Fruitvale Station de Ryan Coogler é um dos filmes mais aguardados para esta temporada de prémios que está prestes a iniciar e que passa agora no Lisbon & Estoril Film Festival em duas sessões no Monumental e no Centro de Congressos do Estoril.
Esta história cujo argumento é assinado por Ryan Coogler centra-se nos factos verídicos ocorridos a 31 de Dezembro de 2008 quando Oscar Grant (Michael B. Jordan) depois de um dia onde faz as pazes com o seu passado decidido a construir um futuro melhor para si e para aqueles que o rodeiam, se vê envolvido em trágicos e inesperados acontecimentos que iriam transformar a vida de todo um conjunto de pessoas que com ele privavam. Encontros e pessoas essas que mostram que existe muito mais para saber sobre Oscar do que os meros acontecimentos que marcaram o seu passado.
Fruitvale Station é aparentemente mais um daqueles filmes que decidem partilhar a vida de um qualquer tipo que uns odeiam e de quem outros desejam gostar. Oscar Grant de seu nome é um homem como tantos outros, detentor de uma vida banal mas que numa dada altura do seu passado esteve envolvido em esquemas menos lícitos e pelos quais pagou cumprindo o seu tempo na prisão. Filho de uma mulher que lutou para ter os seus dois filhos com uma vida digna e sem privações, pai de uma jovem menina com um mundo pela frente e que tenta afastar dos mesmos caminhos que outrora seguira, Oscar tenta ainda manter uma relação com a sua companheira que a cada dia que passa perde a credibilidade que havia em tempos visto nele.
Tudo isto acontece em menos de vinte e quatro horas do último dia de 2008. O mesmo dia em que a sua mãe faz anos, no qual se livra definitivamente do passado de traficante, em que finalmente encontra uma qualquer redenção com a sua companheira e no qual estabelece uma relação duradoura com a sua filha que vê nele o exemplo de alguém que, na sua tenra idade, percebe ir defendê-la de tudo e todos. O mesmo dia em que finalmente decide abraçar uma vida que, independentemente de lhe poder vir mostrar todos os precalços e contratempos, sabe que também lhe irá reservar momentos bons, cheios de esperanças que pretende ver cumpridas e um dia poder dizer que viveu uma boa vida.
Ryan Coogler realiza e escreveu este argumento baseado em factos reais de uma forma que caso não se conhecesse a história, nos conseguiria cativar e dar a perceber que aos poucos a sua vida e as suas oportunidades vão finalmente sorrir-lhe. Simpatizamos naturalmente com este tipo que poderia facilmente ser um nosso amigo, um nosso irmão ou um colega de trabalho com o qual sabemos que podemos contar e que dentro das suas possibilidades ele está lá disponível e com uma palavra certa.
É quando esta aparente harmonia nos parece conquistar que algo nos faz perceber que nada é assim tão perfeito e bem intencionado como aquilo que nos poderíamos esperar, e finalmente percebemos que o mundo real tem as suas partidas que nos fazem (des)esperar por acontecimentos que não chegarão a concretizar-se e é quando Oscar se encontra a encher o depósito de gasolina que um acontecimento específico nos faz perceber que o que o espera não pode ser bom.
Este filme, que poderia facilmente chamar-se "As Últimas Doze Horas de um Homem" mais não é do que um sentido e por vezes emocionante retrato de um homem que decidiu a tempo poder dar o devido rumo à sua vida, encontrar uma qualquer redenção com aqueles que o rodeiam e provar que é realmente o amigo com quem todos podem contar. Michael B. Jordan, emocionante na sua igualmente sentida composição de "Oscar Grant", consegue colocar-se como um dos actores do momento que irá certamente ser muito referenciado nesta temporada de prémios que agora se aproxima, e aproximar-nos de uma "personagem" que poderia ter tudo para o caracterizarmos como "mais um". No entanto, personagem essa que se diferencia por ao longo do filme mostrar que encontrou o caminho para fazer de uma vida simples um desempenho marcante e ainda que Fruitvale Station não seja o melhor filme do ano, não deixa de se posicionar como uma denúncia sobre uma injustiça por resolver que apesar de envolto numa aura de paz nos prepara para a tragédia de uma vida que iria marcar não só aqueles que mais directamente com ele privavam como também toda uma comunidade que se sente e percebe frágil e indefesa quando confrontada com o preconceito racial ao mesmo tempo que se afasta do tradicional filme de gang urbano refugiado na marginalidade de um qualquer bairro para mostrar que pessoas simples com um passado menos tranquilo podem querer modificar a sua vida mas que vivem sempre com o estigma deixado na mesma.
Fruitvale Station é um filme linear, com um enredo já conhecido do espectador através de um conjunto de obras do género e que como tal não trazem nenhum elemento inovador, e que essencialmente fica na memória por um marcante e sentido desempenho de Michael B. Jordan, à volta de quem aliás tudo acontece e uma música original de Ludwig Göransson que nos prepara para os acontecimentos demonstrando que, embora inevitáveis, servem para marcar vidas que estamos destinados a conhecer e que o preconceito, embora por vezes mascarado, existe e persiste dentro de muitos de nós.
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8 / 10
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