Robot & Frank de Jake Schreier é uma daquelas surpresas agradáveis que muito provavelmente irão passar quase anónimas pelas salas de cinema nacionais.
Este filme remete-nos para um futuro não muito distante onde Frank (Frank Langella) é um ladrão "reformado" e exilado numa isolada casa de campo e que é frequentemente visitado por Hunter (James Marsden), o seu preocupado e profissionalmente bem sucedido filho.
Quando Frank mostra constantes sinais de demência e perda de memória, Hunter considera que está na altura de encontrar uma companhia para o pai levando-lhe o último modelo de auxiliar robotizado. O Robot (com a voz de Peter Sarsgaard) é inicialmente visto por Frank como um estorvo, mas quando descobre que este é incapaz de perceber a fronteira entre o bem e o mal, o correcto e o incorrecto, percebe que este seu novo amigo é o perfeito auxiliar para retomar a sua velha "profissão" ao mesmo tempo que vê um mundo totalmente diferente daquele onde cresceu.
Este filme reune um conjunto de elementos que o transformam num filme dotado de uma sensibilidade extrema e que por isso deveria ser alvo de reflexão sobre o momento e o mundo em que vivemos bem como nas influências do presente no nosso futuro.
Não só o argumento de Christopher D. Ford estabelece uma interessante análise sobre as relações familiares como, acima disso, o faz através da influência que as novas tecnologias exercem sobre elas. E essas reflexões estão presentes ao longo de todo o filme. Primeiro pela forma como estas tecnologias conseguem aproximar as pessoas podendo os indivíduos estar numa qualquer parte do globo que possivelmente muito poucos algumas vez ouviram falar mas, ainda assim, estar contactável a qualquer momento. No entanto aquilo que se pede nesta situação é que se faça a tal reflexão e se analise que no fundo a distância entre as pessoas aumenta exponencialmente. As distâncias são de facto cada vez maiores e é de pensar até que ponto se torna "necessário" estar fisicamente perto dos outros quando com o simples clicar de um botão temos alguém à nossa frente... sem que de facto esteja. Remetemo-nos para a questão do toque (ou sua ausência), da convivência com os demais, conhecer as suas expressões, gestos, movimentos que, desta forma, todos ficam condicionados criando uma certa apatia no trato entre pessoas enquanto que todos se tornam peritos em "lidar" com máquinas, bem como nos faz questionar sobre o quão importantes são as diferenças que, aparentemente, nos separam dos demais.
Directamente relacionado com este aspecto do factor humano, temos a inteligente e sentimental forma como um argumento direccionado para dois simpáticos "ladrões" que são tão distintos entre si mas que ainda assim conseguem estabelecer uma improvável relação que não sendo de afectos, que na prática seriam impossíveis, conseguem ser de uma profunda Humanidade, muito distinta daquela que é por vezes estabelecida entre "seres" da mesma espécie. E na sua continuidade de referir ainda o desfecho genial que esta história tem e que nos consegue surpreender pelo inesperado e pela forma de demonstrar que afinal esta dita Humanidade não está tão perdida como poderíamos inicialmente pensar.
Finalmente de referir ainda uma certa forma ditatorial e autoritária com que estas mesmas tecnologias parecem instalar-se em detrimento das antigas formas de conhecimento e saber, retratado neste filme, como são as bibliotecas. Fontes inesgotáveis de conhecimento nas mais diversas áreas e que aqui se transformam em meros símbolos daquilo que em tempos esse mesmo saber foi. Transformados em amplos e vazios espaços de convívio onde o cheiro do papel e o volume dos livros desapareceram, questionamo-nos sobre até que ponto não poderá esse mesmo conhecimento desaparecer e dar lugar a algo formatado que nos é "disponibilizado".
Com sentidas interpretações de um Frank Langella "anormalmente" sentimental e melancólico demonstrando que à medida que o tempo passa consegue estar presente em interessantes e intensos desempenhos dramáticos aos quais não estaríamos habituados noutros tempos, e uma Susan Sarandon que, mesmo numa interpretação dita secundária, demonstra o seu fogo como a base e os alicerces de uma relação que aparentemente à distância consegue estar sempre presente.
De destacar ainda a fotografia de Matthew J. Lloyd que sem nos retirar do espaço natural em que nos encontramos, consegue transformá-lo num ambiente futurista e de certa forma mais "clean", e também mais impessoal, tornando-se num dos pontos fortes do filme por assim conseguir colocar-nos nesse tal futuro "mais ou menos distante", e também a emotiva e sentimental música de Francis and the Lights que dão o toque "humano" a toda esta narrativa, e que o transforma naquele filme que provavelmente muitos irão ignorar mas que ficará na memória daqueles que o irão ver.
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8 / 10
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