Cidade da Vida e Morte de Chuan Lu é de longe um dos grandes filmes de guerra dos últimos anos. Este filme chinês, totalmente centrado em acontecimentos reais dos dias do cerco japonês a Nanjing em 1937 e da sua consequente queda e ocupação retrata os acontecimentos e as vidas daqueles que de uma ou de outra forma estiveram presentes em tão duros dias.
Este brilhante, bruto e emocionante filme centra as suas atenções num grupo determinante de figuras. Por um lado temos dois militares das forças japonesas ocupantes... Kadokawa (Hideo Nakaizumi) que aparenta ser um homem com sonhos simples que se vê envolvido num conflito que irá para sempre modificar a sua forma de ver o mundo. Primeiro porque conhece na China ocupada a mulher que espera poder vir a ser a sua mulher. A primeira mulher que conheceu e com quem se iniciou e que mais tarde através de uma das mais brutas e desumanas consequências da guerra, irá perder. A seu lado temos quase sempre Ida (Ryu Kohata), militar em ascenção que tudo faz para tranquilamente demonstrar o seu poder sobre as vítimas de tão desumana guerra.
Mas nem só dos agressores é feito este filme. Ele é também feito com as histórias daqueles que resistiram da melhor forma que puderam. Miss Jiang (numa estrondosa interpretação da actriz Yuanyuan Gao), a mulher que junto a John Rabe (o representante alemão na cidade) conseguiu salvar muitos homens da morte e tomar algumas das decisões que iriam pôr a sua vida num risco constante.
E finalmente a seu lado temos Tang (Wei Fan), o auxiliar de Rabe que na tentativa de sobreviver ao conflito tem uma das maiores provações de toda a sua vida que iria ter um fim às mãos de Ida, não sem antes fazer saber que a sua vida estaria perpetuada no ventre da sua mulher.
Todas estas pessoas existiram na realidade. O seu fim, quase sempre trágico e para muitos desconhecido, não foi mais do que uma pequena parcela daquilo que acontecera àquela cidade chinesa num dos mais negros períodos da História.
De todas as interpretações deste filme destaco sem qualquer reserva a de Yuanyuan Gao e a de Hideo Nakaizumi. A primeira dá-nos uma forte interpretação enquanto uma mulher resistente que tudo faz para poder salvar algumas vidas de um conflito bárbaro e sem limites. Aos homens tenta salvar de uma morte certa às mãos do agressor enquanto que às mulheres tenta salvá-las de dias de tortura e violação às mãos dos soldados japoneses que apenas as procuravam para suas escravas sexuais. Na mente de Jiang (Gao) a única coisa que estava presente era uma forma de as salvar... e penoso foi o momento em que teve de pedir o sacrifício de cem mulheres para que os soldados não arrasassem o que restava da cidade. Mais ainda quando percebemos quantas dessas cem conseguiram regressar salvas... mas não sãs.
Finalmente temos Hideo Nakaizumi que interpreta o soldado que cheio de sonhos e esperanças para o seu próprio futuro, deixa o seu espírito morrer com tanta barbárie a que assistiu naqueles tão difíceis dias. O seu Kadokawa é o perfeito exemplo de homem que tinha sonhos... que esperava encontrar uma mulher e que não imaginava poder-se deixar abater por tudo aquilo que o rodeava... a morte. A cada passo que dava perdia tudo. A mulher de quem gostava, a sua inocência, os seus sonhos e até a sua própria vida que deixou de lhe fazer sentido quando nada à sua volta fazia.
Mas também a excelência técnica faz este filme. A tocante e emocionante banda-sonora da autoria de Tong Liu consegue ser um dos motores guias de toda a narrativa que nos momentos certos consegue elevar a emotividade do filme a um nível muito superior. O mesmo se poderá dizer da fotografia a preto e branco de Yu Cao que, à semelhança do que acontece com A Lista de Schindler, nos faz central toda a nossa atenção nos acontecimentos narrados sem que nos possamos distrair com aspectos secundários. Toda a nossa atenção está sempre focalizada naquilo que interessa. Na rudeza das imagens. Na dor das expressões. No vazio provocado pelo medo e principalmente na falta de esperança que os olhares nos transmitem.
A genialidade deste filme é o facto de se distanciar de um típico filme de guerra onde as batalhas, as explosões e a morte anónima pulverizam os nossos ecrãs. Aqui tudo isto existe... sim, também tudo isto existe, no entanto com o intuito de justificar o cenário em que "nos" encontramos. Aquilo que este filme consegue fazer e de uma forma brilhante, é pegar em alguns dos intervenientes deste brutal conflito e mostrar-nos a guerra através dos seus próprios olhos desolados e sem esperança.
Há de facto muitos e bons filmes de guerra cheios de efeitos especiais que aumentam o potencial interesse dos espectadores... aqui, aquilo que nos faz ter interesse por este filme, além da sua história claro está, é a possibilidade de vermos a guerra através dos olhos de pessoas que, tal como qualquer um de nós, era anónimo... até um dia.
