A Viagem de Morvern Callar de Lynne Ramsay conta com a interpretação principal de uma grande e jovem actriz de seu nome Samantha Morton já por duas vezes nomeada ao Oscar.
Morvern Callar (Morton) é uma jovem inglesa que trabalha num supermercado. A sua aparente banal vida transforma-se totalmente quando o seu namorado se suicida deixando-lhe algum dinheiro para o funeral e o seu romance por publicar.
Depois de alguns dias de pensar calmamente no que iria fazer Morvern faz-se passar pela autora do romance e envia-o a uma editora seguindo depois com a sua melhor amiga para Ibiza com o dinheiro que seria para o funeral tendo, no entanto, dado um final ao corpo do seu namorado.
A viagem para Ibiza tem tudo menos de pacífica mostrando ser o momento de uma verdadeira e radical transformação não só na vida de Morvern como em relação a tudo e todos que a rodeiam.
Várias são as sensações e emoções pelas quais passa ao longo desta viagem. Quase funciona como um processo de transformação numa nova pessoa. Alguém que ela própria desconhecia que existia dentro de si. Com o suicídio do seu namorado, Morvern atravessa um curto mas muito intenso período de luto. Um luto em silêncio pois ninguém sabe do seu suicídio. Tudo é ocultado. Dos conhecidos, dos amigos, da editora que nunca chega a saber da sua existência.
As memórias de Morvern da relação que manteve, tanto com o seu namorado como com a sua melhor amiga transformam-se radicalmente quando descobre segredos que até então lhe estavam ocultados. Repensa na sua vida e no sentido, ou falta dele, que fez até então. É então na viagem que faz com a sua melhor amiga que Morvern se liberta de estigmas e preconceitos que até então a inibiam e dá início a uma viagem de auto-descoberta e conhecimento que vão modelar todo o seu futuro.
Samantha Morton é, em qualquer uma das suas interpretações uma verdadeira força da natureza. Ora calma e paciente ora um verdadeiro tornado de emoções, percebemos perfeitamente que todo o mundo se modifica quando o ecrã irradia a sua presença. O seu olhar, expressão, movimentos e simples diálogos demonstram uma tremenda força de vida e vontade por ir mais além do que aquela simplória, e não simples, vida lhe reservou até então. Acaba por se tornar não só uma viagem a Ibiza onde se vai divertir e esquecer o seu passado. Pelo contrário, esta viagem torna-se numa celebração de já ter passado. Uma celebração daquilo que deixou para trás e que não quer voltar a conhecer. Uma viagem de novas descobertas, de desejo, de auto-satisfação e concretização.
Na minha opinião, o problema maior que este filme apresentou prende-se exactamente com o facto de ser apenas e só a viagem de uma só pessoa onde tudo o resto, quer sejam outras personagens quer seja o próprio espaço que habita ou que vai visitar, serem quase pontos apagados no ecrã. Se ela lá não estivesse teriam eles significado alguma coisa para o restante filme? Não são eles também que ajudaram a moldar a sua personalidade num dado momento da sua vida logo, como poderão eles assumir um lugar tão pouco relevante no desenvolvimento deste filme?
Dito isto, poderá esta sua personagem, independentemente da brilhante interpretação de Morton, "sobreviver" se não tivermos em consideração tudo o resto? Consegue ela ser auto-suficiente?
É um filme interessante se analisarmos a viagem de auto-descoberta e afirmação no mundo que Morvern tem, mas na prática lá bem perto do final saímos com uma sensação de algum vazio e falta de concretização sobre aquilo que poderá ser o seu futuro. Resumidamente... aquece mas depois quando se "come"... está frio. Vale apenas pela interpretação e enorme talento de Samantha Morton.
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5 / 10
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