domingo, 3 de agosto de 2014

Bright Young Things (2003)

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Sexo, Escândalos e Celebridade de Stephen Fry é uma longa-metragem britânica adaptada pelo realizador a partir do romance Vile Bodies de Evelyn Waugh sobre a vida de um conjunto de jovens boémios na Londres dos anos 30.
Quando Adam Fenwick-Symes (Stephen Campbell Moore) regressa a Inglaterra, o seu propósito é editar o seu livro e casar com Nina Blount (Emily Mortimer). Enquanto ele se prepara para um casamento abastado e uma vida tranquila, Nina pretende uma vida de electrizante opulência e festas com os amigos. Nesta década de irreverência e loucura... anuncia-se a guerra que iria mudar para sempre as suas vidas.
Com um conjunto dos mais refinados actores britânicos desta "nova geração" como, por exemplo, os já mencionados Mortimer e Campbell Morre ou ainda James McAvoy, Michael Sheen ou Fenella Woolgar, Bright Young Things estabelece não só um paralelismo entre a luz, a cor e a folia de uma geração que não tinha vivido a Primeira Guerra Mundial mas que, ao mesmo tempo, decide viver a vida com uma intensidade até então não sentida com, por outro lado, a transição dessa dita idade mais jovem para uma "maioridade" que - haviam decidido - ainda não abraçar.
Desde os instantes iniciais da obra de Fry que o espectador sente estar perante um filme que corre com o mesmo impulso frenético que as vidas daquelas excêntricas personagens que parecem alucinadas com uma correria auto-imposta. Independentemente daquilo que mais tarde testemunhamos ser o seu modo e estilo de vida, o espectador perde-se com uma desenfreada necessidade de expôr os hábitos e vidas deste conjunto de amigos como se o mesmo fosse justificativo daquilo que tanto queriam fazer como forma de celebrar uma vida que - pensam - sentir estar a passar ao lado. Da ausência de responsabilidades a uma sentida percepção de que o mundo se altera lentamente, o grande choque desta geração chega quando são confrontados com uma sociedade que se fecha e altera sem o seu consentimento. Os hábitos permanecem e os gostos continuam mas, ao mesmo tempo, o mundo impõe-se como o grande garante do que pode ou não ser tolerado em sociedade.
Pelo pano de fundo impera ainda o amor. A necessidade de uma entrega extrema a alguém que defenda um estilo de vida comum, que se dedique ao seu parceiro para lá de todas as amarguras dos tempos de guerra ou mesmo dessa sociedade (agora) mais conservadora e que, para lá do poder do dinheiro confira entre quatro paredes uma segurança que o mundo - lá fora - afirma não dar. Bright Young Things pode ser um filme sobre a última grande geração de jovens iludidos - inocentemente - com o poder do "tudo podemos" mas, na conglomeração de todos estes elementos, perde-se nesse seu ritmo frenético que se (auto) impõe e que, por momentos, consegue cansar o espectador.
A guerra todos muda - escutamos vezes sem conta em tantos filmes do género -, eliminando a pura inocência que a todos é conferida antes de momentos reveladores de uma grande mudança. Mas, chegada esta mudança, alteram-se as vontades, os gostos e até mesmo a tranquilidade sentida nessa irreverência antes tida. Se estas premissas estão presentes em Bright Young Things, não deixa de ser real que, ao mesmo tempo, toda a junção destes elementos não consegue prender o espectador às suas inúmeras vertentes ou tão pouco aos sub-temas que tenta explorar... O excesso de personagens e todos os seus rumos nem sempre claros ou explorados, fazem compreender que existia aqui material suficiente para uma trilogia - completamente absurda - ou então, para melhor dinamização da história, concentrar todas estas experiências apenas num conjunto mais limitado de personagens com as quais o espectador conseguisse criar algum tipo de ligação ou empatia. De amores perdidos e proibidos à loucura instalada e da paz sentida à guerra que se faz sentir, Bright Young Things entra no mesmo delírio que as suas personagens e tem um fim igualmente pouco brilhante.
A realidade chega especialmente quando não a esperamos. O mundo muda e transforma-se mesmo que não demos por ele ou tão pouco o acompanhemos. No entanto, se não paramos para nos concentrarmos nos nossos próprios objectivos e ambições adaptadas a essa mesma mudança, a loucura instala-se sem que dela conseguimos uma libertação mantendo-nos presos a um passado brilhante mas ilusório e distantes de um futuro real e em igual medida... menos garantido.
Uma estreia na realização de Stephen Fry rica na composição técnica e artística da época mas que falha na concentração com a exposição das mais variadas histórias paralelas em torno de "Adam" e de uma francamente ausente "Nina" que deveriam ser o centro de todas as histórias, personagens e inuendos mas que, no entanto, por aqui mantém-se como "mais um" entre tantos.
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3 / 10
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