponto de vista documentário/ficção (que de ficção pouco tem além da "invenção" daquela suposta amizade), mas falta-lhe algo para lhe dar aquele impacto que só consegue ter pelas imagens desoladoras do arquivo do IPO.
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4 / 10
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Desassossego (2010)

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Desassossego de Lorenzo Degl'Innocenti é uma curta-metragem de animação que esteve em competição na edição deste ano do MOTELx e do Córtex em Sintra.
Esta curta transporta-nos para uma loja de produtos alimentares onde o seu funcionário é sistematicamente incomodado por todo o tipo de clientes com caprichos que ele já não consegue suportar. Não consegue especialmente porque o seu sonho de construir mobiliário é vezes e vezes sem conta interrompido por esses mesmos clientes.
Mas um dia... tudo muda...
Não posso deixar de referir o humor, algo negro, com que esta curta-metragem me surpreendeu. A mim e a todos aqueles que a visionaram na edição do Córtex onde a vi pela primeira vez. Os vários momentos em que aquele homem é selvaticamente perturbado deixariam qualquer um de nós em desespero... mas o que é certo é que também não deixamos de rir com os comportamentos "alternativos" que aquela clientela tem.
Muito boa animação, não só pela qualidade das próprias personagens que denotam claramente ter uma personalidade própria, como também pelo excelente argumento que não deixa ninguém indiferente.
Esta curta prova que se há tanta coisa em crise, uma delas não será certamente a criatividade do cinema português.
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8 / 10
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Incontrolável (2011)

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Incontrolável de João Henriques é uma curta-metragem amadora de suspense que centra a sua história na (con)vivência de três irmãos, e de uma misteriosa rapariga que a irmã mais nova encontra.
Não duvido do trabalho que esta curta-metragem deu ao seu realizador mas, no entanto, há que dizer que são mais os aspectos negativos a apontar do que propriamente os positivos. Começando pela parte boa, apesar de um pouco previsível em certos aspectos, nomeadamente no facto da irmã mais velha ser afinal a má da fita, gostei do argumento. Há algo nestas histórias onde uma das personagens tem um qualquer desequilibrio que me agrada. Talvez pelo facto de, normalmente, estas serem personagens ricas e que muito contribuem para o sucesso de qualquer filme, seja ele uma curta ou uma longa-metragem.
A banda-sonora é outro dos aspectos positivos. Gostei das sonoridades escolhidas para criar ambiente nesta curta mas, atenção, isto funciona também pelo lado negativo. Existe uma quantidade desnecessária da mesma nos momentos de diálogo dos jovens actores o que, normalmente, funciona mais como uma desvantagem tal como aqui acontece. Isto aliado ao facto de o som não estar nas melhores condições, oscilando muito entre as variadas falas, torna em muitos momentos quase imperceptível compreender o que dizem.
O segundo aspecto a comentar são as mudanças de planos que não são feitas nas melhores condições. Em certas situações existem movimentos de câmara que tornam um pouco complicado seguir a acção com fluidez deixando-nos um pouco "tontos" por estar a olhar para as imagens.
Finalmente, o terceiro aspecto que tenho a referir como mais negativo é a caracterização da actriz com aquela imensa peruca preta. Em primeiro lugar porque é difícil de acreditar que a irmã mais nova não a reconhecesse apenas pela peruca e em segundo lugar less is more... Não é aquela peruca que dará à actriz uma dupla personalidade... para isso bastaria uma simples mudança no seu comportamento o que não só lhe daria mais credibilidade como também nós, enquanto espectadores, não perderíamos tempo a olhar para o facto da dita peruca ser falsa.
Finalmente um destaque positivo para o cartaz muito bem pensado digno de um grande profissionalismo. Ao realizador, apesar dos comentários não serem os mais positivos, aguardo por futuros trabalhos.
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2 / 10
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sábado, 29 de outubro de 2011

In Hell (2003)

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Prisão Infernal de Ringo Lam é aquilo que é, arrisco dizer, um dos melhores filmes que Jean-Claude Van Damme nos deu nos últimos largos anos (tendo sempre em consideração o estilo de filme de que se trata.
Kyle LeBlanc (Van Damme) é um americano a trabalhar na Rússia que depois da morte da sua mulher e de declarada a inocência do seu assassino resolve fazer justiça pelas próprias mãos. Depois de preso e remetido para uma prisão de alta segurança onde só parecem estar os piores criminosos do mundo, Kyle não só terá de sobreviver ao desgosto da morte da sua amada como sobreviver na prisão num mundo bem mais cruel do que aquele que existia fora dela.
Antes de dizer seja lá o que fôr sobre este filme, assumo que o gosto de ver bem como à quantidade infindável de filmes deste estilo que tanto Van Damme como Steven Segal ou Chuck Norris fizeram e fazem. Não quero com isto dizer que eles estão na minha lista de preferidos ou daqueles que considero os melhores do mundo mas o que é certo é que não deixam de ser interessante exemplares de acção para aqueles momentos em que não só não queremos pensar muito como ainda para as ocasiões em que queremos um pouco mais de adrenalina que é como quem diz um pouco de "murro e pontapé".
Dito isto, e mantendo-o presente durante o resto do comentário, é impossível não gostar deste filme mesmo com todos os clichés a que assistimos até que o filme acabe. Vamos começar pela evidência... um casalito que nunca fez mal a ninguém é vítima de um brutal acto da vandalismo que resulta na morte da mulher. A justiça que tarda e raramente chega leva o marido a procurar a justiça pelas suas mãos e como tal é enviado para uma prisão onde nenhum dos que por lá estão são flores que se cheirem. Aqui não só tem de sobreviver à loucura, ao assédio, à pressão e à violência como tenta impôr a justiça àqueles que dela pouco querem saber. Cliché atrás de cliché e temos este filme totalmente explicado.
Pontos fortes? Bom, repetindo que temos de ter em atenção o estilo de filme que é, tem alguns. As intermináveis sequências de acção que são "fortes e feias", fazem valer o filme. Não têm qualquer tipo de explicação racional além de serem violência pelo seu puro prazer. No entanto, verdade seja dita, são elas que fazem deste filme alguma coisa. E ela é praticada por tudo e todos enquanto o filme decorre... pelo próprio sistema judicial, pelos guardas, pelos outros prisioneiros e até pelo próprio Kyle que insiste em se juntar a ela em vez de se lhe opôr. Mas nós gostamos... Sabemos que mais tarde ou mais cedo toda aquela "calmaria" vai ser contrariada.
Os pontos fracos... bom... esses... começamos pelo facto de estarmos a falar numa prisão russa que mais parece ser no México pela quantidade de presos latino-americanos que lá tem. Facto pouco credível ou consistente mas que nós até deixamos passar pelo "bem" do filme de acção que ele é.
Os flashbacks são outro aspecto negativo. Além de um tanto mal feitos remetem um dramatismo descontextualizado ao filme. Ao tentar que estes sejam os momentos "lúcidos" do filme, acabam por não se conjugar com absolutamente nada sendo apenas "algo" que ali foi editado. E isto já para não falar em todo o simbolismo da borboleta que se torna, arrisco dizer, quase absurdo.
Se olharmos para este filme apenas e só como um de acção, é impossível não o achar interessante e até, em determinados momentos, bem conseguido por não tentar ser mais do que aquilo que é. Mas se pensarmos no lado dito "filosófico" que pretende mostrar, e na tentativa de desenvolver o dramatismo que tem em segundo plano... então aí temos tudo estragado.
Apesar de bem feito, para o estilo, não consegue ser um filme bom... apenas um filme que nos distrai pelas suas sequências de acção e de luta.
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5 / 10
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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Um Dia Longo (2011)

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Um Dia Longo de Sérgio Graciano é uma curta-metragem de ficção deste realizador de quem espero ainda ver muitos e produtivos trabalhos.
Nesta curta acompanhamos um dia na vida de João (Miguel Mestre), o dia em que esta criança descobre que o seu avô faleceu. Através dos seus olhos, e do mundo que o rodeia, vemos como ele recorda o avô, os momentos que com ele passou bem como nos revela os pequenos segredos que com ele mantinha.
Com João está Luísa (Catarina Mago) a jovem que não só cuidar dele enquanto os pais vão para o velório como também está a atravessar os seus próprios dramas pessoas através de uma gravidez não planeada.
Esta excelente curta-metragem que une pequenos momentos de comédia num ambiente profundamente dramático consegue ainda fazer uma muito bem estruturada história onde a vida e o nascimento se cruzam de muito perto com a perda e a morte com a singular particularidade de tudo ser visto através dos olhos de uma tão pequena criança.
Um Dia Longo é uma muito simples, mas nada simplista, curta-metragem dotada de uma extraordinária, melodiosa e igualmente simples banda-sonora da autoria de André Joaquim, e que culmina com um comovente final do qual não me irei esquecer.
Ao Sérgio Graciano... obrigado por fazer cinema assim.
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8 / 10
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Infinito (2011)

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Infinito de André Santos e Marco Leão é uma curta-metragem portuguesa de ficção, que vi no decorrer do primeiro dia do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra, que acompanhamos quase em silêncio absoluto. Silêncio humano. Os sons da Natureza, do vento nas árvores e da água são constantes e preenchem quase em absoluto a própria curta.
Estes sons só são momentaneamente interrompidos pelo som de uma criança a chorar que, pelo que percebemos, vive com a sua mãe dentro de uma tenda entre toda aquela vida natural numa alusão que quase arriscaria dizer à Mãe-Natureza.
A fotografia e a descrição visual da vegetação, da água e, no fundo, de todo o meio envolvente acabam por ser os pontos mais fortes desta curta que, em termos de argumento, é francamente pobre.
Com algumas premissas interessantes, nomeadamente as que referi anteriormente, não conseguem ainda assim ser as suficientes para a tornar uma curta estimulante.
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2 / 10
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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Signs (2008)

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Sinais de Patrick Hughes é uma curta-metragem australiana sobre o amor e os sinais. Descobri esta curta quase por acidente e devo confessar que foi dos melhores acidentes que alguma vez me aconteceram.
Jason (Nick Russell) é um tipo solitário que vive sem a perspectiva de ter ao seu lado alguém que lhe dê companhia, amizade e amor. Tudo isto até ao dia em que olha para o prédio do lado e "conhece" Stacey (Kestie Morassi) que, tal como ele, passa os seus dias simplesmente a trabalhar.
A relação, ou espécie de, que os dois desenvolvem a partir desse momento é simplesmente genial e deliciosa de se ver. Temos a perfeita história de amor cinematográfica que a todos irá agradar, contrariando a enorme tendência a que assistimos no início onde a solidão e a tristeza são as palavras de ordem.
De destacar ainda a originalidade desta curta em transmitir tanta emoção e sentido apenas e só através de pequenas mensagens escritas pois, à excepção de uma muito bem colocada banda-sonora, toda a curta é... muda. Genial e imperdível vale muito todos os minutos da sua duração.
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10 / 10
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Córtex - Festival de Curtas Metragens de Sintra 2011

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PROGRAMAÇÃO
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27 de Outubro (21:30)
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Um Dia Longo, de Sérgio Graciano
Desassossego, de Lorenzo Innocenti
Justino, Carlos Amaral
Infinito, de André Santos e Marco Leão
A Cova, de Luís Alves
O Voo da Papoila, de Nuno Portugal
Viagem a Cabo Verde, de José Miguel Ribeiro
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28 de Outubro (21:30)
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Carne, de Carlos Conceição
Homenagem a Quem Não Tem Onde Cair Morto, de Patrick Mendes
Conto do Vento, de Cláudio Jordão
Vicky & Sam, de Nuno Rocha
O Tenente, de Rafael Martins
Nocturnos, de Aya Koretzky e Rodrigo Barros
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29 de Outubro (21:30)
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Verónica, de António Gonçalves e Ricardo Oliveira
Pickpocket, de João Figueiras
O Universo de Mya, de Miguel Clara Vasconcelos
Lisboa - Província, de Susana Nobre
Os Milionários, de Mário Gajo de Carvalho
Mariana, de Maria João Carvalho
Broken Clouds, de Yuri Alves
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30 de Outubro (17:00)
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Le Frére, de Jullien Darras
Ctin!, de Cyrelle Trevon
Yoni & Tadeo, de Rómeo de Melo Martins
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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

The Family Stone (2005)

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A Jóia da Família de Thomas Bezucha é um excelente e surpreendente filme de família que tive a sorte de ver pela primeira vez muito recentemente.
A história gira em torno de Meredith (Sarah Jessica Parker), uma executiva conservadora que acompanha Everett (Dermot Mulroney), o seu namorado, na visita à família durante as festividades de Natal.
Aquilo que Meredith não esperava eram as diversas confusões e conflitos que esta suposta pacífica visita iria ter e muito menos apaixonar-se por outro homem... Ben (Luke Wilson), o irmão de Everett, e isto numa altura em que Sybil (Diane Keaton) a mãe do extenso clã, vive um grande drama pessoal.
Como em todos os filmes deste género não só acompanhamos a história através dos seus inúmeros momentos de comédia como muito especialmente dos dramáticos que acabam por compôr a linha fundamental de todas as personagens.
O elenco onde para além dos nomes já mencionados se destacam ainda as participações de Claire Danes, Craig T. Nelson e Rachel McAdams, não poderia estar mais em sintonia. Para Sarah Jessica Parker, que aqui recebeu uma nomeação ao Globo de Ouro de Actriz Comédia, foi um desempenho surpresa bem interessante. E digo surpresa por apesar de ser uma interpretação em tons de comédia faz com que a actriz de "descole" da sua eterna prestação na série Sexo e a Cidade. Aqui a sua interpretação como uma mulher algo austera, contida mas com um bom coração consegue convencer de que é capaz de muito mais do que aquilo que nos últimos anos nos tem mostrado com a tão afamada série (que aliás também aprecio).
Este filme, ou melhor este género de filmes, acaba por funcionar não com um actor ou actriz em destaque mas sim com um aglomerado de todos eles que com algo que lhes é característico contribuem para uma grande "massa" conjunta. Quero com isto dizer que o filme não funcionaria de outra forma ou com actores a menos. Todos eles desempenham o seu papel muito específico e, de uma ou outra forma, complementam-se. Encaro isso como uma forma positiva, atenção sempre considerando que isto é um filme de família e como tal todos devem ter o seu espaço ao protagonismo próprio, e é exactamente isso que acontece. Cada actor funciona como uma peça-chave para o bom funcionamento de todo o conjunto.
Finalmente falando do argumento também da autoria de Thomas Bezucha, este faz-nos sentir como se estivessemos de facto a assistir a um fim-de-semana em família onde todos acabam por discutir ou se desentender mas em que todos também sabem ser ali o seu lar e o local onde podem sempre encontrar o seu refúgio. Existe uma dinâmica bastante boa entre os actores, o argumento e a direcção que nos faz acreditar que ali sim reside uma família. Família essa que se prepara para receber um elemento novo mas que depois na realidade recebe dois (não vou divulgar quem, isso tem de ser visto), e a forma como ela reage à "invasão" desses mesmos novos elementos. Interessante esta dinâmica de auto-protecção... a preservação dos "seus".
Este filme consegue ser bastante emocionante. Emocionante e emotivo apelando não facilmente mas de forma certeira às emoções de cada um como se um elemento da nossa própria família se tratasse. Pensamos quase de imediato no "e se fosse com os meus?". É talvez aqui que resida o elemento mais forte deste filme que assim consegue conquistar de uma forma certeira os espectadores.
Gostei das pequenas nuances... das clivagens existentes entre os familiares... dos medos e receios... das expectativas... do abdicar de algo em nome da felicidade do "outro"... afinal, de tudo aquilo que na realidade esperamos quando estamos a assistir a uma história sobre aquilo que é o mais fundamental de todos os seres... a família.
Um filme bastante bom, coerente, cómico e dramático que assumidamente não esperaria ver passar tão tarde num canal de televisão... àquelas horas em que infelizmente poucas pessoas o iriam ver. O que é uma pena pois é um filme francamente bom.
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"Meredith Morton: Isn't there anybody that loves me?"
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8 / 10
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Prayers for Bobby (2009)

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Orações para Bobby de Russell Mulcahy telefilme baseado em factos verídicos com a interpretação principal a cargo de Sigourney Weaver que com este desempenho foi nomeada para o Globo de Ouro, para o SAG e para o Emmy na sua categoria.
Este filme conta-nos a história de Bobby Griffith (Ryan Kelley) um adolescente que assume a sua homossexualidade a uma família religiosa e ultra-conservadora, e encontra na figura da sua mãe Mary (Weaver) uma oposição sem limites. Para Mary esta nova condição do seu filho é abominável e ela não concebe um mundo onde ele será condenado ao inferno, criando assim um distanciamento do filho que o levará a um isolamento sofrido em silêncio e ao seu consequente suicídio.
Este pequeno grande drama familiar tem logo à partida a atenção de muitos cinéfilos, nos quais me incluo, pela participação de Sigourney Weaver que parece estar cada vez mais afastada das luzes da ribalta apesar de ainda estar bem activa (felizmente) na sua profissão. Confesso que só a ideia de a ter uma vez mais de volta ao grande, neste caso pequeno, ecrã, é já motivo de satisfação suficiente. Mais ainda quando depois de ver este filme percebo que estou perante um dos seus grandes desempenhos dos últimos tempos e que, caso tivesse sido feito para cinema e não para a televisão, até arriscaria dizer que estaria aqui a sua quarta (e tão desejada) nomeação a Oscar.
Não só a participação de Weaver é excelente como toda a história em si é digna de um comovente filme que não deixará ninguém indiferença à sua poderosa mensagem e alerta. Como já referi, este filme mostra-nos brevemente o excelente ambiente familiar que existia na casa da família Griffith. Crentes e respeitadores das leis de Deus, uma família unida e com elevada percepção do significado da palavra família, os Griffith deparam-se com a homossexualidade de um dos seus filhos. Esta descoberta leva-os, principalmente à sua conservadora e temente a Deus, mãe que tudo faz para tirar tão impuros pensamentos da cabeça do filho esquecendo-se, por sua vez, da própria dor que causava o mesmo o facto de saber que acima de tudo estava a magoar aqueles que mais amava.
A dar corpo, e digamos alma também, a Bobby temos um notável Ryan Kelley que a todos os momentos em que aparece no ecrã nos brinda com momentos de pura emoção, transmitindo apenas com o seu olhar toda a dor e peso do mundo. Se Weaver foi nomeada para todos os prémios possíveis com esta sua interpretação, é justo dizer que Kelley também o deveria ter sido. Os dois, não actuando sempre em conjunto, fazem a dupla perfeita num filme que em vários momentos emociona o coração dos mais duros.
O jovem que na vida real não suportou a sua dor e achou que a única solução que teria para lhe escapar era o suicídio, tendo assim posto termo à sua própria vida, deixou um legado bem maior do que aquele que alguma vez imaginaria ter. Não só deixou um importante testemunho que ainda hoje permanece importante para as mentalidades que resolvem pertencer a outros séculos sobre o facto de não importar quem se ama, o importante é sim um dia poder dizer que se amou alguém, como também deixou uma verdadeira prova ou teste, à real dimensão do amor que a sua própria família sentia por si. Amor esse que apesar de nunca ter desaparecido andou sim escondido durante algum tempo e só se revelou após a sua trágica morte.
De notar é ainda como a sociedade tão aberta e liberal como a norte-americana (pensamos nós) se mantinha (mantém) ainda tão conservadora ao ponto de se condenar o amor. De notar também como se espelha a palavra de Deus como sendo recriminadora quando ao mesmo tempo se apregoa que "Deus é amor" e que "todos são feitos à sua imagem".
Muitas, e todas elas fortes, são as mensagens que este muito interessante e muito bem representado filme tem e a mais importante, para mim, é o facto de nos transmitir uma ideia que se baseia simplesmente no preconceito de se poder "catalogar" alguém com base em "diz-me quem amas e dir-te-ei quem és" em vez de naquilo que de facto poderá ser importante, ou seja pensar em "diz-me como te amam e dir-te-ei quem és?". Above all things love should be the one and only thing that matters...
Forte é também o discurso final que Mary Griffith (Weaver) faz já bem perto do final deste telefilme. Uma frase em particular despertou-me o interesse e por isso a transcrevi no final deste comentário como sendo a mais significativa de todo este argumento. Antes de verbalizar um "amen" sobre uma ideia como sendo essa a verdadeira palavra de Deus... há que ter especial atenção às crianças que partilham o mesmo espaço. As crianças que em formação individual captam tudo aquilo que os seus progenitores dizem, fazem e aplicam como sendo certo pois são elas que, enquanto adultas, irão praticar, condenar, exercer o que ouviram e viram aplicar em crianças. Somos nós enquanto adultos que as estamos a ensinar e educar sobre o que está certo e errado na vida e elas, um dia mais tarde, irão reproduzir os ensinamentos que lhes damos.
Forte... aliás, muito forte é a mensagem que este filme tenta, e consegue, transmitir, e só é pena que este filme tenha passado quase praticamente não anunciado, pois não só é bom cinema (ok, é telefilme mas ainda assim a palavra-chave é BOM), como é bem interpretado, tem um bom argumento, é baseado numa história verídica e acima de tudo a sua mensagem não deve (não deverá) passar sem ser conhecida.
Sigourney Weaver no seu melhor... por favor volta com mais filmes destes que são imperdíveis.
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"Mary Griffith: Before you echo "amen" in your home and place of worship... Think. Think and remember a child is listening."
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8 / 10
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Snow White (2001)

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Branca de Neve de Caroline Thompson é um telefilme que recria de uma forma algo diferente a intemporal história da Branca de Neves e dos Sete Anões (que aqui são mais seis que sete).
Quanto à história não vale a pena referir nada pois todos conhecem as aventuras dos sete anões que tudo fazem para proteger a integridade daquela princesa fugida de tão malvada madrasta. No entanto é importante referir que existem algumas modificações à história que tão habituados estamos a conhecer, nomeadamente no que diz respeito ao facto de serem realmente sete os protectores da jovem princesa mas que apenas seis são anões... sendo um sétimo um tanto... maior.
De referir ainda a presença do princípe que assume aqui outras formas e do próprio espelho que a malvada raínha "consulta" ter, neste telefilme, vida e personalidade próprias.
Apesar de não ser um filme mau é, no entanto, menor em relação às anteriores versões que foram feitas. A criativdade que aqui assume contornos bem vincados nos aspectos que referi anteriormente dão claramente uma nova perspectiva sobre esta história mas, ao mesmo tempo, retirar alguma beleza à mesma. Que se gabe a inovação mas a história perde no que à magia diz respeito.
A caracterização, apesar de em certos casos ser nova devido à inserção de personagens até aqui desconhecidas, está de parabéns. O mesmo se poderá dizer quanto ao guarda-roupa que mostra um elevado profissionalismo, mas também não seria de esperar outra coisa considerando que é com este género de filmes que este aspecto mais brilha. Os efeitos especiais que não são maus, revelam já mais no final um certo, atrevo-me a dizer, amadorismo ao colocar imagem real e ficcionada juntas notando-se claramente uma sobreposição de imagem.
Gostei de ver Miranda Richardson assumir-se, mais uma vez, como a vilã de serviço. Aprecio esta actriz até em todas as suas interpretações. Torna-as suas e sabemos que dali só vai surgir o melhor e ao fazer de vilã podemos realmente contar com o melhor de todo um filme. Igual elogio vai para Vera Farmiga que numa das mutações de Richardson assume ela o desempenho de vilã, numa rara mas muito enérgica e gélida personificação do mal pelo rosto desta tão angelical actriz. São realmente os pontos altos da representação deste filme.
Como uma breve apreciação final só posso dizer que este não será nem de longe aquele filme que todos irão apreciar. Para muitos desilude, e eu sou um desses, não por estar mal feito (que não está), mas por desconstruir uma história que todos conhecemos e gostamos, modernizando e levando-a por caminhos que não só não estão bem explorados como também não foram bem conseguidos. É simplesmente... diferente. Não pior... mas diferente. E o problema é que essa diferença não foi conseguida da maneira que poderia tornar este telefilme em algo bom, remetendo-o por sua vez para o mediano.
Na maioria dos aspectos técnicos até está bem conseguido mas isso não chega para se tornar num filme referência do género. Agradável, com elementos bem pensados mas muito longe do que poderia ter sido. Um típico filme de família sem muitas ambições.
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6 / 10
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domingo, 23 de outubro de 2011

The Mangler Reborn (2005)

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Mangler Reborn - O Massacre Continua de Erik Gardner e Matt Cunningham é o perfeito filme para se poder dizer que adoramos detestar. Não só é um filme de terror feito como sequela como além disso é feito directamente para o mercado de aluguer que é como quem diz passa "quase" completamente despercebido. Isto claro, até ao dia em que um qualquer canal de televisão o resolve passar às tantas da manhã e assim dizer que tem um ciclo de cinema de terror.
Dito isto temos a continuação da história da máquina que se apodera da mente de um qualquer humano de "segunda categoria", aqui na pele de um canalizador suburbano, e que se diga magnificamente interpretado por Weston Blakesley, que entra num ritual de matança às ordens da respectiva devoradora de carne humana.
Não só assistimos a uns quantos raptos dignos de um filme de terceira categoria que mais vontade de rir dão do que susto, se bem que existe aqui um misto de ambos, como além disso chega uma dada altura que temos um literal banho de sangue e de grotesco que não lembra a ninguém.
Por um lado o filme aparenta logo de início não ser lá grande especialidade, mesmo para o género que representa, no entanto, por outro lado, é certo que é daqueles filmes que nós simplesmente não conseguimos deixar de ver do princípio ao fim (eu que o diga que vi duas vezes quase seguidas).
Os cenários são pobres. Facilmente seriam filmados numa qualquer vivenda abandonada no meio do nada pois é isso que, no mínimo, aparenta a casa onde os reféns se encontram.
Por sua vez o argumento não só é pobre e completamente previsível como recorre àqueles clichés típicos deste género de filmes. Temos uma casa supostamente deserta durante a maior parte do dia mas, note-se que há sempre um "mas", há sempre um ladrão pronto para entrar naquela casa específica e efectuar aí o "assalto do ano", e isto com dezenas de outras casas mais apelativas nas redondezas.
Obviamente que não é uma especialidade mas também não deixa de ser óbvio que é um filme que nos entretém e deixa, não direi bem dispostos mas... satisfeitos como a noite cinematográfica. Não pela qualidade do filme pois na prática, e com o devido respeito para todos os intervenientes, não a tem, mas sim pela capacidade que tem de se tornar um filme que queremos ver. Aquele filme que, como disse logo no início, adoramos detestar.
Tenho a certeza que os fãs do género, e possivelmente apenas e só esses, conseguem perceber exactamente aquilo que pretendo transmitir. Que ninguém vá a pensar que é um filme de terror que irá provocar muitos sustos pois isso... nem de longe.
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2 / 10
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sábado, 22 de outubro de 2011

