Som do Silêncio de Paulo Grade e João Lourenço é uma curta-metragem portuguesa de ficção que conta com Fernanda Serrano na interpretação principal.
Encontramo-nos numa sociedade onde aparentemente a ordem é apenas alcançada através de uma lei totalitária... a lei do silêncio. Todas as pessoas estão assim impedidas de falar e toda a comunicação verbal é apenas uma lembrança na memória dos mais velhos.
É quando Joana (Serrano), investigadora de um museu (o de Arte Antiga) descobre um pequeno grupo dentro do museu onde discutem as variadas obras de arte que vêem a falar sobre as mesmas, que percebemos que afinal existe uma pequena elite a quem são permitidas infracções à lei.
Existirá ordem onde a liberdade não sobrevive? Ou será o desejo de ouvir a sua própria voz mais forte do que o medo em desobedecer a uma lei que todos sabem ser punitiva?
Paulo Grade, que além de realizar esta curta-metragem escreve igualmente o seu argumento, entrega-nos uma história que ironicamente está bem mais actual do que aquilo que poderíamos à partida imaginar. A lei do silêncio aqui aprovada mais não é do que, ela própria, um irónico retrato dos dias que vivemos onde existe uma estranha vontade de silenciar a "voz interior" de cada um de nós. Este momento socialmente conturbado onde as vozes que se insurgem contra uma qualquer "ordem" que oprime a criatividade se tentam silenciar, são aqui representadas pela "lei do silêncio" aprovada e como único garante dessa estabilidade bem como pelas obras de arte misteriosamente avaliadas por uma qualquer ordem que as tenta decifrar. Numa análise mais profunda a lei aprovada (pelo governo), impede o comum cidadão de comunicar, impedindo-o de contrariar abertamente qualquer medida que lhe pareça incorrecta, e dando apenas a uma pequena elite, que pode ou não ter os próprios planos dúbios e pouco claros, a liberdade (ou uma miragem dela) de analisar as mensagens secretas que a arte (a voz de alguém) em tempos quis transmitir.
Mas o argumento de Grade vai mais longe quando nos relata, através das suas próprias pequenas mensagens enviadas ao espectador ao longo desta curta-metragem, que o silêncio é ele próprio, a única solução para uma qualquer época de uma qualquer sociedade mais ou menos contemporânea onde as liberdades se foram aos poucos perdendo. Actual? Demasiado, se pensarmos no estado em que se encontram as artes, a educação e a cultural no Portugal de 2013.
Sendo a arte uma forma de questionar o que não se percebe ou expôr um pensamento e uma ideia sobre aquilo que achamos ser representativo e ilustrativo do mundo em que vivemos, como fica essa mesma sociedade ao ser silenciada e impedida de questionar aquilo que à sua volta acontece, e onde a sua sobrevivência depende de um conjunto de elementos presentes mas não participativos numa trilogia de ver, calar e esquecer nunca questionando ou colocando a dúvida sobre aquilo que consideramos ser menos correcto?!
Fernanda Serrano que tenho vindo a apreciar desde as suas participações quase figurativas em programas televisivos e que me conquistou em absoluto com a sua personagem na telenovela Amanhecer, confirmando-se como um valor forte e seguro na representação, tem aqui mais uma das suas personagens consistentes como "Joana", a mulher que questiona a sociedade em que vive e que para se sentir presente, e principalmente viva, ousa fazer ouvir a sua voz... a "física" e a interior, e que por isso acaba por pagar com a sua própria liberdade (será que a tinha antes?), demonstrando assim que o seu corpo pode ser fisicamente aprisionado, mas nunca a sua mente e o seu pensamento, onde realmente reside a sua própria liberdade.
De destacar ainda a participação de Virgílio Castelo como o vilão (polido) e líder da tal elite que controla os destinos "culturais" daquilo que é próprio (ou não) de ver, e finalmente Pedro Pernas como "Miguel", marido de "Joana", também ele com os seus próprios segredos que esconde inclusivé da sua mulher.
Forte pela sua mensagem que, como referi, é infelizmente bem actual e pela segura interpretação de uma Fernanda Serrano que se afirma nesta produção cinematográfica, Som do Silêncio é uma curta-metragem que nos deixa vontade de ver mais, não só dos perniciosos caminhos de uma sociedade que se tornou totalitária como principalmente pelos desejos e segredos que a liberdade acarreta e que movem os poucos resistentes que nela vão sobrevivendo... em seu nome... e em nome de uma arte que afirma esses mesmos desejos.
