.
Su Re de Giovanni Columbu foi mais uma das longas-metragens presente na secção Altre Visioni da 6ª edição da Festa do Cinema Italiano de Lisboa.
Tendo como base o Evangelho segundo Mateus, Marco, Lucas e João, o argumento da autoria de Giovanni Columbu e Michele Columbu centra-se sobre as últimas horas de Jesus mas, ao contrário do tradicional neste género cinematográfico, aqui elas são vistas a partir da perspectiva daqueles que com ele passaram as últimas horas ou que por elas cruzaram, desde a sua mãe, passando por Maria Madalena, os seus amigos e futuros apóstolos até àqueles que o condenaram e crucificaram, a Judas que o traiu e mesmo a Poncio Pilatos, o governador romano da Judeia que validou a sua condenação, privilegiando assim não a perspectiva própria de um Homem que caminhou para a sua própria morte mas sim a perspectiva de um narrador que acompanhou os acontecimentos à medida que eles decorriam.
O efeito maior que esta obra de Columbu consegue criar é tornar-nos enquanto espectadores, quase que uma parte participante na história sem que na prática possamos interferir na mesma. Funciona assim de uma forma tão convincente que nos sentimos presentes como que se pairássemos por cima dos acontecimentos e os observássemos de muito perto ao ponto de quase se tornar insuportável, não só pela inevitabilidade dos factos como por ser uma história que já bem conhecemos, todo aquele drástico desenrolar de factos até a uma trágica e dolorosa morte.
Sem artifícios ou qualquer efeito de espectáculo que normalmente um cinema norte-americano possui (com o bom e mau que isso possa representar para um filme), este Su Re é não só uma obra inovadora pela diferente perspectiva que nos dá daquelas trágicas horas como, ao mesmo tempo, se torna um filme aliciante e hipnótico devido a esse mesmo efeito novidade, que também pela "transferência de palco" da Palestina para as rochosas montanhas de uma Sardegna agreste e rigída para com as vidas dos próprios habitantes transforma esta experiência já de si dura num filme bruto mas repleto de emoção.
Com um conjunto de interpretações uniformes e que funcionam bem entre si há no entanto que destacar a presença de um "Judas" interpretado por Antonio Forma que não só se assume como o traidor que conhecemos como também nos é dado também dele uma nova perspectiva ao ser retratado como um homem arrependido e martirizado com a decisão que tornou Jesus numa lenda.
Destacam-se também alguns aspectos técnicos nomeadamente a fotografia quase "gélida" de Francisco Della Chiesa, Emilio Della Chiesa, Massimo Foletti, Uliano Lucas e Leone Orfeo que aos poucos transforma a imagem e todo o ambiente num local quase claustrofóbico e que nos incomoda. O guarda-roupa de Stefania Grilli e Elisabetta Montado que consegue, de facto, transportar a acção para um meio rural latino-mediterrânico e finalmente a caracterização dos actores pelas mãos de Desiré Palma que, ao contrário de outras produções, não embeleza os actores mas dá-lhes sim o ar mais rude e campestre que se espera ver se pensarmos nos tempos e no meio em que estas pessoas habitavam.
Um filme diferente, e que por isso poderá ter dificuldades de distribuíção, mas que é uma interessante abordagem a uma história que já todos conhecemos.
.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário