Eclipse em Portugal de Alexandre Cebrian Valente é uma longa-metragem portuguesa de ficção estreada no início do ano e a segunda que o realizador dirige depois de Second Life (2009).
Tó-Quim (Pedro Fernandes) apaixona-se por Anita (Sofia Ribeiro) vivendo assim uma relação instável e violenta que não augura nada de positivo. Anita esconde seguir determinados rituais satânicos e rapidamente alicia Tó-Quim a manter o mesmo tipo de adoração tendo, como iniciação ao mesmo, de assassinar os seus pais.
Cebrian Valente, realizador e argumentista deste filme, adaptou muito livremente ao cinema esta história inspirada em acontecimentos reais que, o mais simpático que lhe podemos atribuir reside no facto de rapidamente fazer qualquer espectador esquecer que realmente por detrás deste desastre de proporções bem manhosas se esconderem acontecimentos que em tempos afectaram a vida de uma comunidade.
Pelos mesmos motivos que me levaram a considerar 7 Pecados Rurais e Sei Lá dois dos piores filmes portugueses dos últimos tempos, Eclipse em Portugal junta-se facilmente aos referidos formando um trio do desastre, ou seja, aquele conjunto de filmes que todos deveremos evitar para manter uma qualquer sanidade cinéfila - e mental - que se aproveite para o futuro próximo. Eclipse em Portugal é para todos os efeitos, e à semelhança dos outros dois referidos títulos, um escárnio ao público que poderá - eventualmente e desconhecendo - assistir a estas alarvidades. Primeiro por fazer desse mesmo público um conjunto de indivíduos atrasados, perdidos no tempo e numa mente pouco desenvolvida que pouco serve para além de relações incestuosas, secretas ou até mesmo proibidas mas que revestidas pelo manto do provincianismo são tidas como normais, aceitáveis e até mesmo bem-vistas ainda que em segredo. Desde o cliché do padre engatatão que é pai de sabe-se lá quantos filhos e que é bem visto pela comunidade, sem se esquecer dos "jovens" evoluídas demais para a comunidade em que estão inseridos, Eclipse em Portugal é um conjunto de lugares comuns e atentados contra o bom funcionamento de uma história que, afinal de contas, dá motivos so espectador para desejar que toda aquela suposta "população" merece realmente ser erradicada das nossas ruas. Quereria algum de nós ter alguma destas pessoas como vizinho? Não me parece!
Vibradores maiores que troncos de árvores - talvez aquilo que realmente mereça ter o estatuto de assustador para qualquer espectador -, mortes espalhafatosas que roçam o ridículo - Sílvia Rizzo e Fernanda Serrano... duas actrizes pelas quais tenho a maior estima (a primeira depois das suas intensas interpretações na telenovela Primeiro Amor (1996) e pela sua participação especial em Crianças SOS (2000), e a segunda pela sua protagonista em Amanhecer (2002-3) não merecem isto - ao ponto até de tornarem leviano um acontecimento real, rituais satânicos absurdos e uma ligeira indicação de que tudo se deve graças a um eclipse que em tempos aconteceu tornam este filme um insulto ao cinema de forma geral, já para não falar ao conjunto de actores que dele fazem parte a que junto aos já referidos nomes como Ricardo Carriço, José Eduardo, Joaquim Nicolau, Pedro Lima, São José Lapa ou José Wallenstein. Interpretações fracas sem que nenhum se destaque pela positiva e feitos apenas e só à medida daquilo que o péssimo agumento lhes permitiu, quase arriscaria dizer que qualquer um destes actores rapidamente deveria querer que Eclipse em Portugal fosse um daqueles títulos que eles não quererão voltar a ouvir pronunciar... tipo Voldemort...
O absurdo povoa sem qualquer tipo de pudor ou vergonha por este filme - sim, apesar de tudo vou continuar a chamá-lo de tal - que insiste em abusar a todo o momento do bom nome desses actores que mereciam muito mais do que "isto", assim como ridicularizo o espectador pela noção que transmite de uma parte da sua população que podendo ser mais simples e com outros costumes que existem nas cidades maiores não são necessariamente animais selvagens dispostos a morder para ter um pedaço de carne maior.
A certa altura o argumento faz-nos perder e até mesmo divagar sobre até que ponto terá este filme sido realmente inspirado numa história verdadeira... afinal, aqueles que o são prezam por recorrer a factos e acontecimentos podendo muito pontualmente adicionar pequenos apontamentos para ficcionar alguns detalhes... Aqui, Cebrian Valente dispersa pelo reino da fantasia ao inserir a noção de que vários repórteres tentaram saber a verdade mas nenhum voltou sequer para desmascarar a verdade - a noção do Portugal profundo quase transilvânico onde o comum dos mortais desaparece -... Ora, por muito grande que Portugal seja e por muitos recantos escondidos existam, até que ponto desapareceriam assim tantos jornalistas sem que ninguém alguma vez - mais não fosse "só por acaso" - se lembrasse que depois desta reportagem "maldita" nunca mais pensasse que os mesmos tinham regressado lá da "parololândia" tão acentuada pelo realizador?!
A alarvidade não termina e existe sempre uma incessante vontade de tentar ser irreverente - aqui até sexualmente - e relatar uma portugalidade inexistente, um sarcasmo e uma "verdade" mórbidos a respeito daquilo que somos, mesmo na nossa hipocrisia, e com isso ser rebelde... sem de facto o ser.
No final o que me espanta com Eclipse em Portugal - assim como com outros títulos que se inserem nesta corrente de filmes que nunca deveriam ter sido feitos - é esta mesma vontade de rebeldia, de mostrar um pouco mais o que escondemos e o que somos ou até mesmo aquilo que ambicionamos ser sem que, no entanto, se esteja disposto realmente a mostrá-lo. Queremos ousar sem tocar nos pontos fracos, queremos rebeldia sem que isso provoque comentários e queremos ir mais além sem que, no entanto, se consiga sequer chegar aos calcanhares de outros que tendo muito menos meios técnicos e por vezes até o tal "rosto" conhecido conseguem e criando assim o seu público.
No final, e para além de crítico mas sim enquanto espectador que tem a mais profunda admiração por muitos dos actores que aqui vejo participarem, espero sinceramente que este filme seja enterrado no mesmo lugar onde "despacharam" a jornalista Vitória (Sandra Cóias)... no fundo do rio.
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