Simplesmente um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos que pode "perder" um pouco de protagonismo por não ser o típico filme de guerra americano... mas para aqueles que arrisquem vê-lo certamente irão ficar satisfeitos e também muito pensativos.
.Este brilhante, bruto e emocionante filme centra as suas atenções num grupo determinante de figuras. Por um lado temos dois militares das forças japonesas ocupantes... Kadokawa (Hideo Nakaizumi) que aparenta ser um homem com sonhos simples que se vê envolvido num conflito que irá para sempre modificar a sua forma de ver o mundo. Primeiro porque conhece na China ocupada a mulher que espera poder vir a ser a sua mulher. A primeira mulher que conheceu e com quem se iniciou e que mais tarde através de uma das mais brutas e desumanas consequências da guerra, irá perder. A seu lado temos quase sempre Ida (Ryu Kohata), militar em ascenção que tudo faz para tranquilamente demonstrar o seu poder sobre as vítimas de tão desumana guerra.
Mas nem só dos agressores é feito este filme. Ele é também feito com as histórias daqueles que resistiram da melhor forma que puderam. Miss Jiang (numa estrondosa interpretação da actriz Yuanyuan Gao), a mulher que junto a John Rabe (o representante alemão na cidade) conseguiu salvar muitos homens da morte e tomar algumas das decisões que iriam pôr a sua vida num risco constante.
E finalmente a seu lado temos Tang (Wei Fan), o auxiliar de Rabe que na tentativa de sobreviver ao conflito tem uma das maiores provações de toda a sua vida que iria ter um fim às mãos de Ida, não sem antes fazer saber que a sua vida estaria perpetuada no ventre da sua mulher.
Todas estas pessoas existiram na realidade. O seu fim, quase sempre trágico e para muitos desconhecido, não foi mais do que uma pequena parcela daquilo que acontecera àquela cidade chinesa num dos mais negros períodos da História.
De todas as interpretações deste filme destaco sem qualquer reserva a de Yuanyuan Gao e a de Hideo Nakaizumi. A primeira dá-nos uma forte interpretação enquanto uma mulher resistente que tudo faz para poder salvar algumas vidas de um conflito bárbaro e sem limites. Aos homens tenta salvar de uma morte certa às mãos do agressor enquanto que às mulheres tenta salvá-las de dias de tortura e violação às mãos dos soldados japoneses que apenas as procuravam para suas escravas sexuais. Na mente de Jiang (Gao) a única coisa que estava presente era uma forma de as salvar... e penoso foi o momento em que teve de pedir o sacrifício de cem mulheres para que os soldados não arrasassem o que restava da cidade. Mais ainda quando percebemos quantas dessas cem conseguiram regressar salvas... mas não sãs.
Finalmente temos Hideo Nakaizumi que interpreta o soldado que cheio de sonhos e esperanças para o seu próprio futuro, deixa o seu espírito morrer com tanta barbárie a que assistiu naqueles tão difíceis dias. O seu Kadokawa é o perfeito exemplo de homem que tinha sonhos... que esperava encontrar uma mulher e que não imaginava poder-se deixar abater por tudo aquilo que o rodeava... a morte. A cada passo que dava perdia tudo. A mulher de quem gostava, a sua inocência, os seus sonhos e até a sua própria vida que deixou de lhe fazer sentido quando nada à sua volta fazia.
Mas também a excelência técnica faz este filme. A tocante e emocionante banda-sonora da autoria de Tong Liu consegue ser um dos motores guias de toda a narrativa que nos momentos certos consegue elevar a emotividade do filme a um nível muito superior. O mesmo se poderá dizer da fotografia a preto e branco de Yu Cao que, à semelhança do que acontece com A Lista de Schindler, nos faz central toda a nossa atenção nos acontecimentos narrados sem que nos possamos distrair com aspectos secundários. Toda a nossa atenção está sempre focalizada naquilo que interessa. Na rudeza das imagens. Na dor das expressões. No vazio provocado pelo medo e principalmente na falta de esperança que os olhares nos transmitem.
A genialidade deste filme é o facto de se distanciar de um típico filme de guerra onde as batalhas, as explosões e a morte anónima pulverizam os nossos ecrãs. Aqui tudo isto existe... sim, também tudo isto existe, no entanto com o intuito de justificar o cenário em que "nos" encontramos. Aquilo que este filme consegue fazer e de uma forma brilhante, é pegar em alguns dos intervenientes deste brutal conflito e mostrar-nos a guerra através dos seus próprios olhos desolados e sem esperança.
Há de facto muitos e bons filmes de guerra cheios de efeitos especiais que aumentam o potencial interesse dos espectadores... aqui, aquilo que nos faz ter interesse por este filme, além da sua história claro está, é a possibilidade de vermos a guerra através dos olhos de pessoas que, tal como qualquer um de nós, era anónimo... até um dia.
Simplesmente um dos melhores filmes de guerra dos últimos anos que pode "perder" um pouco de protagonismo por não ser o típico filme de guerra americano... mas para aqueles que arrisquem vê-lo certamente irão ficar satisfeitos e também muito pensativos.
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"Kodokawa: To live is harder than to die."
.10 / 10
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