O Rebocador de Jorge Cramez é uma curta-metragem portuguesa de ficção presente na Competição Nacional de Curtas-Metragens do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente a decorrer em Lisboa até ao próximo dia 3 de Maio.
Um rebocador (Adriano Luz em mais uma grande interpretação) recolhe os restos de um veículo acidentado. No lugar do pendura segue o sobrevivente (Jaime Freitas) que num estado quase catatónico o escuta. Num monólogo que percorre a noite de ambos, rebocador e acidentado estabelecem uma estranha e improvável relação pela força das circunstâncias.
Arnaldo Lopes Marques e Edmundo Cordeiro escrevem o argumento desta curta-metragem que inicialmente nos leva para a imediata circunstância pós-acidente mas que lenta e suavemente leva o espectador a uma viagem à vida solitária de um homem que de noite - a grande personagem deste filme curto - percorre os momentos mais negros da vida dos demais.
A solidão que sente - escondida pelas sombras de uma noite sempre densa-, é proporcionalmente inversa às vidas daqueles que socorre. Se para ele a noite representa o expoente máximo da sua solidão onde normalmente percorre as noites no mais profundo silêncio, outros têm na noite a representação da ostentação e da posse máxima... é nela que se afirmam e glorificam ao ponto de esquecerem a sua própria segurança. No entanto, o "Rebocador" também entende que são - todos eles - solitários. Vivem numa experiência de aparência que se esfuma aquando da sua primeira dificuldade chamando sempre por uma "mãe" ausente que não chega e na qual revêem todo o seu conforto e segurança - então - desaparecidos.
Por seu lado o "Sinistrado" apenas fisicamente presente, re-avalia num estado catatónico a sua existência ou o facto de ter escapado a um acidente improvável. Pensa o espectador que nunca consegue decifrar o seu estado para lá de uma aparente alucinação que o faz testemunhar um ocasional acto bizarro e sem explicação.
Adriano Luz que dispensa qualquer tipo de apresentação, não dispensa - no entanto - os rasgados elogios a uma forte e intensa interpretação como este homem marcado pelo seu próprio anonimato. Sem nome para além da profissão que o designa, o seu "Rebocador" é um homem que cruza a vida de tantas e tantas pessoas sem que, no entanto, consiga deixar nelas qualquer tipo de marca. Um homem que apenas interage socialmente nas bancas nocturnas de bifanas onde se alimenta para passar ao dia seguinte ou, por sua vez, com aqueles poucos que socorre dos seus trágicos destinos. Ainda que esta curta-metragem esteja ainda por fazer o seu devido percurso "académico", Luz tem seguramente uma das mais fortes interpretações do ano.
Adriano Luz que dispensa qualquer tipo de apresentação, não dispensa - no entanto - os rasgados elogios a uma forte e intensa interpretação como este homem marcado pelo seu próprio anonimato. Sem nome para além da profissão que o designa, o seu "Rebocador" é um homem que cruza a vida de tantas e tantas pessoas sem que, no entanto, consiga deixar nelas qualquer tipo de marca. Um homem que apenas interage socialmente nas bancas nocturnas de bifanas onde se alimenta para passar ao dia seguinte ou, por sua vez, com aqueles poucos que socorre dos seus trágicos destinos. Ainda que esta curta-metragem esteja ainda por fazer o seu devido percurso "académico", Luz tem seguramente uma das mais fortes interpretações do ano.
Num registo que prima pela reflexão sobre a existência - ou as suas diversas formas - e sobre a solidão que as invade, tão presente nas mais diversas formas, O Rebocador acaba por se transformar num triste - pela sua premissa - conto confessionário onde se tentam expiar os fantasmas de uma vida marcada pelo desvanecer do Homem sem ninguém que testemunhe a sua existência ou a sua passagem. Entre mortos e vivos solitários quem regista de facto que por cá todos andámos?
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8 / 10
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