quinta-feira, 21 de março de 2013

The Deep Blue Sea (2011)

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O Profundo Mar Azul de Terence Davies foi o filme que voltou a trazer o nome de Rachel Weisz para esta última temporada de prémios e que estreia finalmente em Portugal, numa história adaptada por Davies da peça de Terence Rattigan.
Hester Collyer (Weisz) é casada com William Collyer (Simon Russell Beale) um juíz com quem mantém uma relação mais cimentada na sua amizade do que propriamente em laços amorosos. Saturada da passividade que esta relação lhe confere, Hester deixa-se levar pelos encantos de Freddie Page (Tom Hiddleston), um oficial da Força Aérea Britânica com quem acaba por se envolver numa relação auto-destrutiva.
Aquela que inicialmente parece ser uma simples relação que apesar dos seus distanciamentos para manter as aparências numa sociedade conservadora, rapidamente se revela como uma união entre dois seres que apesar de se amarem, transformam o amor mutuamente sentido numa relação que se alimenta do poder destrutivo que ambos mantêm entre si. Se por um lado Hester e Freddie encontram um no outro o despertar de um sentimento até então não verificado para com ninguém, não deixa igualmente de ser verdade que esta mesma relação vai, aos poucos, transformando-se numa dependência doentia que aos poucos os vai consumindo e eliminando.
Esta história vai para além do simples conto onde a dependência se confunde com o amor, transformando-o assim num sentimento de posse e de sobrevivência que elimina lentamente os envolvidos. Aqui existe muito mais para além da trágica história de amor.
Se reflectirmos na época em que esta história toma lugar, percebemos que é uma Londres recentemente saída de uma Segunda Guerra Mundial que não só afectou a cidade em si como muito concretamente aqueles que de uma ou outra forma lhe sobreviveram. Uns por terem combatido em cenário de guerra tendo de lá voltado com os seus traumas e demónios, e que através de "Freddie", percebemos que esses traumas persistem e afectam-no na capacidade de encontrar paz e sossego junto de alguém que goste dele, denotando uma clara deficiência na relação interpessoal, e ainda outros que não tendo estado em cenário de uma guerra física propriamente dita, se encontraram sempre presentes numa cidade que não deixou de sofrer os seus ataques e bombardeamos e também cortes regulares de energia que, também a eles, lentamente os foi consumindo e lançando numa instabilidade e insegurança crescentes, grupo este no qual "Hester" facilmente se insere.
O medo, a insegurança e a incerteza que o futuro então transportava, fê-los sentirem-se por um lado vazios de esperança e por outro com uma estranha sensação de liberdade que os fez libertarem-se de qualquer tipo de elo e ligação com aqueles com quem de mais perto privavam. O amor sentido por uns num dia era, meses depois, completamente desprovido de razão e sentido. Os objectivos modificaram-se e as suas vidas passaram a não fazer o mesmo sentido que outrora. Os elos criados num dia eram então inexistentes, lançando-os assim numa incerteza maior do que aquela já trazida pela guerra, e só encontrariam "pares" naqueles que, tal como os próprios, estavam também traumatizados pelos duros anos que viveram.
O amor, os afectos e as ligações estabelecidos naqueles longinquos anos pré-guerra eram então irrelevantes, ocos e frívolos, e apenas os novos laços que os fizessem sentir novamente livres, vivos e capazes de sentir (mesmo que a dor), eram os únicos meritórios da sua atenção... era assim que "Hester" e "Freddie" se encaravam, como sentiam o mundo e principalmente como se viam um ao outro.
Esta não é assim uma história de amor mas sim a história do único amor que, para estes dois seres, foi possível encontrar. O amor que os uniu depois dos seus maiores tormentos e dificuldades pois, mutuamente, encaravam-se como sobreviventes das suas próprias prisões quer elas fossem a guerra ou a existência numa relação que aos poucos os consumia e por onde desapareciam sem terem assim a sua própria voz e, com esta, declararem a sua própria individualidade.
O "estado" destas duas personagens é belissimamente retratado pelo magnífico trabalho de fotografia de Florian Hoffmeister que (n)os rodeia constantemente de uma ausência significativa de cor ou de luz. Tudo parece muito opaco e constante. As variações de tonalidades são praticamente inexistentes o que denota que a sua própria estabilidade e personalidade está também ela afectada e marcada. Não existe grande tensão a registar nestas duas almas que se encontram perdidas, sufocadas pela ausência, ou impossibilidade, de entrega ao "outro", e esse sentimento de claustrofobia é presente em "Hester" a todo o instante, e Rachel Weisz tem uma interpretação magistral ao ponto de nos fazer sentir que a qualquer momento pode explodir dando vida a uma qualquer emoção que será até então desconhecida.
E o mesmo acontece com o "Freddie", que Hiddleston maravilhosamente interpreta, que pouco faz por conter toda a sua raiva e instabilidade psicológica e emocional. Como pode ele, martirizado que está da sua experiência militar, procurar numa mulher que ama, mas que lhe é dele totalmente dependente, um porto de abrigo e de tranquilidade quando a própria se econtra incerta do que ele lhe poderá (ou não) dar.
As suas duas personagens, bem como todo o meio envolvente que passa pela opulência de algumas classes endinheiradas que sobreviveram amargamente à guerra até à miséria que se encontra pelas ruas ou mesmo pelos pubs que se tornaram os últimos locais onde encontrar alguma alegria, encontram uma estranha mas sedutora ligação através de uma riquíssima e muito presente banda-sonora composta por Samuel Barber, que a certo momento acaba também ela por ser uma das "personagens" deste filme e que alcança a proeza de criar uma envolvência com o própria espectador incapaz de a ignorar.
Uma diferente e pouco reconfortante história de amor mas que, ainda assim, consegue assumir-se como um interessante e desafiante conto sobre a impossibilidade da relação entre dois seres que se amam... mesmo quando percebem que não podem viver um com o outro.
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"Mr. Miller: I give respect to those who deserve it ... to anyone else I'm civil."
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7 / 10
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