Alda de Ana Cardoso, Luís Catalo, Filipe Fonseca e Liliana Sobreiro é uma curta-metragem de animação portuguesa e possivelmente um dos melhores e mais bem executados filmes do género dos últimos tempos.
Alda é uma mulher solitária e já de uma certa idade. Afasta-se de todos e do mundo apenas contactando com ele no indispensável. Não fala com ninguém e evita as poucas pessoas com quem se cruza, e a sua casa no meio do campo é a única coisa que realmente conserva como sua.
Mas quando uma barragem está prestes a ser terminada... Alda terá de enfrenta o abandono da sua casa.
Esta magnífica curta-metragem cujo argumento é da autoria dos quatro realizadores tendo Luís Catalo ainda a seu cargo a emotiva música original é, como já referi, um assumido marco no panorama de cinema de animação português. Sem qualquer recurso a diálogos deixando as imagens falar por si, Alda transmite ao espectador um imediato sentimento de solidão e abandono que se agudizam com a chegada dos transportes que se preparam para levar os últimos habitantes para fora daquela pequena aldeia que tanto viu no seu passado.
Como aquele que será eventualmente o momento mais tocante desta curta-metragem, quando "Alda" fecha a porta não sem antes deixar um último olhar sobre o espaço onde nasceu e cresceu, esta história leva-nos ainda a uma breve passagem pelo seu novo espaço. Aquele espaço onde apesar de ter todas as últimas e mais modernas condições de conforto não deixa de se sentir como uma intrusa num espaço frio e onde não se encontram nenhumas das suas memórias do que foi e nunca mais será. "Alda" é uma mulher envelhecida, solitária e triste, perdida num novo mundo que não sente - nem sentirá - como seu. Na essência, "Alda" ocupa uma casa... mas não um lar.
A transformação e a modernidade enfrenta-as com silêncio... e no mesmo silêncio recorda o seu passado agora perdido. Alda - filme e personagem - são assim um silencioso relato sobre a perda, sobre a memória, e sobre aquilo que sendo passado nos define pela importância que criou na vida de cada um e que, de certa forma, nos "trouxe" ao lugar onde hoje nos encontramos. Porque não existe nada mais importante do que um lar, Alda reflecte assim sobre a sua importância enquanto espaço de conforto e de formação do grupo primário de cada um de nós que, podendo ser mais distante dos últimos equipamentos tecnológicos não deixa, no entanto, de ser aquele onde cada um de nós é capaz de encontrar o seu espaço, o seu lugar, conforto e ambiente natural. E tudo isto enquanto assistimos à passagem de testemunho de um outro Portugal desaparecido - ou que vai desaparecendo - também ele, em silêncio.
Alda é, numa breve expressão, uma pequena grande pérola.
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9 / 10
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