Obrigado por Fumar de Jason Reitman foi a sua primeira longa-metragem e logo de imediato com uma temática polémica e que tantos rios de tinta fez correr nos Estados Unidos, ao satirizar os grandes lobbies nomeadamente o do tabaco.
É desta forma que conhecemos Nick Naylor (Aaron Eckhart), o porta-voz do lobbie do tabaco com o dom para a palavra que ao mesmo tempo que defende os interesses de uma poderosa e sem escrúpulos indústria tenta também ser o exemplo para o filho que o tem como um modelo a seguir. Nick tem ainda reuniões amigáveis e informais com outros dois poderosos porta-voz de lobbies tão poderosos e polémicos como o do tabaco. Bobby Jay (David Koechner), o das armas e Polly Bailey (Maria Bello) a do alcoól, que através de simpáticos jantares nos fazem assistir a delirantes encontros onde reina a hipócrisia e o rosto de uma nação perdida entre os valores que deve e deveria defender e, ao mesmo tempo, assistimos também a todo um conjunto de jogos de bastidores que por vezes colocam vítimas e agressores em lados opostos àqueles que tradicionalmente deveriam representar.
No entanto Nick tem um poderoso inimigo que não lhe concede qualquer tipo de descanso, o Senador Ortolan Finistirre (William H. Macy) que tudo fará para desacreditar não só os seus argumentos como acima de tudo todos aqueles que defendem uma indústria que provoca anualmente a morte a milhares de cidadãos.
Jason Reitman que além de realizar também assinou o argumento com base na obra de Christopher Buckley, entrega-nos com este filme um olhar mordaz e corrosivo sobre os valores que regem muito concretamente a norte-americana onde, através dos grandes grupos de pressão e lobbies que defendem as mais variadas áreas com que muitos de nós a identificamos, e que nos mostram assim o quão característicos podem ser os valores ou ideais defendidos. Como se isto não bastasse aqui temos ainda um olhar francamente mordaz à prioridade estabelecida pela vítima quando confrontada com os seus próprios valores individuais ou mesmo, a atenção que é prestada a uma área e não ao seu todo. O que fará pior... uma sociedade onde o tabaco era encarado como um sinal de glamour? Uma sociedade onde a obesidade atinge records absolutos? Uma onde o alcoól é encarado como a forma mais "normal" de socializar ou uma sociedade onde as armas são encaradas com mais naturalidade do que o direito à educação?
Este olhar mordaz e sarcástico com uma elevada dose de comédia sóbria faz desta estreia de Reitman nas longas-metragens uma reflexão interessante sobre em que "lado" se encontram todos os intervenientes. Até que ponto o culpado o é verdadeiramente e mais curioso... até que ponto a vítima o é quando pactua com aquilo que se decidiu em tempos combater?
A dar corpo a esta curiosa personagem temos um Aaron Eckhart em modo protagonista numa interpretação que, não constituindo a sua melhor (com todas as limitações subjectivas que este julgamento possa ter), não deixa de se apresentar como aquele actor capaz de suportar um filme de destaque sem ser o suporte de ninguém cuja nomeação ao Globo de Ouro vem confirmar como um dos actores do momento (ainda que entretanto se tenha relegado novamente para desempenhos secundários em filmes de grande destaque). Seguro e inspirado, cómico e também ele mordaz, Eckhart é a alma de um filme que não a tem e também o seu elemento mais forte, onde deambulam personagens vazias não de conteúdo mas de uma essência. Ocas por não reflectirem sobre a sociedade, o meio e as ideias que defendem e representam, o "Nick" de Eckhart é o homem que defende o moralmente impossível não por nele acreditar mas, porque tal como todos os demais, tem um filho por criar, uma vida por viver e uma hipoteca para pagar.
Um filme auspicioso e uma interessante estreia para Reitman que, tal como viria a comprovar com os títulos seguintes, é um realizador a ter em atenção.
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"Nick Naylor: Michael Jordan plays ball. Charles Manson kills people. I talk. Everyone has a talent."
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6 / 10
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