quinta-feira, 9 de abril de 2015

A Outra Vida (2014)

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A Outra Vida de Joana Filipe e João Diogo Silva é uma curta-metragem portuguesa de ficção que esteve em competição no FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa que decorre no Cinema São Jorge, em Lisboa.
João (Elmano Sancho) morre. Daniel (Elmano Sancho), o seu irmão gémeo, é chamado para identificar o corpo tornando-se na primeira vez que voltara a ver o irmão em anos. Daniel é confundido com João pelos amigos deste, e decide fazer a viagem que ele nunca completou rumo a uma quinta que comprara antes de falecer.
Os realizadores são também os argumentistas desta curta-metragem tinham aqui um interessante potencial narrativo graças a esta história de uma relação fraterna interrompida por motivos que não chegamos a conhecer. Dizem as histórias que os laços entre irmãos gémeos são suficientemente fortes para um sentir a dor do outro. No entanto, o que terá acontecido na vida destes dois irmãos é - para o espectador - desconhecido e apenas podemos deduzir que àparte de qualquer referência a problemas e desentendimentos, foi apenas o rumo que a vida de cada um levou que os separou durante anos. Anos esses irrecuperáveis e que são agora impossíveis de colmatar e reatar uma ligação que se esperaria eterna.
No entanto, o "Daniel" de Elmano Sancho consegue destacar uma abordagem íntima sobre a dor sentida por um irmão sobrevivente que chora silenciosamente a morte do seu par. Aquele que agora não verá e que foi em tempos o seu melhor amigo, cúmplice e parceiro de aventuras e que (re)descobre como um também saudoso da sua presença. Será maior a dor de uma ausência involuntária ou aquela provocada pela inevitabilidade de acontecimentos mais ou menos trágicos? Se qualquer um de nós conhecesse o seu último momento, não tiraríamos alguns segundos para os acontecimentos e pessoas realmente importantes na nossa vida encurtando as distâncias e os silêncios que temos em vida?
Ainda que o possamos depreender pela silenciosamente inspirada interpretação de Elmano Sancho, A Outra Vida deixa todas as conclusões a cargo do espectador sem aprofundar mais a mensagem que está inerente à perda de um ente querido especialmente quando a convivência que tínhamos com ele é francamente diferente daquilo que era no início. A melancolia e o sentimento de perda estão lá bem como a vontade de encarnar um pouco do "outro" para sentirmos e vivermos tudo aquilo que perdemos com a sua distância mas, ao mesmo tempo, o resultado final apenas depende daquilo que cada um de nós recebe pelo que vê e não necessariamente pelo conteúdo da narrativa deixando muito espaço para ser aprofundado.
Já bem perto do final é que o "Daniel" de Sancho nos transmite que está na casa que o irmão comprou... aquela onde talvez esperava recomeçar a sua vida mas que, por ironia de um destino trágico, essa vida é recomeçada pelo seu irmão que agora está finalmente no espaço que era seu apenas possível graças à morte, aquela que deveria ser não o ponto de partida mas sim o de chegada.
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6 / 10
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