The Host - A Criatura de Bong Joon-ho é uma longa-metragem sul-coreana que insere o espectador na vivência diária de uma família relativamente disfuncional cujo patriarca é dono de uma pequena banca de refeições junto ao Rio Han. Com ele vivem dois filhos, uma filha e uma neta. Incertos quanto à sua vida e lugar no mundo, a família vê-se atormentada com o surgimento de um violento monstro que dizima toda a comunidade estival que por ali se encontra espalhando o terror e a morte.
Quando Hyun-seo - a neta - desaparece levada por este enigmático monstro, a família dedica todas as suas últimas energias em busca dele por entre a interminável e labiríntica rede de esgotos... Mas esta busca por Hyun-seo não só será uma forma de unificar a família como revelará também que a jovem está determinada em sair do cativeiro para onde foi levada.
Os argumentos das obras cinematográficas de Bon Joon-ho são já conhecidos por conterem nas suas entrelinhas toda uma intensa mensagem social, e por vezes até ambiental, que ganha forma através de pequenos grandes eventos pós cataclismo ou de pressão que modificam radicalmente a vida dos seus protagonistas. Aqui, o realizador e argumentista - em parceria com Ha Won-jun e Baek Chul-hyun -, transforma toda uma península coreana num espaço ameaçado pela presença de um estranho e deformado invasor - fruto dos resíduos das experiências médico-militares norte-americanas na área - que transformam um potencial inocente molusco num sedento devorador de carne humana. Como acabam por não existir inocentes e tudo se transforma no resultado da violação da integridade do meio ambiental e ecológico, eis que o elemento mais fraco se transforma no predador de serviço que tenta, à sua própria maneira, estabelecer o equilíbrio entre espécies ao eliminar o grande abusador do planeta... o Homem.
Mas se esta componente mais ambiental é o motor principal desta longa-metragem, o facto é que por detrás do mesmo podemos encontrar todo um conjunto de elementos que demonstram que este é apenas o último de uma série de acontecimentos, não explorados, mas que se encontram no topo da pirâmide de todas as transformações... da eliminação ilegal de detritos médicos por parte dos militares que deles se usam para as suas experiências e "controlos de qualidade" à histeria e paranóia provenientes do medo pelo desconhecido - afinal que espaço melhor que este para viver o constante medo de um potencial invasor que altere todo um modo de vida -, sem esquecer a necessidade então provocada de eliminar dos potenciais "contaminados" que podem colocar em risco toda uma vida que pensam os demais... poder voltar a ser normal.
Se a mensagem social, ambiental, política e até mesmo humanitária estão presentes nessas já referidas entrelinhas, Gwoemul não deixa de ser, no entanto, aquele esperado filme de terror que lança o espectador numa constante incerteza sobre o que pode espreitar nas sombras ao virar da esquina. Mas, depois de presenciarmos a acção devastadora de um monstro desconhecido e do qual se é incapaz de compreender a sua acção, aquilo que o espectador encontra nesta história é que os humanos - aqueles que se encontram livres de qualquer infecção - são igualmente perigosos pela vontade de se livrarem dos elementos que consideram nocivos ao mesmo tempo que outros - os que estão por detrás de todas as mais ou menos involuntárias modificações genéticas - desejam por tudo poder controlar os resultados e efeitos das experiências das quais têm o seu "dedo" envolvido.
O terror - esse - é toda uma outra história. A dinamização do espaço enquanto o tal percurso labiríntico por onde se perdem vítimas e monstro é um dos elementos mais promissores desta história levando o espectador a realmente acreditar que se encontra naquele espaço perdido dentro de toda uma imensa cidade e que toda a podridão está ali concentrada. Nada nesta cidade parece incólume... e os espaços outrora perdidos e esquecidos da mesma agora recuperados por este monstro são, na realidade, tão negros quanto alguma vez alguém ousara pensar. E, na prática, o espectador fica por aqui quanto ao que de mais positivo tem esta história.
Vencedor de diversos troféus nos mais diversos festivais de cinema fantástico - Portugal incluído - este Gwoemul priva-se logo desde o primeiro instante, de alguma credibilização na dinâmica familiar que parece forçada e condenada ao exagero. Que as famílias nem sempre são harmoniosas já todos sabemos mas... tão exageradamente ridicularizadas num ambiente de terror... é mau demais para ser realidade. Assim, e se esta dinâmica não convence o espectador, é a sua improvável união em tempos de crise e de perda que parece cada vez mais provocada e pouco honesta - para o espectador -, fazendo perceber que na realidade querem reunir-se tal como deveriam ser mas que essa mesma união será improvável pela força dos acontecimentos ou mesmo pela iminente perda a que estão condenados... só ainda não sabemos quando... e de quem. Que todas as famílias têm - ou devem ter - uma segunda oportunidade já sabemos... resta compreender se essa se manifestará da forma que inicialmente esperamos.
Pouco assustador... com pouco terror... algum drama... alguma mensagem sócio-política-ambiental mas muito exagero à mistura, este Gwoemul está longe de ser a obra maior de Bong Joon-ho apesar de contribuir para a criação de toda uma atmosfera e "assinatura" reconhecível pelo espectador mas assíduo do seu percurso enquanto criador de histórias que estão muito para além - ou talvez não - da sua imaginação.
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