Utopia de Joana Maria Sousa é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos conta a história de uma jovem anónima (Ana Luísa Costa) que corre sem conseguir parar por entre um enigmático bosque que parece não ter fim.
Naquilo que parece uma assustadora alucinação, esta jovem passa de imediato para dentro de uma casa aparentemente abandonada, vazia e assustadora. Percebemos então que estamos perante um reflexo da sua própria mente e que nos encontramos num pesadelo tenebroso de Madalena (Io Franco) e que todas as representações que nos foram anteriormente mais não são do que a instabilidade em que se encontra a sua mente.
Joana Maria Sousa que além de realizar esta curta-metragem também escreveu o seu argumento, faz assim uma análise sobre os melindrosos caminhos da mente onde uma jovem receosa de uma liberdade que não tem sente dela medo e por isso corre sem parar num espaço que a sua mente retrata como um bosque amplo e livre, enquanto que dentro de uma casa sinistra, escura e abandonada se sente protegida, confortável e segura numa clara demonstração de como não há liberdade ou prisão maiores do que aquelas proporcionadas pela mente.
Interessante é também o facto da direcção de fotografia de Francisco Barbosa fazer realçar estes dois distintos universos através de uma exuberante captação de luz e cor em exteriores como imagem da liberdade da qual ela foge, e a quase total ausência de luz dentro da casa onde apenas funcionam os contrastes e variações de um azul sem expressão que nos mostram o quão confortável se sente aquela mente, independentemente de ser ou não um pesadelo que ela "vive", numa prisão que ela própria constrói enquanto dorme.
Merecedora de uma exploração e desenvolvimento mais aprofundados esta Utopia é, ainda assim, um interessante exercício sobre os limites auto-impostos por uma mente que receia a liberdade que lhe é inerente.
.
.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário