Sky Captain e o Mundo de Amanhã de Kerry Conran fez sensação ao estrear no Festival Internacional de Cinema de Veneza ao aliar a uma inovadora técnica de filmagem um conjunto de mediáticos actores que faria as delícias de qualquer espectador como é o caso de Gwyneth Paltrow, Jude Law e Angelina Jolie.
Na Nova York de 1939, Polly Perkins (Paltrow) é uma aventureira repórter que investiga os misteriosos desaparecimentos de um conjunto de reputados cientistas quando um grupo de robots gigantes se prepara para atacar e invadir a cidade.
É neste preciso momento que as autoridades da cidade chamam Sky Captain (Law), o herói dos ares e antiga paixão de Polly, para poder salvar não só a cidade como a população destes terríveis monstros, de uma acção que a própria repórter vê interligada com a sua reportagem num plano que parece envolver toda a Humanidade.
Através de uma viagem pelo planeta que os leva pelas mais variadas e exóticas paragens os dois tentam descobrir qual o rosto do Dr. Totenkopf, o maquiavélico cérebro por detrás de toda esta operação bem como os verdadeiros motivos que o levam a criar o pânico por uma boa parte da civilização ocidental.
Kerry Conron dedicou-se não só à realização deste filme como também do seu argumento que, em certa medida, tem vários elementos apelativos para o tornar numa nova saga cinematográfica. Logo em primeiro lugar podemos reflectir sobre a época histórica em que a acção toma lugar, que se centra num mundo à beira de um conflito mundial que o iria transformar para sempre. Os totalitarismo e perdas de liberdades, a idade adulta que chegou tão precocemente para tantos milhões de jovens que se viram de caras com uma dura realidade antes do seu tempo, bem como os inúmeros jogos de bastidores que aos poucos tomaram conta dos destinos de todos.
Por outro lado temos ainda a intrigaaqui principal que gira em torno da idealização de um mundo perdido que tinha tudo para ser perfeito mas que, graças à destruição do Homem pelo próprio Homem, se demonstra ser na prática um lugar pelo qual já não vale a pena lutar nem tão pouco dedicar qualquer tipo de energia para a sua recuperação sendo mais fácil, e mais "justo" para a mente de um cientista desequilibrado, procurar um mundo melhor noutro planeta, deixando toda a civilização a braços com a sua própria, e prevista, destruição.
Se a isto juntarmos uma abordagem em efeitos especiais capazes de recriar sumptuosos cenários que na prática nem existem, uma fotografia da autoria de Eric Adkins que graças aos seus tons em castanho e a uma ausência significativa de cor capaz de nos transportar para o cinema dos anos 40 do século XX e colocar o já referido elenco de luxo onde as Oscarizadas Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie (que infelizmente pouco aparece neste filme), um Jude Law que aqui é o protagonista com nome no título do filme, e um conjunto de secundários onde se destacam Giovanni Ribisi, Michael Gambon, Bai Ling e uma inesperada e excitante recuperação de Laurence Olivier para uma participação especial anos depois do actor já não se encontrar entre nós, parecem realmente estar nessa referida época, então temos aquilo que poderemos desejar para passar perto de duas horas de puro delírio cinematográfico.
No entanto, mesmo considerando que não só a premissa como o ambiente recriado são tão aliciantes e apelativos a um novo filme de aventura e acção, que é como quem diz puro entretenimento, é também justo dizer que este filme promete mais do que aquilo que, no final, acaba por ser. Sky Captain e o Mundo de Amanhã é aquele filme de acção que... não o é. Tem todos os ingredientes, tem um ritmo inicial alucinante que nos faz querer ver mais de todos aqueles acontecimentos que se sucedem e perceber qual a origem e orgânica das suas personagens mas, com o intuito de acelerar os seus destinos nunca chegamos a concretizar nenhum desses "passados".
É também aquele filme de aventuras que... também não o chega a ser. Se pensarmos em todos os locais por onde a acção decorre que passam desde o fundo do mar, inovadoras (até mesmo para a actualidade) plataformas aéreas, uma Nova York do século passado e o dito paraíso de Shangri-La... o que é certo é que de todos estes ricos cenários pouca visualização ou pouca acção temos que neles decorra, remetendo-nos para imaginados cenários "interiores" que tanto podem ser em Nova York como dentro de casa de qualquer um, perdendo assim todo o ímpeto aventureiro que este filme poderia ter desencadeando assim um maior conjunto de momentos aventureiros que nos conseguiriam facilmente "prender" ao ecrã.
Assim, e há excepção de ser um filme tecnicamente competente, inovador e desafiante, não deixa de ser verdade que isso, só por si, não resulta para fazer dele aquele filme do qual não nos iremos esquecer. Pelo contrário, acaba até por jogar um pouco contra si ao criar-nos grandes expectativas que, na prática, não se chegam a cumprir. Como entretenimento momentâneo resulta mas não deixa de ser verdade que não ficará muito na nossa memória, nem mesmo pelas personagens e actores que lhe dão vida.
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5 / 10
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