Lembra-te de Mim de Gabriele Muccino foi um dos grandes sucessos de bilheteira dos últimos anos do cinema italiano tendo sido também nomeado para vários David da Academia Italiana de Cinema incluindo filme, realizador, actor, actriz e actriz secundária entre outros.
Este que é, digo desde já, um interessante filme italiano que merece ser visto, centra a sua história numa família de classe média. Aqui é relatada introdutoriamente a vida de cada um deles... A de Carlo Ristuccia (Fabrizio Bentivoglio), o pai que cedo percebemos ser um homem insatisfeito com a vida que leva. Giulia (Laura Morante), a mãe frustrada com uma vida onde acorda sem ter objectivos e sempre com os pensamentos de juventude ou sonhava ser actriz ainda na sua memória.
E finalmente os dois filhos... Valentina (Nicoletta Romanoff) uma rapariga despreocupada com a vida que apenas quer conhecer as pessoas certas e nos lugares certos que a transportem para o mundo da televisão e conseguir assim a fama que tanto ambiciona. E Paolo (Silvio Muccino) um rapaz preocupado em agradar mas que tem muito pouca estima por si próprio.
Todos eles vivem vidas desligadas e desprendidas entre si e que muito pouco fazem por uma vida familiar onde exista comunicação... as suas vidas existem apenas como o resultado daquilo que em tempos foram e dos sonhos e objectivos que não chegaram a cumprir. O casamento de Carlo e Giulia serviu como o motivo que os levou a anularem-se mutuamente em vez de crescerem enquanto casal e enquanto pais de dois filhos que, também eles, pouco respeito têm para o seu próprio futuro.
Até ao dia em que Carlo reencontra Alessia (Monica Bellucci), Giulia volta ao teatro, Valentina encontra quem a lance na televisão e Paolo percebe que se não tiver respeito por si mais ninguém terá.
Este filme que foi um dos mais nomeados na cerimónia dos David no seu ano e que foi igualmente um sucesso de bilheteira em Itália, é um brilhante e dramática retrato das relações familiares que algures no tempo deixaram de funcionar vítimas do insucesso pessoal a que cada um dos seus elementos se deixou arrastar.
A família que é suposto ser o principal apoio para os sonhos e concretizações pessoas de cada um é aqui, no entanto, algo que não se sente. Bem pelo contrário, aquilo a que assistimos é o exactamente oposto. Temos um casal que simplesmente esqueceu os seus objectivos e planos individuais a partir do momento em que decidiram formar uma família e que agem como se ela fosse o real entrave a essa mesma concretização.
Os filhos deste casal são o pefeito exemplo daquilo que eles de certa forma construíram. Desligados, sem auto confiança e com dificuldades de se afirmarem no meio em que socializam são de uma certa forma, também eles inadaptados.
A brilhante realização de Gabriele Muccino, que também assina o argumento, consegue de uma forma pouco subtil retratar-nos os sonhos, principalmente os desfeitos, desta família que só muito tarde e depois de muitas provações consegue assumir-se como tal, ou talvez não... pelo menos não totalmente.
O conjunto de actores é igualmente brilhante. Fabrizio Bentivoglio nomeado para o David de Actor com esta interpretação, dá um retrato perfeito de um homem que chegado à meia idade percebe que a sua vida não teve nem o amor nem a paixão que sentira por Alessia (Bellucci) e que ao reencontrá-la volta a sentir a chama por viver a vida que sempre achou ser digna. Sente vontade de amar, de viver e de escrever, o seu sonho até então adormecido.
O mesmo acontece com Laura Morante, também ela nomeada ao David na categoria de Actriz, que supostamente em nome da família abandonou qualquer pretensão em se tornar actriz, algo que a preenchia e dava cor à sua vida. Sonho este que irá de certa forma ser colmatado pelos desejos da sua filha, numa interpretação de Nicoletta Romanoff que também fora nomeada ao David mas de Actriz Secundária, quando esta mostra uma vontade sem qualquer tipo de limites para alcançar os sonhos que a sua mãe nunca conseguira.
