2 Metros Quadrados de Ana Luísa Oliveira e Rui Oliveira é um documentário português que marcou presença na Maratona de Documentários da sexta edição do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa que termina no próximo dia 15 no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Este documentário leva-nos a uma experiência pela zona norte do país, mais concretamente pela cidade do Porto e Gaia, onde o espectador obtém um conjunto de informações sobre um outro lado da sociedade portuguesa que tantas vezes optamos por ignorar mas com a qual vivemos tantas vezes bem de perto.
Começamos por conhecer Daniel Horta Nova, jornalista que se viu obrigado a viver na rua durante algum tempo e num espaço limitado e com o desconhecimento daqueles com quem mais de perto convivia - a sua família - foi obrigado a viver na rua. Com a sua experiência enquanto jornalista escreveu um livro - Farrapos de Alma - e hoje, já fora desta vida, mantém um olhar crítico não só sobre o Estado que tão pouco se preocupa com aqueles que se vêem obrigados a viver na rua, como também para as próprias associações sociais de apoio que, por vezes, vivem de um rosto que nem sempre corresponde à realidade - com o claro exemplo dos donativos de roupa que tantos anónimos fazem e que frequentemente não chegam àqueles que delas necessitam.
Conhecemos também Moisés e Renato. O primeiro vindo de Angola e agora pelas ruas de Portugal que o levaram a partilhar um quarto num edifício abandonado e degradado mas que, ao mesmo tempo, lhe garante o pouco conforto que possui. Com uma vida repleta de profissões nas quais hoje não consegue encontrar trabalho, Moisés - franco e frontal com a câmara - expõe a sua vida, o seu passado e o que acha que será o seu futuro... ou a sua falta.
Ao mesmo tempo, 2 Metros Quadrados não nos dá um retrato apenas daqueles que pensamos serem, à partida, os mais desprivilegiados da sociedade. Aqui, encontramos também aqueles que tendo mais formação ou até mais possibilidades de triunfarem numa vida tantas vezes injusta, se viram involuntariamente nas ruas, em quartos de hospedarias nem sempre muito dignas e sem o conforto digno de uma vida que se tentou levar sempre com responsabilidade.
No entanto, e muito francamente, aquilo que mais me impressionou foi aquele conjunto de informação que um documentário competente transmite para os seus espectadores - função aqui bem cumprida - ao perspectivar não só as parcerias público-privadas que lançam os sem-abrigo para pensões de pouca confiança e que são claramente locais que vivem de um indigno "mercado" - aquele das pessoas em necessidade - cobrando-lhes alugueres impensáveis para quem já tem muito pouco... ou nada. Por outro lado, e talvez aquele que a nível pessoal detectei como sendo mais chocante foi saber pelas palavras daqueles que já estiveram nesta problemática situação, que aqueles que como eu e tantos outros já contribuíram para essas mesmas associações de dita solidariedade - excepções de qualidade serão feitas obviamente - com roupa ou outros bens os deram pensando serem utilizados por aqueles que deles necessitam e que, na prática, apenas foram utilizados para um igualmente exploratório mercado nunca tendo chegado às mãos de quem precisava.
2 Metros Quadrados cumpre aquele propósito que acho faltar por tantas vezes a um documentário, ou seja, o seu lado humano. Aqueles elementos que transformam um história real dando-lhe o seu devido e merecido rosto ultrapassando os factos e os gráficos talvez mais fáceis de mostrar mas menos reais na sua componente social e humana - afinal, é de pessoas que falamos.
E finalmente fez-me também pensar no lado institucional - afinal, também ele importante - e de um Estado - seja ele qual fôr - que pactua e fomenta um sistema que lança voluntariamente os seus cidadãos para a rua, para condições desumanas e para os perigos de uma sociedade moderna que espreitam em todas as vielas. Estado esse que tem na sua lei fundamental - a Constituição que tantos temem - a defesa do seu valor máximo: a vida Humana.
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"Daniel Horta Nova: Com tristeza descobri que estar longe de tudo é estar aqui na rua."
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