Intercambio (2010)

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Intercâmbio de Antonello Novellino e Antonio Quintanilla é uma curta-metragem de ficção espanhola que nos transporta para uma pequena vila de interior que se encontra cercada por soldados que a pilham de todos os seus mantimentos deixando assim a população literalmente à fome.
Em tempos de crise e em que tudo escasseia sente-se esta pequena aldeia literalmente a desaparecer... ela e a sua população que aos poucos se reduz. Os militares assumem que vedaram todo e qualquer acesso de e para a aldeia. Para onde irão então os seus habitantes que misteriosamente desaparecem?
Gostei bastante desta curta que mantém do princípio ao fim o mistério e o suspense e consegue ainda assim evidenciar um desespero constante das suas personagens.
Foca acima de tudo os instintos de sobrevivência do ser humano e até onde ele está disposto a ir para conseguir ultrapassar as mais sérias dificuldades. Como o Homem abandona o seu estado dito normal para mostrar o mais sério selvagem que esconde no seu dia-a-dia e que aqui, em circunstâncias extremas, o faz acordar.
Muito boa desde a fotografia às interpretações sem esquecer claro o seu excelente argumento. A única coisa que fico a desejar depois de a ver é que pudesse ter sido uma longa-metragem onde todas as personagens pudessem ter tido um relativamente maior aprofundamento das suas histórias.
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8 / 10
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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

The Nines (2007)

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Os Noves de John August tem como trio protagonista Ryan Reynolds, Melissa McCarthy e Hope Davis naquela que é uma história mais "enrolada" e desinteressante do que propriamente apelativa e estruturada.
Gary (Reynolds) é um conceituado actor em rota de colisão com tudo e todos. O seu passatempo preferido quando não filma é o consumo de crack que o leva a estados completamente alterados ao ponto de ser colocado em prisão domiciliária ao mando da sua publicitária Margaret (McCarthy).
É durante esta detenção que Gary encontra bilhetes pela casa de que não se lembra ter escrito. Ouve ruídos estando sózinho em casa e ocasionalmente parece que vê outra imagem sua naquela mesma casa.
Dividido naquilo que se pode chamar de três capítulos, os dois seguintes a esta pequena introdução servem quase unica e exclusivamente como uma explicação do que realmente se passa na parte inicial. Assim, indo de explicação em explicação, o filme que inicialmente até prometia ser algo de interessante acaba por se perder definitiva e literalmente à medida que cada segundo avança.
A explicação de como alguns indivíduos são um 9, que é o mesmo que dizer que está na escala hierarquica abaixo de Deus, e outros estão entre 6 e 8 não convence. Parece que estamos a assistir a uma catalogação das figuras de Estado norte-americanas, as quais precisam de um dado número para saber quem é o seguinte na linha de sucessão. Enfim... muita demagogia e pouca história que, como disse, se perde há medida que o filme avança.
As três histórias que têm aparentemente uma ligação entre si, conseguem tornar-se cada uma pior que a anterior e salvo raros, muito raros, momentos em que alguma coerência parece despertar no meio do "nada", tudo o resto a que assistimos é uma tentativa falhada de intelectualizar uma história que tem muito pouco conteúdo. Aliás... o conteúdo até lá pode estar (perdido), o mal é estar tudo completamente descontextualizado.
As interpretações, à excepção de McCarthy que até consegue dar um ar de sua graça e afirmar-se num filme pobre, são também elas pobres. Ryan Reynolds parece a partir do segundo capítulo, tão perdido quanto nós espectadores. Deambula num filme à custa de meia dúzia de frases feitas e de uma suposta interpretação sensível que não vence e muito menos convence. E Hope Davis vai pelo mesmo caminho não conseguindo convencer ninguém de que é a "bad girl" lá do bairro.
Octavia Spencer, que insiste (ou insistem) em ser a actriz secundária fetiche de muitos filmes interpreta aqui aquele que é possivelmente um dos melhores segmentos do filme, no qual encarna uma prostitua pronta para alucinar com o crack alheio. Tendo graça e fazendo rir, nem isso consegue salvar o filme daquilo que ele é na prática... muito pouco.
Este tipo de filmes com um argumento com potencial que se deixam levar por alguns devaneios intelectuais onde a história tem de ter um qualquer sentido "superior" que poucos vão perceber acabam, normalmente, por se perder nesse próprio enredo e não conseguir dar nem um décimo daquilo que poderiam ter sido. Assim, uma história que até tinha pernas para andar e conseguir seduzir pelo menos um público específico acaba por ser mais aborrecido e desinteressante do que sequer conseguir convencer o público que assiste à sua projecção.
Valer a pena ver... bom... pode valer apenas pela curiosidade, como foi o meu caso, ou então para fãs de algum dos actores envolvidos porque de resto o filme não compensa a atenção que damos ao tempo em que estamos a vê-lo.
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2 / 10
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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Zodiac (2007)

