sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

The Beaver (2011)

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O Castor de Jodie Foster foi o filme que quase vinte anos idos volta a juntar no ecrã a realizadora e actriz com Mel Gibson.
Tudo começa com uma breve descrição de Walter Black (Gibson) que no seio de uma família praticamente destruída devido à sua constante depressão "adopta" um pequeno Castor marioneta para agir como um interveniente distante para justificar o seu comportamento... uma consciência não assumida do seu estado e da sua personalidade.
Meredith (Foster) que inicialmente relutante acaba por aceitar a ideia percebe, a seu tempo, que a sua vida não poderá continuar desta forma, ao contrário de Porter (Anton Yelchin), o filho mais velho de ambos, que tudo tenta e faz para não ser parecido em aspecto algum com o seu pai ao mesmo tempo que vive o seu drama pessoal na escola que frequenta.
Por onde irei então começar... Pelos dois aspectos centrais deste filme. O primeiro que se prende com a situação psicológica de Walter... a sua depressão. Uma boa parte inicial é o tema dominante. Como ela afecta a sua própria vida, a da sua família e a sua profissão. Como ele sente a necessidade de ter "alguém" que represente a voz da sua consciência como forma de lidar com o mundo e não se sentir, como ele diz e bem, a "afundar" a cada tentativa que faz.
O segundo, e igualmente importante aspecto diz respeito às várias dinâmicas existentes entre os elementos desta família que de certa forma parece tão disfuncional mas que, ao mesmo tempo, parece ir funcionando com os distúrbios sentidos por Walter. Não funciona de uma forma dita "normal", bem pelo contrário. Mas acaba por ser graças a si que esta família vai estando estranhamente ligada. Se num certo ponto das suas vidas Meredith decide abandoná-lo para bem da sua própria estabilidade emocional, não deixa de ser igualmente certo que é graças ao resultado que a depressão de Walter provoca que os aproxima, novamente, enquanto uma família. Esta é, sempre foi e sempre assumiu, sem dúvida a palavra chave de todo o filme.
Importante será também referir as brilhantes e finamente executadas interpretações de um conjunto irrepreensível conjunto de actores a começar de imediato por Mel Gibson que, arrisco dizer, ter aqui um dos mais fortes desempenhos da sua já longa carreira. Todos poderemos recordar este actor como Mad Max, a personagem que o imortalizou, ou mesmo como William Wallace desse estrondoso Braveheart mas esta sua mais recente interpretação será, seguramente, uma daquelas que ficará para sempre na memória de todos.
Jodie Foster, que aqui assume o papel de mãe de família, tem uma intepretação importante mas secundária. Afinal o filme é para Mel Gibson brilhar, mas ainda assim consegue demonstrar que ainda está "para as curvas" nos seus desempenhos dramáticos. Foster está mais centrada, e isso é evidente, na sua simples e emocionante realização onde dá provas de ter ainda muito (esperemos) por mostrar.
Destaque dou sim aos extraordinários actores mais jovens deste filme... Anton Yelchin, como o filho mais velho de "Walter", tem uma daquelas interpretações das quais há muito esperava. Este actor já tinha dado provas do seu enorme potencial... apenas esperava aquele filme onde pudesse dar largas ao seu talento e demonstrar aquilo de que era realmente capaz. Este foi o caso e tivesse o filme tido mais publicidade em época de entrega de prémios não me espantaria que a sua interpretação fosse recompensada com uma nomeação ao Oscar na categoria de actor secundário. Esta é sim uma das mais fortes interpretações de todo o filme.
Igualmente de destacar é a presença de Jennifer Lawrence, como "Norah", a colega por quem "Porter" se apaixona, uma jovem perturbada com a recente e não divulgada morte do seu irmão, que aqui prova (juntamente com o seu Despojos de Inverno) ser uma actriz de quem ainda ouviremos falar muito no futuro.
Quem até aqui leu este comentário deve pensar que eu adorei logo à partida este filme. Não podem estar mais enganados. Inicialmente custou-me ver este filme, e em vários momentos pensei que não iria levar um bom rumo. É um filme que se entrenha e que aos poucos nos vai conquistando. Não de uma forma fácil, bem pelo contrário, vai conquistando a nossa simpatia e o nosso agrado aos poucos... com pequenos actos dos actores ou diálogos que proferem que de uma estranha forma são de fácil identificação pessoal com os espectadores.
No entanto, e lembro-me de ter visto num outro filme chamado Adaptation (Inadaptado cá em Portugal), no qual existia um diálogo entre argumentistas onde um deles diz algo deste género... "por vezes certos filmes parecem entrelaçados no seu enredo de uma forma que não o salva (...) mas uns bons quinze finais minutos conseguem fazer valer todo o filme". Nada poderia ser mais verdade a respeito deste filme. Se ele aos poucos se vai entranhando no espectador, aqueles que são mais resistentes não conseguirão escapar àqueles quinze minutos finais que fazem valer toda a história que assistimos anteriormente. Não deixando de ser um clcihé, encontramos a redenção para com este filme graças aos seus momentos finais. Aqui sim, o filme conquistou-me definitivamente.
Brilhantemente filmado e interpretado assume-se como um filme muito pessoal e intimista revelando também que Jodie Foster pode e consegue ser uma excelente realizadora (já o sabíamos em todo o caso), e que esta história, aparentemente tão estranha, funciona de uma forma muito eficaz e com a qual qualquer um de nós se conseguirá identificar a uma dada altura. Irrepreensível e altamente aconselhado.
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"Walter Black: We reach a point where, in order to go on, we have to wipe the slate clean. We start to see ourselves as a box that we're trapped inside and no matter how we try and escape, self help, therapy, drugs, we just sink further and further down."
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8 / 10
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