O resultado terminaria com a personagem interpretada por Silvio Muccino que, como filho daquele casal, vive um real problema de auto-afirmação achando e comportando-se como o inadaptado da família de quem ninguém se lembra sequer da sua existência.
Finalmente a musa inspiradora de "Carlo"... Monica Bellucci que aqui teve a sua única nomeação ao David até hoje, para Actriz Secundária, e que também nunca esquecera aquele amor da sua juventude. O único que a fizera sentir-se amada e desejada com o respeito e dedicação que merece ter. Tendencioso como poderei parecer mas, Monica Bellucci está radiante e perfeita como sempre.
Este filme que é "contado" e interpretado à medida que as suas personagens vão tendo um crescente desenvolvimento, nem sempre para aquilo que desejaríamos para estas personagens mas exactamente sempre aquilo que tem realmente de acontecer, não só tem estas magníficas interpretações e uma direcção de mestre que as consegue conduzir como também nos deixa, sobretudo a nós espectadores que a dada altura começamos a pensar nas nossas próprias vidas e nos sonhos, desejos e ambições que temos para connosco e para com o nosso próprio futuro, a percepção de que temos de pensar também nas vidas que levamos e da forma como tudo vai ocorrendo. Estaremos também nós a deixar sonhos e desejos para trás em nome de algo? Estaremos a cumprir tudo aquilo que sempre quisemos? Independentemente dos resultados... estaremos nós também a tentar?
Como sempre no cinema italiano, e este não sendo excepção, temos mais um extraordinário filme com uma história aparentemente banal mas que consegue ser um excelente veículo para a identificação do seu público com as suas histórias e com os seus actores. Reflexo disso foi o sucesso que alcançou em bilheteira tornando-se num dos filmes mais vistos dos últimos anos e que aliado a isso conseguiu ainda um total de dez nomeações aos prémios David da Academia Italiana de Cinema.
Brilhante filme que nos consegue por vezes fazer rir, por vezes emocionar mas sempre, sempre e sem excepção, fazer-nos pensar em nós próprios.Gabriele Muccino, uma vez mais, com uma aposta vencedora.
.Este que é, digo desde já, um interessante filme italiano que merece ser visto, centra a sua história numa família de classe média. Aqui é relatada introdutoriamente a vida de cada um deles... A de Carlo Ristuccia (Fabrizio Bentivoglio), o pai que cedo percebemos ser um homem insatisfeito com a vida que leva. Giulia (Laura Morante), a mãe frustrada com uma vida onde acorda sem ter objectivos e sempre com os pensamentos de juventude ou sonhava ser actriz ainda na sua memória.
E finalmente os dois filhos... Valentina (Nicoletta Romanoff) uma rapariga despreocupada com a vida que apenas quer conhecer as pessoas certas e nos lugares certos que a transportem para o mundo da televisão e conseguir assim a fama que tanto ambiciona. E Paolo (Silvio Muccino) um rapaz preocupado em agradar mas que tem muito pouca estima por si próprio.
Todos eles vivem vidas desligadas e desprendidas entre si e que muito pouco fazem por uma vida familiar onde exista comunicação... as suas vidas existem apenas como o resultado daquilo que em tempos foram e dos sonhos e objectivos que não chegaram a cumprir. O casamento de Carlo e Giulia serviu como o motivo que os levou a anularem-se mutuamente em vez de crescerem enquanto casal e enquanto pais de dois filhos que, também eles, pouco respeito têm para o seu próprio futuro.
Até ao dia em que Carlo reencontra Alessia (Monica Bellucci), Giulia volta ao teatro, Valentina encontra quem a lance na televisão e Paolo percebe que se não tiver respeito por si mais ninguém terá.
Este filme que foi um dos mais nomeados na cerimónia dos David no seu ano e que foi igualmente um sucesso de bilheteira em Itália, é um brilhante e dramática retrato das relações familiares que algures no tempo deixaram de funcionar vítimas do insucesso pessoal a que cada um dos seus elementos se deixou arrastar.