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Zodiac de David Fincher, realizador de quem assumo desde já ser admirador, foi um filme que só muito recentemente vi. Desencontrado do filme no circuito de aluguer foi só há bem pouco tempo que o consegui ver à venda e imediatamente comprei. Tardou mas chegou a altura de o conseguir finalmente apreciar.
A história baseada em factos reais conta-nos os acontecimentos que se iniciaram no final da década de 60 e que percorreram os anos já até ao início do século XXI que davam conta da actividade do assassino Zodiac que depois de cometer os crimes enviava longas e detalhadas cartas para os jornais a relatar os factos.
Longe de ser apenas uma história sobre um assassino, é também a história das vidas daqueles que acompanharam de perto tda a investigação sobre a misteriosa identidade deste homem que conseguiu durante todo este perído ludibriar as investigações que foram feitas sobre o caso e especialmente sobre si.
Conhecemos Paul Avery (Robert Downey Jr.), o principal reporter a investigar este caso que pela incapacidade de comprovar a verdadeira identidade do assassino acabou dependente do alcoól e na ruína. Temos ainda uma outra figura central neste caso, ou seja, David Toschi (Mark Ruffalo), o polícia que investigou de bem perto este caso, que chegou a ter o verdadeiro culpado sob interrogação e vigilância mas que, por meios retrógrados e inquestionáveis o teve de deixar seguir a sua vida. E finalmente temos o terceiro mas não menos importante interveniente Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), o cartoonista que na sombra assistiu a todas as investigações mas que se tornou no homem que conseguiu de facto provar a identidade de tão monstruoso assassino.
Este filme que na prática nos relata todo o processo de investigações, quer policias quer jornalisticas e privadas, que se arrastaram durante praticamente três décadas, os seus sucessos e ineficácias, atrasos, medos constantes por parte dos envolvidos em receber mais uma carta com relatos de uma mente bem perversa, é no fundo bem mais do que isso.
Aqui sim assistimos a essas investigações mas como pano de fundo temos os resultados práticos que as mesmas tinham nas vidas daqueles que as efectuvam. Vidas solitárias que se corrompiam pelo alcoól, famílias que aos poucos se desintegravam graças à obsessão em tentar identificar e deter um homem que a qualquer momento ameaçava cometer outro(s) assassinato(s) e também assistimos à destruição de sólidas e bem estabelecidas carreiras que ficavam ameaçadas por pequenos actos que os tornavam a eles suspeitos de alimentar um caso que deveria ser encerrado.
Os dramas humanos que começavam a afectar as vidas destes homens tanto devido à difícil resolução do caso como pelo desgaste a que eram diariamente sujeitos torna-se aos poucos o principal elemento deste, arrisco dizer, grande filme. As diversas histórias destas homens bem como a investigação policial efectuada conseguem interligar-se de uma forma perfeitamente natural onde o trágico destino destas pessoas acaba por ser quase tão dramático como o destino daqueles que morreram às mãos deste assassino.
Gostei particularmente da interpretação deste trio de actores que são bons naquilo que fazem mas que às mãos do génio que é David Fincher ganham uma nova dimensão para as suas capacidades. Interpretações que começam quase alvas e cheias de esperança, de justiça e de sonhos e que muito rapidamente se deixam embrenhar pelo lado mais negro da vida... ganham uma dimensão demasiadamente real e humana típica da sociedade actual e dos meios em que viviam. Estranho como este filme que era apontado como um dos preferidos aos Oscars não obteve nem uma única nomeação para os mesmos. Não que isso tire importância aos filme ou às interpretações que o compõem mas, verdade seja dita, elas por vezes ajudam a abrilhantar um pouco mais as mesmas.
Gostei igualmente da perfeita conjugação entre direcção artística e fotografia que a partir de dado momento dá ao filme uma dimensão acentuadamente negra estabelecendo assim uma clara ligação entre o desespero e falta de esperança em descobrir quem era o homem por detrás daqueles assassinatos. Notamos perfeitamente durante o filme que algo muda no ambiente. Inicialemente temos a imagem em tons carregados mas desprovidos de vida e aos poucos passamos a ter um filme negro com sombras e pontos "mortos" que espelham o vazio e o desconhecido. Exactamente aquilo que as personagens sentem e aquilo que nós deveremos (deveríamos) sentir. Francamente muito bom.
Demorou para assistir a este filme mas a verdade é que valeu com toda a certeza a espera. David Fincher não desilude em nada e continua com uma carreira, a meu ver, imaculada. Gostemos mais de uns e menos de outros dos seus filmes, mas a realidade é que acabamos por não ficar indiferente a nenhum deles e percebemos claramente que é ele que está por detrás das câmaras.
Intenso, como a grande maioria da sua filmografia, este filme é indispensável. Aqueles que como eu ainda não tinham assistido... não percam mais tempo pois temos aqui um verdadeiro e genuíno thriller que em muitos momentos nos consegue realmente angustiar.
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"Robert Graysmith: Just because you can't prove it doesn't mean it isn't true."
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8 / 10
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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dime que Yo (2008)

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Dime que Yo de Mateo Gil é uma curta-metragem de ficção espanhola vencedora do Goya na respectiva categoria e que tem Fele Martínez como actor principal.
Esta curta começa quando Ele (Martínez) e Ela (Judith Diakhate) acabam as relações que têm e estabelecem o primeiro contacto visual. A partir deste momento temos um reflectir sobre o que os levou a essa situação e aquilo que esperam sentimentalmente do futuro.
É uma curta interessante onde qualquer um de nós se pode rever em determinados comentários dependendo da situação em que cada um, ou uma, se encontra.
Interessante e bem executada esta curta realizada por Mateo Gil que é um dos mais intensos colaboradores de Alejandro Amenábar.
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7 / 10
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terça-feira, 18 de outubro de 2011

La Vie est un Roman (1983)

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A Vida é um Romance de Alain Resnais tem aquilo que se pode chamar de elenco de luxo onde se destacam, por exemplo, as figuras de Vittorio Gassman, Geraldine Chaplin, Fanny Ardant, Pierre Arditi, Sabine Azéma e André Dussollier numa história que se divide em três distintos actos.
O primeiro transporta-nos para o período pré e pós-Primeira Guerra Mundial onde o Conde Michel Forbek (Ruggero Raimondi) pretende construir um castelo no meio da floresta onde uma nova sociedade baseada apenas na paz e no amor irá florescer.
O segundo acto deste filme transporta-nos para o mesmo castelo mas na actualidade (à altura da realização do filme) que agora é uma escola na qual irá decorrer uma conferência muito moderna sobre os inovadores métodos de ensino onde se destacam os professores Walter Guarini (Gassman), Nora Winkle (Chaplin) e Élisabeth Rousseau (Azéma).
Finalmente o terceiro e último acto decorre ao mesmo tempo que a conferência toma lugar na escola/castelo e é encetada por alguns dos seus alunos que imaginam uma história medieval de príncipes e princesas e libertação de prisioneiros das masmorras.
Sendo um admirador confesso desse grande actor que é (ou foi...) Vittorio Gassman, a minha curiosidade por este filme que coloca o seu nome em destaque era assumidamente imensa. Queria rever este actor num filme onde desempenhava uma interpretação protagonista e, pensava eu, admirar a classe com que o faz(ia). No entanto, as intenções por muito boas que sejam acabaram por não corresponder em nada à realidade daquilo a que aqui assisti.
Por muito respeito que tenha para com o trabalho dos mais variados realizadores independentemente de ser ou não de meu agrado, esta obra de Alain Resnais por boas intenções que também ela tenha, traduz-se num perfeito e quase absoluto disparate.
É inevitável não fazer a devida referência às intenções sobre uma nova sociedade onde a paz e o amor reinassem bem como aos claros sinais de uma nova educação que facultasse às seus alunos novos desafios e novas fronteiras (ou a inexistência delas) mas ao contrário do que o título do filme indica a vida não é de facto um romance e as realidades são realmente outras.
A realidade é que este filme com tanta vontade de estabelecer várias histórias que de uma ou outra forma se deveriam interligar, acaba por ter duas histórias que se desenrolam em períodos distintos e nenhuma delas acaba por ser devidamente explorada ou sequer ter o interesse que poderia ter. Deambulamos assim entre os anos decorridos entre 1914 e 1918 e por outro lado estamos novamente no início dos anos 80 sem haver grande lógica ou ligação entre os acontecimentos que se iam sucedendo à excepção claro está, de se desenrolarem ambos no mesmo espaço físico.
Como se esta descoordenação não bastasse, o que é certo é que muitos dos momentos que se esperam mais sérios são tratados musicalmente onde os actores, ou por não estarem preparados ou simplesmente por não terem dotes vocais, embarcam numa cantoria sem fim e sem qualquer sentido ou graciosidade.
Este filme foi uma perfeita desilusão quer pelo seu argumento que esperava ser muito melhor, quer principalmente pelo conjunto de actores de quem esperava desempenhos muito superiores, ou pelo menos iguais àqueles a que nos (me) habituaram.
Perfeitamente dispensável, este filme torna-se absolutamente insuportável ao final de meia hora decorrida da sua história.
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1 / 10
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Em homenagem...

