Tio Carlos 1942-1969, Um Inquérito Docudramático de João Gomes é uma curta-metragem documental e o mais recente trabalho do realizador de Natália, a Diva Tragicómica e Estórias.
O realizador João Gomes dirige esta curta-metragem de forma pessoal e curiosa sobre a história de um tio que nunca conheceu e cuja memória sente ter desaparecido da tradição oral da família como se um vazio sobre a sua pessoa tivesse sido criado.
Deste tio, de nome Carlos Alberto de Jesus Silva, sabe-se que desapareceu em África durante o conflito colonial português sendo todas as demais memórias bloqueadas e apagadas das mentes dos familiares - aqui na pessoa da mãe do realizador - dos quais se percebe existir algum desconforto em relembrar este parente num misto de ausência e presença que se mesclam e confundem.
Quando os próprios registos oficiais parecem dar uma continuidade a este desconforto e ignorar a existência desta pessoa da qual poucos documentos e memórias existem, o espectador pergunta-se até que ponto esta terá sido real e existido de facto! Sabendo que sim, de facto existiu, a curiosidade adensa-se quando as perguntas são mais do que as respostas fornecidas e sente-se a presença de alguém - ou algo - que está por explicar. A presença de um fantasma adormecido, mas sem descanso, o qual precisa da sua expiação para que a sua história seja finalmente esclarecida voltando assim ao seio da família que é a sua.
João Gomes consegue com este seu breve documentário levantar algumas interessantes questões sobre a identidade individual, sobre a memória - do indivíduo e a colectiva - e ainda, e talvez principalmente, uma questão a respeito dos laços familiares e da sua resistência quando um dos seus elos (ou elementos) desaparece sem deixar um rasto ou marca individual. Documentário interessante ao ponto de ficar uma pequena - grande - vontade sobre um potencial desenvolvimento desta história e investigação que pudesse eventualmente entregar um descanso à memória do Tio Carlos.
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7 / 10
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