A família que é suposto ser o principal apoio para os sonhos e concretizações pessoas de cada um é aqui, no entanto, algo que não se sente. Bem pelo contrário, aquilo a que assistimos é o exactamente oposto. Temos um casal que simplesmente esqueceu os seus objectivos e planos individuais a partir do momento em que decidiram formar uma família e que agem como se ela fosse o real entrave a essa mesma concretização.
Os filhos deste casal são o pefeito exemplo daquilo que eles de certa forma construíram. Desligados, sem auto confiança e com dificuldades de se afirmarem no meio em que socializam são de uma certa forma, também eles inadaptados.
A brilhante realização de Gabriele Muccino, que também assina o argumento, consegue de uma forma pouco subtil retratar-nos os sonhos, principalmente os desfeitos, desta família que só muito tarde e depois de muitas provações consegue assumir-se como tal, ou talvez não... pelo menos não totalmente.
O conjunto de actores é igualmente brilhante. Fabrizio Bentivoglio nomeado para o David de Actor com esta interpretação, dá um retrato perfeito de um homem que chegado à meia idade percebe que a sua vida não teve nem o amor nem a paixão que sentira por Alessia (Bellucci) e que ao reencontrá-la volta a sentir a chama por viver a vida que sempre achou ser digna. Sente vontade de amar, de viver e de escrever, o seu sonho até então adormecido.
O mesmo acontece com Laura Morante, também ela nomeada ao David na categoria de Actriz, que supostamente em nome da família abandonou qualquer pretensão em se tornar actriz, algo que a preenchia e dava cor à sua vida. Sonho este que irá de certa forma ser colmatado pelos desejos da sua filha, numa interpretação de Nicoletta Romanoff que também fora nomeada ao David mas de Actriz Secundária, quando esta mostra uma vontade sem qualquer tipo de limites para alcançar os sonhos que a sua mãe nunca conseguira.
O resultado terminaria com a personagem interpretada por Silvio Muccino que, como filho daquele casal, vive um real problema de auto-afirmação achando e comportando-se como o inadaptado da família de quem ninguém se lembra sequer da sua existência.
Finalmente a musa inspiradora de "Carlo"... Monica Bellucci que aqui teve a sua única nomeação ao David até hoje, para Actriz Secundária, e que também nunca esquecera aquele amor da sua juventude. O único que a fizera sentir-se amada e desejada com o respeito e dedicação que merece ter. Tendencioso como poderei parecer mas, Monica Bellucci está radiante e perfeita como sempre.
Este filme que é "contado" e interpretado à medida que as suas personagens vão tendo um crescente desenvolvimento, nem sempre para aquilo que desejaríamos para estas personagens mas exactamente sempre aquilo que tem realmente de acontecer, não só tem estas magníficas interpretações e uma direcção de mestre que as consegue conduzir como também nos deixa, sobretudo a nós espectadores que a dada altura começamos a pensar nas nossas próprias vidas e nos sonhos, desejos e ambições que temos para connosco e para com o nosso próprio futuro, a percepção de que temos de pensar também nas vidas que levamos e da forma como tudo vai ocorrendo. Estaremos também nós a deixar sonhos e desejos para trás em nome de algo? Estaremos a cumprir tudo aquilo que sempre quisemos? Independentemente dos resultados... estaremos nós também a tentar?
Como sempre no cinema italiano, e este não sendo excepção, temos mais um extraordinário filme com uma história aparentemente banal mas que consegue ser um excelente veículo para a identificação do seu público com as suas histórias e com os seus actores. Reflexo disso foi o sucesso que alcançou em bilheteira tornando-se num dos filmes mais vistos dos últimos anos e que aliado a isso conseguiu ainda um total de dez nomeações aos prémios David da Academia Italiana de Cinema.
Brilhante filme que nos consegue por vezes fazer rir, por vezes emocionar mas sempre, sempre e sem excepção, fazer-nos pensar em nós próprios.Gabriele Muccino, uma vez mais, com uma aposta vencedora.
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