sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Ceia (2013)

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A Ceia de Duarte Guedes é uma curta-metragem de ficção portuguesa que tem de imediato um trunfo enorme que me fez querer vê-la... Filipe Duarte.
Um homem (Filipe Duarte) parece estar perdido no seu caminho. Conduz enquanto fala ao telefone à espera de indicações que parecem não chegar. Pára pelo caminho e espera conseguir perceber onde se encontra quando é abordado por um rapaz (Ricardo Ribeiro) que lhe pede alguma ajuda para comer.
Depois de uma amarga troca de palavras devido à frustração de um e à insistência de outro conjugadas, o rapaz agride o homem tirando-lhe depois a sua carteira e deixando-o à sua sorte. Mais tarde chega outro homem (Valdemar Santos) que, vendo o primeiro em aflição o ajuda e o leva para casa onde uma ceia parece curar os infortúnios de um dia complicado. Mas as surpresas não páram de acontecer...
O argumento de Pedro Crispim baseado numa história de Nuno Simões é um interessante desafio e reflexão sobre a natureza humana. Por um lado temos um homem (Duarte) que se mostra enervado e pouco paciente com quem se encontra do outro lado da linha e com quem insistentemente fala... por outro temos um rapaz (Ribeiro) de aparência tranquila e incapaz de prejudicar alguém que num acto de desespero agride o anterior para, pensamos nós, recolher alguns trocos que satisfaçam um qualquer vício que insiste em manter.
No entanto, é este mesmo argumento que nos mostra que nem tudo é tão linear como aparenta ser e que a bondade reside para além dos gestos e das acções que definem os outros. A interpretação que é talvez mais sentida e que se encontra no meio das duas anteriormente referidas é aquela tida por um inspirada Valdemar Santos como o homem que no decurso da sua humilde vida pára para ajudar uma alma perdida e que não se recorda de quem é partilhando com a mesma o pouco que tem. Nunca é demais poder ajudar aqueles que estão pior do que nós, pensa.
A surpresa maior surge quando no decurso da incursão do primeiro homem (Duarte) na casa do segundo (Santos) e que percebemos que a humildade, a verdadeira, povoa os lares e o coração de alguns homens que insistem em ser bons mesmo quando à sua volta tudo parece querer tentá-los a enveredar por caminhos menos próprios e cheios de tentações que espreitam de todos os lados prontas a tomar as suas almas. Mas aqui a boa vontade e a disponibilidade para ajudar o próximo são as mensagens principais que um argumento e uma história inspirados e humanos insistem em mostrar-nos que, afinal, o bem existe e também está pronto a recolher umas quantas almas.
No entanto não ficamos por aqui e temos ainda outra mensagem interessante prestes a ser revelada... Aquele homem perdido e que no decurso de uma agressão fica temporariamente amnésico é acolhido por um homem de bem que desconhece os hábitos de sobrevivência do seu filho mas a questão que se coloca é... até que ponto aquele homem está realmente amnésico quando aparentemente e voluntariamente decide ignorar conhecer a carteira que lhe foi roubada? Até que ponto está a sua anterior vida tão boa que ele preferida permanecer num local em que foi recebido e acolhido de braços abertos por uma família que tem tão pouco mas, ainda assim, decide com ele partilhar parte desse pouco no calor daquilo que aparenta ser uma família com alma, unida e com um sentido de pertença mais forte do que aquele que ele alguma vez teve (ou terá)?
Não só estruturalmente bem elaborada pela sua história que, a meu ver, até poderia ser desenvolvida para uma longa-metragem que nos revelasse um pouco mais da vida passada destas personagens, como também é uma forte curta no que diz respeito aos desempenhos de um coeso conjunto de actores onde tenho de destacar não só a sempre intensa participação de um grande Filipe Duarte como também de um dramático e bondoso Valdemar Santos que se torna na alma do filme, ou de um Ricardo Ribeiro que se assume como uma revelação pela dose de comédia mordaz que consegue incutir na sua personagem já bem perto dos seus instantes finais.
Finalmente posso ainda destacar a igualmente bem executada direcção de fotografia de Andrea Azevedo que em comunhão com a direcção de arte de Nuno Simões conseguem conjugar a escassez de luz captada nos interiores com uma decoração parca e pobre, revelando-nos assim o ambiente humilde e recatado daquela família e das suas posses que chegam, no entanto, para compôr um triângulo familiar unido e disponível entre si que é abrilhantado com uma inspirada música de José Ruy Ribeiro que dramatiza todo o ambiente mais íntimo deste filme.
Duarte Guedes dirige assim uma forte curta-metragem da qual poderia resultar uma longa intensa que reunisse elementos fundamentais do drama e que facilmente se conseguiria inserir e retratar a sociedade contemporânea em que vivemos que esconde e omite muitos dos problemas que a fazem "mover". Numa palavra... excelente.
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9 / 10
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