sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Black Swan (2010)

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Cisne Negro de Darren Aronofsky foi, de longe, um dos melhores e mais ousados filmes que este ano cinematográfico viu estrear e que contou com um elenco de topo onde se destacam Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Barbara Hershey e Winona Ryder.
Nina (Portman) é uma bailarina obcecada em se tornar perfeita... Perfeita na execução de todos os movimentos e passos que dá nos seus ensaios que têm como objectivo torná-la na nova estrela da companhia e do bailado o Lado dos Cisnes.
No entanto nem tudo corre bem a Nina que executa realmente a perfeição do Cisne Branco mas é incapaz de ser ousada, arrojada e sensual na sua interpretação do Cisne Negro afastando assim os olhares do seu director que tudo tenta, inclusivé a sedução, para a levar aos seus próprios limites e assim obter a escolha perfeita para encarnar tão distinta personagem.
Este filme está longe se ser sobre bailado ou dança. Muito longe. Toda a história deste filme é centrada em sentimentos e formas de vida bem fortes e levadas ao extremo... a obsessão pela busca da perfeição e atingir o inatingível é o que domina toda esta história centrada quase na totalidade em Nina.
A dar corpo, e sejamos francos muita alma, a esta personagem temos uma sempre brilhante Natalie Portman, que aqui venceu tudo o que era prémio desde o Oscar ao BAFTA, o SAG e o Globo de Ouro Drama entre inúmeros outros atribuídos pelas várias críticas nacionais norte-americanas, e que foi sua dona e senhora personificando, também ela na perfeição, um conjunto de emoções todas elas levadas ao extremo. Acompanhamo-la enquanto luta como uma bailarina, entre muitas, que ambiciona chegar um pouco mais longe e ver todo o seu esforço e trabalho recompensados. Aquilo que nós só vamos percebendo aos poucos é que este trabalho não vem sózinho. Atrás dele vem um conjunto de situações assumidas como indispensáveis para poder chegar ao tão ambicionado objectivo... Anorexia, bulímia, demência, alucinações e fanatismo são as consequências de um trabalho não feito por paixão mas sim por um qualquer sentido de dever também ele assumido como sendo o ideal. Por si e pela sua mãe, num desempenho intenso de Barbara Hershey, que abdicou de uma carreira para poder ser mãe e transferiu para Nina os sonhos da sua juventude.
A demência, intimamente ligada às alucinações que só mais tarde percebemos quais serem e em que momento se manifestaram, determinariam o destino de Nina naquele que considero ser um dos desfechos mais originais e inesperados que vi neste último ano num filme. Não quero revelar nada pois considero que este filme é bom demais para apenas ser "avaliado" por um comentário, mas ainda assim não sou capaz de referir que os últimos dez minutos do filme são fortes e impressionantes demais para não fazerem valer todo um filme que, de si, já é uma das mais originais obras não só deste como, arrisco dizer, dos últimos anos.
A compôr o restante elenco do filme temos um Vincent Cassel que está rapidamente a tornar-se no actor fetiche para encarnar personagens que levam os demais ao limite. Assim o temos aqui como o sedutor e algo maléfico director da companhia como também em Um Método Perigoso onde curiosamente, ou talvez não, interpreta também aqui o "motor" do desejo das personagens principais.
E finalmente há que referir Lily, num igualmente muito bom desempenho de Mila Kunis, que se torna através da sua sensualidade inata, o objecto de um desejo sexual reprimido de Nina. Kunis era, até à data, uma actriz praticamente desconhecida para mim, mas o que é certo é que com esta interpretação ganhou um enorme protagonismo para outras tantas produções tornando-a na actriz sensação do momento para este estilo muito tipificado de interpretações.
Finalmente há que referir neste filme o renascer de uma "velha" estrela de Hollywood de seu nome Winona Ryder. Já há muito desaparecida de um protagonismo que alcançou no final da década de 80 e durante todos os anos 90, Ryder regressa aqui como, e passo a redundância, a "velha" estrela da companhia que não aceita a substituíção pela nova estrela em ascenção e que, também ela, a encara com um repulsa tão obsessiva como aquela que Nina sente em busca da perfeição absoluta.
Se todo o filme está bom, e disso não me restam quaisquer dúvidas, graças a um argumento original e exemplar da autoria de Andres Heinz, Mark Heyman e John J. McLaughlin, não deixa de ser igualmente verdade que toda a filmagem e direcção de actores se deve a um olhar muito particular de um enorme realizador como é o caso de Darren Aronofsky. Este realizador, que esteve muito em voga a dois anos atrás com o seu The Wrestler, já me havia impressionado há uns anos largos com o seu Requiem for a Dream. Aí sim, Aronofsky retirava das suas personagens o máximo da loucura e da decadência, só comparáveis novamente com este Cisne Negro. Se por um lado sentimos uma certa repulsa por estas personagens que vivem claramente num qualquer limite entre a sanidade e a loucura, ao mesmo tempo também não deixa de ser verdade que sentimos por elas uma certa empatia. É um sentimento estranho e francamente fora do normal, mas não será verdade que sentimos que gostaríamos de ter uma qualquer paixão por uma profissão ou arte que nos fizesse querer dar o máximo por ela?!
Como disse mais atrás, se todo o filme está excelente, os últimos dez minutos são no mínimo transcendentes. Realmente existiu perfeição. Ela sente-se e respira-se e toda a execução de Portman é... perfeita. A sua transformação, tida quase como impossível, no tão desejado Cisne Negro é física e psicológica. Todos os movimentos e a pose de Portman são realmente a encarnação do Cisne que, para a sua Nina, são até ao nível físico, dando assim a imagem da sua própria demência, imagem que é brutalmente acentuada com a exuberante caracterização da autoria de Geordie Sheffer e Marjorie Durand.
Finalmente, e igualmente perfeita (palavra perigosa considerando a história deste filme) é a banda-sonora da autoria de Clint Mansell que transforma o mais inocente momento de Portman num conjunto de sensações e situações eróticas muito acentuadas que trabalham no seu conjunto para aquele tão trágico, mas brilhante, final.
Filmes existem em que por muito bons que sejam conseguimos encontrar-lhes momentos menos conseguidos ou mais frágeis... Aqui não... Aronofsky conseguiu criar o filme perfeito do ano. Simplesmente imperdível.
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"Nina: I just want to be perfect."
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10 / 10
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