Cypher de Vincenzo Natali, realizador que já tinha criado uma legião de fãs graças ao seu filme Cubo, com este filme junta no ecrã Jeremy Northam e Lucy Liu numa história de intriga, mistério e algum suspense.
Morgan (Northam) é um homem apagado que vive sob o mando da sua mulher até ao dia que decide tornar-se independente e começar a trabalhar. Quando começa a sua actividade enquanto vendedor para uma grande empresa, mal sabia que iria sim começar a sua actividade enquanto espião para a mesma, encarregado de descobrir todos os podres das empresas rivais.
É durante a sua actividade enquanto espião que conhece Rita (Liu), uma misteriosa e sedutora mulher por quem fica imediatamente fascinado e a quem vai recorrer para o ajudar a perceber o que se passa afinal no seio da espionagem industrial e aquilo que ambas empresas pretendem de si e principalmente quem é ele na realidade.
Contrariamente ao que pensava de início, Jeremy Northam conseguiu-me surpreender com esta interpretação de um homem apagado e, quase arrisco dizer, subserviente. Habituado a vê-lo como um tipo intriguista de sangue quente e bem virado para o lado mais escuro, aqui vê-lo como um tipo que basicamente não sabe qual é o seu lugar no mundo foi bastante agradável e foi francamente convincente.
Quanto a Lucy Liu as surpresas já não existem. A sensualidade que esta mulher transporta para o ecrã é de tal forma grande que todos os seus movimentos o transpiram. Mas nada é gratuito. Tudo é muito bem pensado e estruturado e sabemos que ela está ali no seu melhor.
O argumento de Brian King bem estruturado e com premissas francamente inovadoras sobre um assunto já antigo como o da espionagem, independentemente de ser empresarial, consegue ser dinâmico e dar-nos uma perspectiva interessante sobre a mesma.
No entanto, há algo que acaba por me decepcionar neste tipo de filmes. A acção que lhes é inerente ou até mesmo o modo em como a acção decorre não é para mim dos melhores. Há uma certa química entre as personagens e delas para com a história que não me parece ser coerente. Ou seja, independentemente todos os elementos funcionam com alguma coerência mas quando vistos todos na sua gloablidade fica a sensação de que nem tudo está a correr de uma forma harmoniosa.
Confesso não ser grande fã deste tipo de filmes que de certa forma colocam as suas personagens, logo os seus actores, num modo quase autómato durante a maior parte do filme. Temos as personagens, que de acordo com o argumento se esperam ricas em conteúdo mas que devido ao seu quase total modo robot no qual se limitam quase praticamente a debitar texto sem que, no entanto, estejamos perante uma grande expressividade para com as palavras que estão a dizer. A naturalidade que se espera deles acaba por ser assim... nula.
Assim, àparte de simpatizarmos com os actores, e percebermos claro que o conteúdo do argumento até é relativamente bem conseguido, a realidade é que a execução na prática não conseguiu atingir aquilo que dela era esperada. Falamos de espionagem e apesar das expressões dos actores terem, como tal, de serem mais recatadas, não deixa no entanto de ser verdade que há inúmeras formas de transmitirem emoções e reacções de formas em que possamos perceber que afinal por ali há vida. E isto só se sente já muito perto do final de toda a trama e intriga que se apodera, desde muito cedo, deste filme.
Interessante mas indispensável principalmente para os fãs incondicionais da obra de Natali, da qual ainda aguardo por aquela "grande obra" que me consiga transformar num deles.
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4 / 10
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