sábado, 23 de agosto de 2014

Nirvana (2014)

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Nirvana de Tiago P. de Carvalho é uma longa-metragem independente de ficção portuguesa que encontrou estreia comercial este ano e que conta com a participação de actores como Ian Velloza, Carlos Areia e Sabri Lucas.
Vega (Velloza) é um gangster expulso do seu próprio bando. Mas Vega tem um plano... quer vingar-se de Barbas (Daniel Martinho), que traiu a sua confiança.
No seio de um grupo de igualmente "perigosos" mafiosos, conseguirá Vega não só obter a sua vingança como escapar à sede de poder de todos os demais gangster que pretendem firmar o seu nome no mundo do crime?
O realizador Tiago P. de Carvalho em colaboração com Ian Velloza - o actor principal - conseguem demonstrar com Nirvana que as intenções narrativas do argumento se encontram presentes. Pela forma como é construída esta história, e principalmente as suas personagens, o espectador consegue perceber que esta foi feita a pensar com um sentido de um puro e simples entretenimento longe de qualquer tipo de pretensões. No entanto, e ainda que o humor parece querer povoar toda a base de construção quer das personagens principais quer das secundárias, não é menos seguro afirmar que estas se atropelam - por serem em demasia - constituindo este aquele que é possivelmente o elemento que não faz vingar o filme no seu todo.
Nirvana dá corpo a um elevado número de personagens e histórias que se interligam a um ritmo quase frenético - os desejos sedentos de vingança povoam o filme - que servem de justificação da ligação entre os diversos segmentos do filme. Ou seja, sempre que uma personagem é apresentada e que se poderia esperar que se justificasse a si própria, eis que aparece mais uma que credibiliza o segmento seguinte onde supostamente ela tem de aparecer. No fundo aquilo que Nirvana nos apresenta é um conjunto de elementos que apenas são interligados entre si através das inúmeras histórias paralelas que cada personagem nova apresenta para o filme não conseguindo assim o essencial, ou seja, que cada uma delas tenha a sua própria personalidade e motivo de existência.
O "Vega" de Ian Velloza, o "Barbas" de Daniel Martinho e o "Pandarilhas" de Carlos Areia - que aproveito desde já por felicitar o realizador por ter trazido este actor ao devido e merecido destaque cinematográfico - seriam suficientes para dar corpo a toda uma trama que se movimentava não só pelo desejo de vingança inerente aos ditos como seriam também os necessários para delinear toda uma história - passado e presente - dos mesmos. Cada um deles tem o seu próprio ritmo e base e a todos lhes está inerente o desejado poder e controlo sobre o mundo do crime, no entanto - e por serem personagens e momentos em demasia que fazem o espectador não lhes conferir a devida atenção - Nirvana perde-se em momentos por vezes pouco esclarecidos onde os detalhes imperam e a coerência está por aparecer.
Os momentos cómicos existem, e o espectador entende que eles têm o seu início mas ao mesmo tempo também fica implícito que os mesmos poderiam ter sido levados - conduzidos - a outra nível se existisse uma maior coerência nas personagens... Desenvolver mesmo aqueles pequenos traços característicos que inicialmente evidenciam como a sede por poder de "Barbas", a chunguisse de "Pandarilha" ou as implícitas incertas sexuais de "Vega" mas, todos estes potencialmente interessantes elementos de cada um deles são esquecidos e ignorados mesmo estando presentes. No fundo tudo isto para dizer que o realizador e argumentista Tiago P. de Carvalho fez de facto um interessante trabalho na criação das diversas personagens mas, ao mesmo tempo, esqueceu-se de lhes conferir reais motivações - ainda que algumas possam ser sórdidas - e, no final, esqueceu-se de lhes atribuir uma alma... Ainda que possam parecer motivações dúbias como o singrar no mundo do crime, não deixam de ser esses objectivos que caracterizam cada um deles na sua essência... e isto falta em Nirvana.
Com uma banda-sonora moderna e arrisco dizer invulgar para um filme português - não, não é um comentário depreciativo, bem pelo contrário - Nirvana assume-se, no entanto, como um filme pensado para entreter - premissa que está presente e perceptível - mas, ao falhar na construção e respectivo desenvolvimento das suas personagens denota um potencial que não (conseguiu?) desenvolver na sua plenitude e afirmar-se como o "tal" filme dito "comercial" que se espera e que poderia ter marcado a sua presença. Afinal, enquanto cinema independente e com poucos ou nenhuns apoios, valor seja dado ao realizador e à equipa - técnica e actores - que conseguiu reunir e construir um filme que apesar das suas imperfeições faz sentir que a motivação existiu e este bem presente.
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3 / 10
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