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a Jafar Panahi
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Porque a censura (sob qualquer forma) NÃO DEVE existir, ser permitida ou tolerada.
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(aproveito a excelente foto que faz capa do Ípsilon)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

New Boy (2007)


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New Boy de Steph Green é uma extraordinária curta-metragem de ficção irlandesa nomeada ao Oscar na sua categoria que nos mostra o primeiro dia de aulas de um rapaz vindo de África para a Irlanda e onde tem de se adaptar a novos rostos, novos hábitos e sobretudo à ideia de já não ter o seu pai que, por dedução sabemos ter sido morto por rebeldes.
Aquilo que acho de mais extraordinário nesta curta é a sua fluidez entre presente e passado, revisto através de flashbacks, e a contínua capacidade dramática que é traduzida pelo olhar daquele jovem rapaz.
Com uma história emocionante e com um desfecho de quebrar o coração onde o poder do riso é mais uma vez a prova de que todas as barreiras podem ser ultrapassadas.
Simplesmente magnífica.
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9 / 10
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domingo, 16 de outubro de 2011

La Gran Aventura de Mortadelo y Filemón (2003)

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Mortadela e Salamão - A Grande Aventura de Javier Fesser foi, desde que tive conhecimento da sua produção, um filme que quis ver. Não me saía da memória a banda-desenhada que durante os anos 80 e 90 me tinham chegado à mão e até mesmo o jogo do tão saudoso Spectrum que me fizeram tanto rir e divertir nessas maravilhosas tardes.
O ditador de Tirania, de seu nome Calimero (Paco Sagarzazu) roubou a nova arma DDT e o Súper (Mariano Venancio) quer que os seus dois melhores agentes Mortadelo (Benito Pocino) e Filemón (Pepe Viyuela) a recuperam custe o que custar.
Conhecendo a banda-desenhada aquilo que podemos esperar desta história é não só um conjunto de aventuras perfeitamente alucinantes como diversão e comédia a todo o gás. No entanto nem sempre tudo é como deveria ser.
É certo que o filme tem em termos de comédia momentos engraçados que quer pelo ridículo quer pelo absurdo nos conseguem arrancar alguns sorrisos mas, no entanto, não são aquilo que esta história poderia inicialmente permitir. Rimos exactamente por ser absurdo... não porque os momentos consigam ter realmente graça.
A magia que rodeava este conjunto de histórias era muita. Todos aqueles que como eu liam a banda-desenhada há largos anos atrás sabem que não estou simplesmente a exagerar. As histórias eram deliciosas e faziam-nos sempre esperar com ansiedade pelo próximo volume. Com este filme passamos boa parte do tempo a pensar quando é que o filme terminará pois chega o momento em que já é demais aquilo a que assistimos. Satura... não alegra.
Este exagero e absurdo também tem, no entanto, alguns factores positivos nomeadamente se pensarmos no que diz respeito aos efeitos especiais e à caracterização. Aqui o filme está, não direi imbatível, francamente bom. Que o comprovem os merecidos Goya que premiaram respectivamente José Antonio Sánchez e Paquita Núñez na caracterização e Raúl Romanillos, Pau Costa, Julio Navarro e Félix Bergés nos efeitos especiais.
Vale a pena ver este Mortadela e Salamão - A Grande Aventura, no entanto para aqueles que como eu já conheciam a banda-desenhada o filme acaba por ser uma grande desilusão por não conter a mesma magia e sentido de humor que a palavra escrita nos conseguiam transmitir. Ainda assim, e apenas pela curiosidade, vale sempre a pena ver. Talvez aqueles que não tenham qualquer tipo de contacto com a banda-desenhada o filme constitua uma agradável surpresa... mas só para esses.
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2 / 10
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Caminhos do Cinema Português 2011

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Foram seleccionadas as seguintes longas-metragens para a edição deste ano:
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A Morte de Carlos Gardel, de Solveig Nordlund
América, de João Nuno Pinto
Cisne, de Teresa Villaverde
Estrada de Palha, de Rodrigo Areias
O Barão, de Edgar Pêra
Quinze Pontos na Alma, de Vicente Alves do Ó
Sangue do Meu Sangue, de João Canijo
Sonho de Verão, de Paulo César Fajardo
Viagem a Portugal, de Sérgio Tréfaut
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sábado, 15 de outubro de 2011

Logorama (2009)

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Logorama de François Alaux, Hervé de Crécy e Ludovic Houplain é uma extraordinária curta-metragem de animação vencedora do Oscar na sua categoria que nos dá uma imagem de uma Los Angeles inteiramente recriada à base de logotipos das mais variadas marcas internacionais.
Nesta Los Angeles assistimos a uma intensa perseguição policial, onde o palhaço da MacDonald's é o criminoso de serviço, no momento em que se dá um violento tremor de terra na cidade que fará a California finalmente separar-se do resto do continente Americano.
Bem divertida e com momentos de pura adrenalina e acção esta curta justa vencedora do Oscar não deve deixar de ser vista. Imperdível.
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8 / 10
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

The Artist (2011)

