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Presente de Morte de Richard Kelly é um filme de suspense com uma interessante premissa que, algures lá pelo meio, se perdeu daquilo que poderia ter sido.
Quando Norma (Cameron Diaz) e Arthur (James Marsden) recebem em sua casa Arlington (Frank Langella), estariam longe de imaginar que este lhes iria dar a oportunidade de terem nas suas mãos um milhão de dólares e assim abandonarem qualquer tipo de dificuldades financeiras que tinham até então. A contrapartida é carregarem num botão que se encontra dentro de uma caixa que lhes é deixada e que fará com quem alguém numa qualquer parte do Mundo seja automaticamente morta.
A decisão com que Norma e Arthur terão agora de lidar é aquela que assombrará as sua própria existência e Humanidade. Recusar o dinheiro e viverem com os seus problemas financeiros ou aceitarem o dinheiro, carregarem no botão e, como consequência, provocarem a morte de alguém.
O argumento da autoria do próprio Richard Kelly é interessante na medida em que lida exactamente com as questões que movem a natureza humana, ou melhor dizendo, com a própria Humanidade e com o que dita a consciência de cada um de nós. Se por um lado podemos viver com os nossos próprios problemas, não deixa igualmente de ser uma grande verdade que qualquer um de nós prefere ter-lhes um escape e poder viver a vida com que sempre se sonhou.
Aquilo que falha neste argumento, e que fundamentalmente consegue arruinar uma boa parte (se não toda) do filme, é a partir do momento em que se transforma esta premissa sobre a própria condição humana e aquilo em que nos tornamos num momento em que temos de colocar a consciência a trabalhar, num filme onde tudo gira em torno de uma qualquer conspiração alíenigena. O filme funcionou bem até aqui mas com isto... perde-se. Este aspecto, que a dada altura toma conta total do filme, consegue tornar desinteressante todo o trabalho até então conseguido e arruinar a questão do próprio poder de escolha dado aos principais intervenientes.
As interpretações, principalmente a de Cameron Diaz que assume aqui o protagonismo sem ninguém que a acompanhe, acaba por ser uma vítima do próprio argumento. Por um lado é a encarnação perfeita de um dilema com que vive. É uma mãe forte, sensível e com as ideias esclarecidas até sofrer uma proposta que se torna irrecusável a cada momento em que pensa nela. Por outro, basta o argumento resvalar na questão extra-terrestre que a sua interpretação começa, também ela, a resvalar para o desinteressante e perfeitamente banal como se se soubesse de antemão como agir perante tal acontecimento.
A partir deste momento está tudo aparentemente perdido e damos connosco apenas e só querer ver o final para perceber como vai aquilo tudo terminar. E uma vez chegado este final, não fosse toda a confusão anteriormente vista, ele até conseguiria convencer os espectadores pois, na prática, está bem pensado e é de certa forma o final que esperamos ver. Trágico mas previsível, satisfaz as nossas necessidades enquanto espectadores, concordemos ou não com ele.
Como apreciação geral, todos os pontos positivos desde as interpretações ao próprio argumento acabam por ser vítimas do rumo que é dado ao filme com a questão alíenigena e de um interessante filme passamos a algo que de tanta volta dar se torna algo entre o desinteressante e o absurdo. Vemos e lá nos consegue ir entretendo mas nunca chega a atingir nem metade do potencial que poderia, sob outras condições, ter alcançado.
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3 / 10
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