.Encontramo-nos numa sociedade onde aparentemente a ordem é apenas alcançada através de uma lei totalitária... a lei do silêncio. Todas as pessoas estão assim impedidas de falar e toda a comunicação verbal é apenas uma lembrança na memória dos mais velhos.
É quando Joana (Serrano), investigadora de um museu (o de Arte Antiga) descobre um pequeno grupo dentro do museu onde discutem as variadas obras de arte que vêem a falar sobre as mesmas, que percebemos que afinal existe uma pequena elite a quem são permitidas infracções à lei.
Existirá ordem onde a liberdade não sobrevive? Ou será o desejo de ouvir a sua própria voz mais forte do que o medo em desobedecer a uma lei que todos sabem ser punitiva?
Paulo Grade, que além de realizar esta curta-metragem escreve igualmente o seu argumento, entrega-nos uma história que ironicamente está bem mais actual do que aquilo que poderíamos à partida imaginar. A lei do silêncio aqui aprovada mais não é do que, ela própria, um irónico retrato dos dias que vivemos onde existe uma estranha vontade de silenciar a "voz interior" de cada um de nós. Este momento socialmente conturbado onde as vozes que se insurgem contra uma qualquer "ordem" que oprime a criatividade se tentam silenciar, são aqui representadas pela "lei do silêncio" aprovada e como único garante dessa estabilidade bem como pelas obras de arte misteriosamente avaliadas por uma qualquer ordem que as tenta decifrar. Numa análise mais profunda a lei aprovada (pelo governo), impede o comum cidadão de comunicar, impedindo-o de contrariar abertamente qualquer medida que lhe pareça incorrecta, e dando apenas a uma pequena elite, que pode ou não ter os próprios planos dúbios e pouco claros, a liberdade (ou uma miragem dela) de analisar as mensagens secretas que a arte (a voz de alguém) em tempos quis transmitir.
Mas o argumento de Grade vai mais longe quando nos relata, através das suas próprias pequenas mensagens enviadas ao espectador ao longo desta curta-metragem, que o silêncio é ele próprio, a única solução para uma qualquer época de uma qualquer sociedade mais ou menos contemporânea onde as liberdades se foram aos poucos perdendo. Actual? Demasiado, se pensarmos no estado em que se encontram as artes, a educação e a cultural no Portugal de 2013.
Sendo a arte uma forma de questionar o que não se percebe ou expôr um pensamento e uma ideia sobre aquilo que achamos ser representativo e ilustrativo do mundo em que vivemos, como fica essa mesma sociedade ao ser silenciada e impedida de questionar aquilo que à sua volta acontece, e onde a sua sobrevivência depende de um conjunto de elementos presentes mas não participativos numa trilogia de ver, calar e esquecer nunca questionando ou colocando a dúvida sobre aquilo que consideramos ser menos correcto?!
Fernanda Serrano que tenho vindo a apreciar desde as suas participações quase figurativas em programas televisivos e que me conquistou em absoluto com a sua personagem na telenovela Amanhecer, confirmando-se como um valor forte e seguro na representação, tem aqui mais uma das suas personagens consistentes como "Joana", a mulher que questiona a sociedade em que vive e que para se sentir presente, e principalmente viva, ousa fazer ouvir a sua voz... a "física" e a interior, e que por isso acaba por pagar com a sua própria liberdade (será que a tinha antes?), demonstrando assim que o seu corpo pode ser fisicamente aprisionado, mas nunca a sua mente e o seu pensamento, onde realmente reside a sua própria liberdade.
De destacar ainda a participação de Virgílio Castelo como o vilão (polido) e líder da tal elite que controla os destinos "culturais" daquilo que é próprio (ou não) de ver, e finalmente Pedro Pernas como "Miguel", marido de "Joana", também ele com os seus próprios segredos que esconde inclusivé da sua mulher.
Forte pela sua mensagem que, como referi, é infelizmente bem actual e pela segura interpretação de uma Fernanda Serrano que se afirma nesta produção cinematográfica, Som do Silêncio é uma curta-metragem que nos deixa vontade de ver mais, não só dos perniciosos caminhos de uma sociedade que se tornou totalitária como principalmente pelos desejos e segredos que a liberdade acarreta e que movem os poucos resistentes que nela vão sobrevivendo... em seu nome... e em nome de uma arte que afirma esses mesmos desejos.
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