Magic Mike de Steven Soderbergh tornou-se num filme amado e odiado antes sequer de estrear. Amado por uns por ser o filme em que o seu actor principal iria mostrar mais do que os seus dotes representativos, e odiado por outros por esse motivo mas também por ser realizado pelo homem que entregou Traffic e Erin Brokovich que era o mesmo que dizer... estava a descer os padrões de qualidade.
Se por um lado uns se enganaram será justo dizer que os outros também. Nem Soderbergh está a baixar os padrões de qualidade do seu cinema, simplesmente aqui mudou um pouco o registo, também é justo dizer que se esperam ir ver algo mais "gratuito" estão bem enganados.
Mike (Channing Tatum) de dia trabalha na construção e à noite é stripper num bar onde causa sensação entre as inúmeras mulheres que vão assistir ao seu espectáculo. No seu trabalho diurno conhece o desajustado Adam (Alex Pettyfer) que tenta sobreviver à custa de trabalhos ocasionais que encontra mas não tendo, para nenhum deles, a devida vocação.
A vida de Adam dá uma inexplicável reviravolta quando Mike o torna no seu protegido e o lança no seu primeiro espectáculo de striptease que, apesar da sua falta de jeito, lhe dá o sucesso e o dinheiro que ele tanto procura.
Longe de ser um filme gratuito e sem jeito este Magic Mike, à semelhança do que acontece com os já referidos títulos assinados por Soderbergh, é acima de tudo um conto sobre a vida de algumas pessoas inadaptadas e desajustadas que encontram num estilo de vida alternativo, não incorrecto mas sim diferente daquele a que estavam habituados a ter, o seu próprio estilo de vida.
A questão principal que aqui se coloca é como (sobre)viver num mundo onde as portas se vão fechando sucessivamente às nossas próprias vontades e ambições? Resignar e aceitar o mundo tal como ele é ou libertarmo-nos dos nossos estigmas e pontos proibídos e abraçar as oportunidades que nos aparecem à porta?
E esta sobrevivência não se baseia apenas na de Adam. É principalmente através de Mike que assistimos a essa luta por se afirmar. Se inicialmente temos um Mike disposto a fazer do striptease a sua forma de vida, não deixa igualmente de ser verdade que apenas o fez como forma de um dia poder ter o seu próprio negócio de construção. E esta luta pela sua própria sobrevivência não fica por aqui. Mais tarde com Adam, tenta igualmente manter-se vivo ao escolhê-lo como seu "discípulo" e dar assim continuidade ao negócio que o popularizou.
A dar vida a "Mike" temos um perfeito Channing Tatum que aqui não só deposita muita alma como dá literalmente o corpo ao manifesto. Todos nós já sabemos que o seu início de carreira foi igual à personagem que interpreta, e que o próprio filme teve a sua dose de autobiográfica, e como tal temos o actor a mostrar algo que é, de certa forma, um pouco de si. Sóbrio e competente, mesmo nos momentos mais ousados do filme, Tatum consegue não cair numa qualquer vulgaridade e mostrar que nas mãos do realizador certo é mais do que uma "cara bonita" que entretém o público feminino mais ou menos jovem. Não irá a Oscar como aconteceu com Julia Roberts em Erin Brokovich mas arrisco dizer que este é, apesar da sua temática, o filme de viragem na carreira do actor.
Destaque ainda para Alex Pettyfer que nesta sua interpretação de um jovem apagado pelas circunstâncias e rumo que a sua vida levou consegue mostrar o exacto oposto da personagem de Tatum. Enquanto um leva este estilo de vida para alcançar um objectivo que de outra forma lhe é negado, Pettyfer encarna a postura da pessoa que na falta desses mesmos objectivos se deixa deslumbrar pelo dinheiro e vida fácil que percebemos ser de curta duração.
De certa forma esta dupla de actores complementam-se e conseguem mostrar dois bem distintos lados do mesmo estilo de vida. Um usa-se dela.. o outro deixa-se por ela usar.
Seria no entanto impossível falar deste filme sem referir aquele que se torna central em cada cena em que participa... Matthew McConaughey. "Dallas", a sua personagem, tem tanto de delicioso como de malicioso. Se por um lado é o eterno bem disposto dono do bar que abraça aqueles homens como se fossem da sua família por outro, nos momentos mais (in)oportunos bem lhes lembra que eles não são mais do que seus meros funcionários e fonte de rendimentos. Tem de cómico e divertido tanto como de obscuro e matreiro, esta poderá ser a interpretação que lhe valerá uma nomeação a um Oscar.
E temos assim este Magic Mike que, à semelhança das outras obras do realizador, se centra na viagem de descoberta pessoal das suas personagens que tentam desesperadamente encontrar o seu lugar no mundo, o seu espaço, os seus seres queridos e sobretudo uma validação dos seus actos. Validação essa que nunca chegará pela aprovação dos outros mas sim pela auto-aprovação que se encontra escondida e oculta por entre os acções que se realizam para sobreviver. Pelo caminho, temos uma viagem que atravessa dificuldades, amizade, droga, sexo, roubo, atritos e uma grande consciencialização que também a idade passa por aqueles que muito rapidamente a esquecem.
Longe de ser um filme profundo onde as reflexões sobre a vida assumem um lugar decisivo, é no entanto um filme onde a consciencialização da própria vida bate com muita força, e muito depressa, à porta daqueles que se lembram de se esquecer dela.
