Paranoid Park de Gus Van Sant foi um dos seleccionados para a Palma de Ouro em Cannes e que nos conta a história de Alex (Gabe Nevins) um adolescente vindo de um lar conturbado onde vive com a mãe e o irmão mais novo que depois de alguns actos ainda por explicar se vê interrogado por um detective que investiga a misteriosa morte de um segurança numa linha de ferro.
Num misto de reflexão sobre a sua vida, o seu lar desfeito, a pressão sexual exercida pela sua namorada e uma morte acidental, Alex escreve num caderno os acontecimentos que se foram sucedendo naqueles dias ao mesmo tempo que frequenta Paranoid Park, um recinto de skaters que ali se encontram e forma a sua própria família e sociedade, longe das normas de uma sociedade ao seu redor que já por si, se encontra numa convulsão.
Habituado que estou obras de Van Sant como Disposta a Tudo, O Bom Rebelde ou Finding Forrester, seria natural que a expectativa a respeito deste filme fosse muita, especialmente se considerar que antes deste Paranoid Park já tinha também visto o seu premiado Milk. Numa linha contínua a essas obras que referi, este Paranoid Park prossegue com as histórias de personagens inadaptadas, algumas delas com problemas com a sua própria "pele" e que tentam desesperadamente encontrar um próprio lugar no mundo ou uma concepção de mundo adaptado à sua realidade. Assim o tivemos com a "Suzanne" de Kidman ou com o "Will" que Matt Damon compôs no referido filme e aqui não é excepção com a interpretação a que Gabe Nevins dá corpo com o seu "Alex".
Poderíamos esquecer por momentos que este "Alex" mais não é do que um adolescente que se encontra numa idade complicada e que "luta" pela sua transformação para uma idade adulta. No entanto este aspecto ganha mais importância devido a todas as inerentes responsabilidades que o esperam, graças à inexistência de um pai que o estima mas não está presente e por uma mãe apagada que vive os seus próprios problemas resultantes da separação do seu marido. Ele vive assim uma constante encruzilhada fazendo aumentar todos os problemas que, noutras circunstâncias, seriam tidos como "menores" mas que assim definem cada um dos seus instantes.
Uma vez atingido pela tragédia, ainda que acidental, "Alex" inicia a sua própria redenção através de um diário onde não só desabafa sobre os trágicos acontecimentos que vitimaram um homem à sua frente, como também sobre todo um meio que o rodeia e que é na prática pouco convencional ou mesmo facilitador para a sua condição de jovem adulto. As pressões dos pares (os outros adolescentes), da namorada e de uma situação familiar já de si fragilizada, acentuam o drama existente quando percebe não ter ninguém com quem desabafar os seus próprios problemas ou as situações graves pelas quais atravessa, resolvendo os seus próprios demónios e incertezas completamente sózinho num mundo que está, de certa forma, repleto de pessoas que consigo convivem, num desempenho notável de Nevins que demonstra todas as fragilidades de um jovem que se encontra perdido e que suporta basicamente todo o filme desde o primeiro instante, não recolhendo nenhum desempenho que se destaque além do seu.
E se as premissas desta história baseada na obra de Blake Nelson são suficientemente fortes para compreendermos as angústias silenciosas deste jovem, o que é certo é que sinto que este filme não foi para além do esperado mantendo toda a tensão dramático sempre num lume brando que nunca chega a "queimar", e para o qual além da interpretação de Nevins, só contribui uma magnífica fotografia de Christopher Doyle e Rain Li que por momentos nos colocam numa qualquer atmosfera etérea longe do plano terreno em que nos encontramos.
Paranoid Park é um (mais um) interessante filme de Gus Van Sant mas que poderia ter sido mais arriscado como as suas outras obras e criado uma ponte de ligação, e comparação, para com um público mais vasto e não apenas um público alvo assumidamente mais jovem.
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5 / 10
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