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O Artista de Michel Hazanavicius desde que foi anunciado como um dos filmes a passar na Festa do Cinema Francês no Cinema São Jorge em Lisboa que sabia não poder perder. Não só sabia que além de ter concorrido à Palma de Ouro na última edição do Festival Internacional de Cinema de Cannes como também havia ganho o Prémio de Interpretação para Jean Dujardin, também tinha visto o seu trailer internacional que de imediato coloquei como um dos melhores do ano e altamente apelativo para os espectadores.
Corri de imeadiato para a bilheteira e comprar o bilhete sendo que não existiam já para a carimónia de abertura mas sim para o dia seguinte... Bom pensei que o importante era ainda existirem bilhetes... a sala era algo secundário. Não podia estar mais enganado quando constato que vou ver na maior sala do cinema e tornando assim a minha experiência com este filme verdadeiramente única.
A história deste filme remete-nos para uma Hollywood(land) de 1927 onde surgia o advento do cinema sonoro e assistimos à vida de uma glória do cinema mudo na personagem de George Valentin (Jean Dujardin). Este actor, um dos mais importantes da época cruza-se por um acaso com Peppy Miller (Bérénice Bejo) que em pouco tempo se irá tornar numa estrela em ascenção do cinema sonoro. Assistimos assim à ascenção e queda de duas personagens que partilham a mesma paixão para o bem e para o mal.
Se fosse resumir o filme apenas a esta curta e breve descrição não iria fazer a devida justiça à obra magnífica que ele realmente é. Muitos tremeram com a ideia de ver um filme a preto e branco esquecendo a mestria com que, por exemplo, foi filmado A Lista de Schindler. Pior ainda ficaram quando juntamente com o facto de ser filmado a p&b era ainda um filme... mudo. É verdade... Este muito antecipado filme que venceu um dos mais importantes prémios de interpretação do mundo era filme mudo e a preto e branco.
As primeiras imagens deixam-nos um ambiente que só recordamos daqueles filmes já bem antigos de Charlie Chaplin que há largos anos passavam na televisão e inesperadamente começamos a sentir uma empatia sem limites pelo filme. Muito também, e há que dizê-lo, graças à imensa simpatia que criamos com a personagem criada por Jean Dujardin e com o seu cão, fiel amigo que o acompanha não só na vida pessoal como profissional.
Passados poucos minutos da exibição deste filme esquecemo-nos que estamos a assistir a um filme mudo. O poder das imagens, dos olhares, dos gestos e a representação de nível superior com que todos os actores nos brindam é de facto puro deleite que nos é servido quase numa bandeja.
Jean Dujardin compõe realmente aquela que será a interpretação da sua vida, ganhe ou não mais prémios de interpretação. A emoção que nos transmite, inicialmente de jubilo e aos poucos de dor e sofrimento, transparece pelo seu olhar que se torna triste à medida que o filme avança. A dor que nos transmite quando sonha que o cinema sonoro está à porta e que ele pode ficar ultrapassado, onde tudo tem som menos a sua voz, é algo de cortar a respiração. E mais ainda, no tocante e comovente momento em que vê a sua imagem refletida numa montra em que o fato lá exposto lhe faz recordar os seus tempos áureos é no mínimo avassalador. Não menos que o comentário, não transposto para o ecrã mas perfeitamente compreensível, que o polícia tem com ele nesse momento. Aí sim sentimos o quão injusto é o mundo que tudo nos deu e tudo nos tirou.
A interpretação feminina principal a cargo de Bérénice Bejo, como Peppy Miller, é igualmente um sonho e completa na perfeição a condição de par romântico com Dujardin. Peppy é uma doce mulher que vivia enquanto fã uma paixoneta secreta pelo maior actor do cinema mudo, George Valentin. Um acaso junta-os e a dinâmica existente entre os dois é imediata. Sentimos a química, a empatia, a confiança, a cumplicidade entre ambos e esperamos ver aquilo que desde cedo parece inevitável. Enquanto George entra numa espiral descendente na importância que ocupava na Hollywoodland de 1927, Peppy, por sua vez, torna-se na actriz sensação que todos querem ver. Mas ela nunca o esquece. É ela que, mesmo na sombra, acompanha a sua queda e o esquecimento em que o nome de George Valentin cai.
A dinâmica entre estes dois actores, e entre estas duas personagens, é de tal forma grande que o filme quase poderia funcionar apenas com os dois. Os demais actores, entre os quais se destacam John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller e Malcolm McDowell numa participação especial, apesar de terem a sua importância e serem de facto indispensáveis para a acção, apenas completam e enriquecem aquilo que os dois actores principais compõem. Por mais ou menos secundárias que sejam as suas interpretações elas de facto fazem dele um filme de actores.
É impossível não comentar a originalidade que Michel Hazanavicius trouxe com este filme ao fazer-nos recordar o "velho", mas imortal, cinema mudo. A ideia não só é original como mostra que as origens do cinema estão tão vivas e presentes hoje como na altura. A evolução afastou-nos do cinema mudo e hoje é quase impensável não termos um filme onde escutamos todos os sons que estão a compôr um dado momento ou uma certa fala no entanto aqui somos forçosamente obrigados a ver os olhares e as expressões que realmente valem mais do que mil palavras. Esses olhares e expressões transportam-nos para um mundo e dor e incerteza, de alegrias e de tristezas. De amor, de cumplicidade, de pena, de mágoa e também para um mundo de sonhos e esperanças tão característicos do daquilo que o cinema representa.
Não existiu um momento em que durante este filme eu pensasse como menos bom. Todos eles estão tão harmoniosamente dirigidos e representados que este é daquelas pérolas que muito ocasionalmente nos aparecem. É daqueles filmes que serão certamente falados durante muitos anos e que, um dia mais tarde, será relembrado pela sua excelência. Pessoalmente não me espantaria em nada que fosse um dos filmes mais nomeados para a próxima cerimónia dos Oscars e que rendesse ao próprio Jean Dujardin uma nomeação na categoria de Melhor Actor. Não fosse um ano já composto por interpretações muito aguardadas e diria o mesmo a respeito de Bérénice Bejo na categoria de Melhor Actriz. E ambos seriam justos vencedores. Também não me admirava que este fosse dos filmes mais nomeados do ano e que vencesse umas quantas estatuetas (todas elas certamente merecidas).
O maior "defeito" que este filme tem é o terminar... Não direi de que forma pois é uma surpresa tão reconfortante que tem de ser vista para ser compreendida e admirada. No entanto posso referir os momentos que durante este extraordinário filme mais me sensibilizaram. E são dois (na verdade são muitos, mas estes dois destacam-se talvez pelo maior dramatismo retratado)... Um deles é o momento que mais atrás referi em que George Valentin olha os eu reflexo na montra (momento presente no trailer do filme) e relembra os tempos em que era uma glória do cinema. O outro é o desespero final de de Valentin que o leva ao extremo da sua condição mas... onde salva o seu mais precioso bem...
É um filme fascinante, grande demais para meras palavras, surpreendente, inovador, dramático e cómico... É aquele filme para o qual têm de ser postos de lado todos os preconceitos e aceitá-lo como é. Certamente todos os que o fizerem vão amá-lo e perceber que é de longe um dos melhores filmes do ano.
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"Doris: Do you know I feel miserable?
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George Valentin:  So are millions of us..."
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