Acima de tudo é divertido e bem disposto e termina tal e qual como esperamos que termine. Sem surpresas mas com um caminho difícil até lá chegar. Soderbergh não desilude pelo filme que fez, antes pelo contrário, consegue mantê-lo alguns patamares acima do seu congénere Showgirls tocando nos mesmos temas sem roçar brutalmente a vulgaridade, e mantendo toda a viagem de ascenção, queda e normalização de uma vida num ritmo que, apesar das circunstâncias, pode ser familiar a qualquer um de nós.
E quanto àqueles que pensam ir ver neste filme nada mais do que um conjunto de danças mais ou menos eróticas com muita carne à mistura... hey... isto não é porno...
.A vida de Adam dá uma inexplicável reviravolta quando Mike o torna no seu protegido e o lança no seu primeiro espectáculo de striptease que, apesar da sua falta de jeito, lhe dá o sucesso e o dinheiro que ele tanto procura.
Longe de ser um filme gratuito e sem jeito este Magic Mike, à semelhança do que acontece com os já referidos títulos assinados por Soderbergh, é acima de tudo um conto sobre a vida de algumas pessoas inadaptadas e desajustadas que encontram num estilo de vida alternativo, não incorrecto mas sim diferente daquele a que estavam habituados a ter, o seu próprio estilo de vida.
A questão principal que aqui se coloca é como (sobre)viver num mundo onde as portas se vão fechando sucessivamente às nossas próprias vontades e ambições? Resignar e aceitar o mundo tal como ele é ou libertarmo-nos dos nossos estigmas e pontos proibídos e abraçar as oportunidades que nos aparecem à porta?
E esta sobrevivência não se baseia apenas na de Adam. É principalmente através de Mike que assistimos a essa luta por se afirmar. Se inicialmente temos um Mike disposto a fazer do striptease a sua forma de vida, não deixa igualmente de ser verdade que apenas o fez como forma de um dia poder ter o seu próprio negócio de construção. E esta luta pela sua própria sobrevivência não fica por aqui. Mais tarde com Adam, tenta igualmente manter-se vivo ao escolhê-lo como seu "discípulo" e dar assim continuidade ao negócio que o popularizou.
A dar vida a "Mike" temos um perfeito Channing Tatum que aqui não só deposita muita alma como dá literalmente o corpo ao manifesto. Todos nós já sabemos que o seu início de carreira foi igual à personagem que interpreta, e que o próprio filme teve a sua dose de autobiográfica, e como tal temos o actor a mostrar algo que é, de certa forma, um pouco de si. Sóbrio e competente, mesmo nos momentos mais ousados do filme, Tatum consegue não cair numa qualquer vulgaridade e mostrar que nas mãos do realizador certo é mais do que uma "cara bonita" que entretém o público feminino mais ou menos jovem. Não irá a Oscar como aconteceu com Julia Roberts em Erin Brokovich mas arrisco dizer que este é, apesar da sua temática, o filme de viragem na carreira do actor.
Destaque ainda para Alex Pettyfer que nesta sua interpretação de um jovem apagado pelas circunstâncias e rumo que a sua vida levou consegue mostrar o exacto oposto da personagem de Tatum. Enquanto um leva este estilo de vida para alcançar um objectivo que de outra forma lhe é negado, Pettyfer encarna a postura da pessoa que na falta desses mesmos objectivos se deixa deslumbrar pelo dinheiro e vida fácil que percebemos ser de curta duração.
De certa forma esta dupla de actores complementam-se e conseguem mostrar dois bem distintos lados do mesmo estilo de vida. Um usa-se dela.. o outro deixa-se por ela usar.
Seria no entanto impossível falar deste filme sem referir aquele que se torna central em cada cena em que participa... Matthew McConaughey. "Dallas", a sua personagem, tem tanto de delicioso como de malicioso. Se por um lado é o eterno bem disposto dono do bar que abraça aqueles homens como se fossem da sua família por outro, nos momentos mais (in)oportunos bem lhes lembra que eles não são mais do que seus meros funcionários e fonte de rendimentos. Tem de cómico e divertido tanto como de obscuro e matreiro, esta poderá ser a interpretação que lhe valerá uma nomeação a um Oscar.
E temos assim este Magic Mike que, à semelhança das outras obras do realizador, se centra na viagem de descoberta pessoal das suas personagens que tentam desesperadamente encontrar o seu lugar no mundo, o seu espaço, os seus seres queridos e sobretudo uma validação dos seus actos. Validação essa que nunca chegará pela aprovação dos outros mas sim pela auto-aprovação que se encontra escondida e oculta por entre os acções que se realizam para sobreviver. Pelo caminho, temos uma viagem que atravessa dificuldades, amizade, droga, sexo, roubo, atritos e uma grande consciencialização que também a idade passa por aqueles que muito rapidamente a esquecem.
Longe de ser um filme profundo onde as reflexões sobre a vida assumem um lugar decisivo, é no entanto um filme onde a consciencialização da própria vida bate com muita força, e muito depressa, à porta daqueles que se lembram de se esquecer dela.
Acima de tudo é divertido e bem disposto e termina tal e qual como esperamos que termine. Sem surpresas mas com um caminho difícil até lá chegar. Soderbergh não desilude pelo filme que fez, antes pelo contrário, consegue mantê-lo alguns patamares acima do seu congénere Showgirls tocando nos mesmos temas sem roçar brutalmente a vulgaridade, e mantendo toda a viagem de ascenção, queda e normalização de uma vida num ritmo que, apesar das circunstâncias, pode ser familiar a qualquer um de nós.
E quanto àqueles que pensam ir ver neste filme nada mais do que um conjunto de danças mais ou menos eróticas com muita carne à mistura... hey... isto não é porno...
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