A Sedução de Joe Tynan de Jerry Schatzberg é uma longa-metragem norte-americana cujo argumento foi escrito pelo actor protagonista, Alan Alda.
O Senador Joe Tynan (Alda) é um político respeitado e admirado a quem é pedido que assuma a liderança da oposição a uma indicação para o Supremo Tribunal de Justiça. Com o auxílio de Karen Traynor (Meryl Streep), uma investigadora que descobre as provas do comportamento segregacionista do indicado ao Supremo, Tynan conquista um cada vez maior apoio por parte do público e de alguns outros políticos que ambicionam estar a seu lado quando a sua ascenção a um cargo mais elevado se confirmar.
No entanto a relação entre Tynan e Traynor desenvolve para além da esfera profissional comprometendo não só a sua integridade político como a sua vida familiar que aos poucos parece ser relegada para um segundo plano e dos quais se afasta aos poucos mesmo contra sua vontade.
Um filme no qual entre Meryl Streep é sempre um chamariz. Se pensarmos que este foi um dos seus primeiros desempenhos no cinema e no mesmo ano em que participou em Kramer Versus Kramer então temos uma combinação de elementos que só poderiam ser abrilhantados com um argumento que nos leva para os mais ou menos "claros" meandros da política.
Alda, não só protagonista como argumentista deste filme, leva-nos a uma abordagem diferente do meio... Aqui contam as aparências, as supostas amizades e os jogos de bastidores que o verdadeiro homem político tece para a sua (e única) ascenção a cargos mais altos. As promessas que não se cumprem e os favores que não se pagam são apenas ofuscados pela devassidão e deboche (quase premonitória) pelos quais esses mesmos corredores e bastidores se regem num conjunto de "leis" e de códigos que apenas os envolvidos conhecem e pelos quais se deixam levar num ciclo vicioso e assumidamente corrompido.
No entanto, esta combinação de elementos, perfeita para entregar ao espectador um olhar mordaz e quase cínico sobre o mundo que é suposto defender os interesses dos cidadãos mas que acaba por criar um pequeno conjunto de "grandes senhores" que apenas vêem e trabalham para os seus próprios interesses, falha. E falha não porque o que é apresentado esteja mal elaborado mas pela sua falta de exploração, e até mesmo de convicção, com que é abordado. "Tynan" é um homem ambicioso mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser cordial e bem humorado com aqueles com quem de mais perto convive. Sabe até onde pode ir, o que fazer e como lidar com aqueles com quem se cruza mas a sua própria sede de poder deixa-o a ignorar os seus... a sua família. Quando entramos dentro do seu lar percebemos que a família apenas existe em nome. Com uma falta de comunicabilidade crescente e um conjunto de problemas por se resolver, os silêncios apoderam-se das suas acções e vontades. Tudo fica por dizer sem que o espectador consiga perceber o(s) seu(s) porquê(s).
Se esta componente dramática falha, esperaríamos então que aquele olhar cínico e mordaz repleto de comédia negra conseguisse catapultar este filme para outra esfera fazendo dela uma irónica referência mas, no entanto, também esses momentos supostamente mais descomprometidos mas ainda assim não menos irónicos, acabam por preencher apenas breves instantes sem que nos seja permitido realmente entrar nos podres dos meandros em que aqueles políticos "habitam".
Com interpretações meramente medianas do seu conjunto de actores nem Alda, nem Streep nem Barbara Harris que interpreta "Ellie", a mulher de "Tynan" conseguem cativar qualquer empatia ou mesmo identificação com o público em geral, comprovando que este The Seduction of Joe Tynan mais não é do que um filme de uma era e não um que seja representativo de um sistema ou de um meio. Nem mesmo a própria sedução oferece resultados. Quando Alda parece interpretar um homem cativante e a quem todos cedem de uma ou outra forma, aquilo que temos é, no final, um retrato pouco inspirado do político de valores (um contrasenso) mas sim uma imagem pouco ofuscada de um Homem que um dia teve ideias, objectivos e convicções deixando-se levar por um caminho fácil para a sua ambição que esteve, até então, ocultada.
Se o objectivo era seduzir o espectador, este talvez tenha sido conquistado no final da década de 70 do século passado porque hoje The Seduction of Joe Tynan mais não é do que uma colagem de momentos e de situações pouco exploradas e que são, irónica e tristemente, o retrato de uma realidade que todos nós já conhecemos.
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4 / 10
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