quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ruas Rivais (2014)

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Ruas Rivais de Márcio Loureiro é uma longa-metragem portuguesa de ficção que conta com a interpretação de algumas figuras conhecidas da nossa televisão como Rui Unas, João Manzarra, Fernando Alvim e ainda Fafá de Belém numa participação especial.
Quando Bocas (Adolfo Nunes) morre, o Deus do Freestyle (Fernando Alvim) encarrega-o de organizar uma battle ou então a sua morte será definitiva. É no seu regresso que tenta convencer os seus amigos Cristovão/D.Cristo (Ruben Valle), Mr. Paki (Tomás Neto) e Nurb Di Street (Bruno Leça) a entrar nesta aventura enquanto pelo caminho se descobrem velhas rivalidades e segredos que até então estavam escondidos.
Com um conjunto excessivo de personagens que se atropelam a todo o momento, o argumento escrito por Bruno Leça, Ruben Valle e Rute Miranda preza por ser aquele que irá possivelmente afirmar-se como o mais inútil e absurdo que o cinema português viu. E não me refiro aos "últimos tempos"...
Desde o primeiro instante que o espectador sente uma total desconexão de segmentos onde se tentam apresentar todas as personagens ao mesmo tempo como se existisse uma necessidade quase agonizante para fazer crer que todas elas eram necessárias para uma história que se enrola em momentos sem graça. Estas personagens são, quase na sua maioria, criadas para justificar momentos que se tentam fazer ter graça em pequenas histórias paralelas que se criam para que o filme possa avançar - sem elas mais não seria do que uma curta-metragem manhosa com tudo condensado e mesmo assim em excesso - cada uma delas representativa de um determinado estilo que cai também ele em lugares comuns que a certa altura cansam pela sua banalidade. Temos os tipos que vivem e respiram a música e o freestyle como a lei de uma qualquer Bíblia, os enredos manhosos de discotecas de terceira categoria onde todos se conhecem e ninguém se "grama", e o potencial cromo de serviço que é, afinal, um deus do referido estilo.
Assim, e de piadola barata para piadola ainda mais barata, muitas delas verbalizadas numa linguagem que não se percebe bem se é português ou algum novo dialecto que foi inventado à pressão para o efeito, Ruas Rivais banha o espectador com quase duas horas de trivialidades sem graça - qual episódio d'Os Malucos do Riso - que fazem o espectador mais atento perceber que quando se pensa que nada pode ultrapassar o nível (baixo) de 7 Pecados Rurais ou Sei Lá... o mesmo é surpreendido com esta peça desconexa, desinteressante, sem graça e que confirma que sim... há desperdício de dinheiro em Portugal que infelizmente tem quase duas horas de duração. Pouco é (infelizmente) o cinema português que encontra um caminho para o circuito internacional mas, por breves - muito breves - momentos fui levado a equacionar a tenebrosa ideia de que este conseguiria seguir um bom rumo e chegar a outras paragens para além das nossas fronteiras... tremi e temi pela ideia daquilo que se pensaria do nosso cinema depois de verem esta "pérola" e no quão complicado poderiam ficar as grandes obras que felizmente o nosso cinema consegue produzir.
Mas as alarvidades não se ficam por aqui... ao longo da trama (existe uma? Se sim só mesmo se pensarmos na quantidade de frases que foram possivelmente retiradas de um qualquer filme semi-pornográfico de segunda categoria), deparamos com uma perseguição entre dois mafiosos e os nossos protagonistas que termina numa cena de tiroteio que dura alguns minutos... durante os mesmos perguntamo-nos qual a carga daquelas armas pois os tiros não cessam de forma alguma e no final (que nunca mais chega) perguntamo-nos... "isto terá realmente valido o esforço aplicado?". Não só por todos os momentos desconexos, pelas péssimas interpretações ou pelas personagens dispensáveis... esqueçamos até a falta de um argumento digno de interesse e perguntemo-nos apenas se esta realidade americana das battles e dos confrontos (mal) transportada para uma qualquer realidade alternativa portuguesa faz realmente algum tipo de sentido ao ponto de ser minimamente coerente?! A resposta é simples... não... não faz. Menos ainda quando percebemos que existe tanto profissional pelo país fora com capacidade e originalidade que fica pelo caminho sem conseguir realizar os seus projectos por falta de (escassos) apoios.
A existir um elemento positivo neste filme ele é única e exclusivamente a respeito do guarda-roupa elaborado por Mariana Falardo, característico e exemplar do género que se pretende retratar com este filme. Tudo o resto, sem excepção possível, pertence ao reino daquilo que qualquer um de nós reza para poder, com sucesso, esquecer.
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"Cristovão: (...) aquele líquido branco que quando vamos a beber fica sempre um bocadinho nas bordas."
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